A tortura de uma virgem vestal de Henri Pierre Danloux - Getty Images
Coluna

Doença da virgem, curada com sexo

Descrita no século 16, a chamada doença das virgens tinha uma gama de sintomas vagos

Hellen King Publicado em 30/12/2019, às 08h32

Virgindade feminina, como costumam dizer, é mais uma condição psicológica do que física. Não é algo que pode ser perdido ou tirado. Mesmo que nem todas as mulheres tenham hímen, e raramente isso seja uma grande barreira, o conceito técnico de virgindade ainda se baseia na ocorrência de penetração vaginal feita por um pênis. E cirurgias de reconstrução ainda são feitas, por exemplo, no Irã.

Olhando para a história europeia, o hímen sempre foi uma marca definitiva da virgindade? Um escritor do século 14, comentando no livro Dos Segredos das Mulheres, nomeia o hímen como o guardião da virgindade. Isso resgata uma antiga ideia cristã de que a virgindade era tanto espiritual como física. Virgindade era algo mais que um hímen — e era possível ser virgem na alma mesmo que não fosse virgem de corpo.

Nos séculos 16 e 17, o hímen já levantava questões por toda parte. No Livro das Parteiras (1671), a parteira Jane Sharp escreveu em apenas uma página que “sangramento é um sinal indiscutível da virgindade perdida” e que “sinal de sangramento às vezes não é completamente certo”.

Já para escritores do início da era moderna, o enfoque era bem diferente. Descrita primeiramente no século 16, a chamada doença das virgens tinha uma gama de sintomas vagos: tontura, falta de ar, hábitos alimentares estranhos. Atribuídos ao sangue que não conseguia sair do corpo.

Surpresa, surpresa: enquanto a sangria poderia ajudar, a melhor cura era fazer sexo. O ato seria capaz de abrir o corpo e fazer circular o sangue retido. É interessante que a ideia de uma doença funcionasse para aqueles que acreditavam no hímen como uma barreira, e para aqueles que não acreditavam. Estes últimos pensavam que o problema era outro, o de pequenas bocas internas que faziam com que o sangue de todo o corpo fosse primeiro para o útero.

Se você tivesse a doença das virgens, sua cor de pele estava fadada a ser bem pouco atraente, na maioria das vezes um tom de verde, ou bem pálida — o que não ajudava em nada a suas chances de se casar. Essa é uma possível razão pela qual essa condição era também chamada de doença verde.

Enquanto os médicos faziam alertas terríveis das consequências de não se casar logo que a menstruação começasse, por volta do século 18 pessoas comuns contavam piadas sobre a doença das virgens. Em uma balada de 1705, Enfield Common, uma sofredora é curada por um galante luxurioso que consegue “aliviá-la e satisfazê-la totalmente”. Ele explica:

"Então, com ela deitada lá, uma dose eu lhe dei, Ela confessa, sem delongas, que sua doença eu tirei."

Quando a virgindade — com hímen ou não — era uma doença, sexo (preferivelmente matrimonial) era a única solução. Algumas mulheres pensavam que poderiam ter uma recorrência se não tivessem filhos. E certos autores achavam que mesmo homens afeminados poderiam sucumbir à doença. Para a maioria dos casos, a relação sexual resolveria o problema. Se esse conjunto de sintomas aparecesse em uma garota com idade para casar, o único diagnóstico possível era a doença das virgens.


Por Hellen King, professora emérita de Estudos Clássicos em The Open University, tendo atuado nas universidades de Oxford e Reading.


+Saiba mais sobre a sexualidade através dos anos com os livros abaixo

Prazeres e pecados do sexo na história do Brasil, Paulo Sérgio do Carmo (2019) (eBook) - https://amzn.to/2Z3s0qD

O Livro do Amor, Regina Navarro Lins (2012) - https://amzn.to/38QZj4D

Momentos Na História Da Sexualidade, Jan Bremmer (2009) - https://amzn.to/2rKlEjT

História da sexualidade, Michel Foucault (2014) - https://amzn.to/34Bkbd6

Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso, assinantes Amazon Prime recebem os produtos com mais rapidez e frete grátis, e a revista Aventuras na História pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links nesta página.

Idade Moderna História mulheres sexualidade Sexo Casamento doença coluna bizarro hímen doença das virgens

Leia também

Taj Mahal Palace: Alvo de um atentado terrorista, hotel virou campo de guerra


Atentado ao Hotel Taj Mahal: 5 coisas para saber sobre a história real do filme


O Caso Asunta: Veja a verdadeira história por trás da série da Netflix


Bebê Rena: Veja 5 diferenças entre a série e a história real


O Caso Asunta: O que aconteceu com os pais de Asunta Basterra Porto


O que aconteceu com a McLaren que Senna ganhou em aposta?