'O Nascimento de Vênus', de Sandro Botticelli - Domínio Público via Wikimedia Commons
Arte

O que representaria o fascinante quadro 'O Nascimento de Vênus'

Uma das obras mais esplêndidas de Sandro Botticelli, 'O Nascimento de Vênus' fascina gerações

Éric Moreira Publicado em 16/05/2023, às 15h36 - Atualizado em 24/01/2024, às 16h06

Um dos períodos históricos que a humanidade mais presenciou o surgimento de impressionantes obras de arte é o conhecido como Renascimento (entre os séculos XIV e XVI). E de fato, pinturas como 'Mona Lisa', de Leonardo da Vinci, ou mesmo 'A Criação de Adão', que ocupa o teto da Capela Sistina pintado pelo quase divino Michelangelo Buonarroti são lembradas até hoje o tempo todo, já se tornando grandes marcos da época.

Foram, inclusive, algumas produções artísticas desse período que ditaram o novo imaginário coletivo sobre diversos símbolos. Afinal, quando pensamos no herói bíblico Davi, quem não se recorda da icônica e detalhada estátua de Michelangelo?

Uma característica forte do Renascimento é o resgate ao classicismo greco-romano, e por isso diversas de suas figuras, personagens e deuses são retratados no período. E unindo tudo isso, se encontra em meio a esse movimento artístico a pintura 'O Nascimento de Vênus', do italiano Sandro Botticelli.

'O Nascimento de Vênus', obra mais famosa de Sandro Botticelli / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

Nascimento da deusa

Utilizando a técnica de têmpera sobre tela, o italiano Alessandro di Mariano di Vanni Filipepi — mais conhecido somente como Sandro Botticelli — criou, entre 1445 e 1446, 'O Nascimento de Vênus'. Não se sabe exatamente quem encomendou o quadro, visto que os pintores da época trabalhavam muito dessa forma, mas sabe-se que pertenceu aos irmãos e políticos Giovani e Lorenzo di Pierfrancesco de Medici, depois seus descendentes, até que foi comprada, em 1815, pela Galeria degli Uffizi, onde está até hoje.

A pintura retrata o fatídico momento de nascimento da deusa Venus (ou Afrodite, para os que preferem os nomes gregos), a divindade do amor e da beleza na tradição greco-romana. De acordo com o Info Escola, possivelmente Botticelli tomou como referência para a criação os versos dos poetas Homero e Ovídio, que narram o nascimento dessa importante figura.

De acordo com as lendas, Cronos (ou Saturno, para os romanos), deus do tempo e rei dos titãs, luta contra seu pai, Urano, o mata e, digna de qualquer lenda dramática e trágica grega, castra-o. Após isso, atira ao mar o pênis e os testículos de seu pai, que ali ejacula. E desse contato do sêmen de Urano com a espuma do mar, surgiu Afrodite (que, depois que adotada pelos romanos, também seria conhecida como Vênus). 

'A mutilação de Urano por Saturno', de Giorgio Vasari / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

E o momento retratado por Botticelli em sua emblemática pintura é justamente o imediato após o surgimento de uma bela mulher da espuma das águas do mar: é possível apreciar Vênus emergindo das águas, saindo de uma concha, sendo empurrada para a margem pelo deus do vento Zéfiro, e recebendo de uma das deusas das estações um manto bordado de flores.

Belas imperfeições

Um diferencial entre 'O Nascimento de Vênus' e outras pinturas do Renascimento, que muitos poderiam associar como um problema na época, é o fato de não revelar o realismo clássico que Michelangelo, por exemplo, empregou em 'David'.

Seu pescoço é irrealisticamente comprido, enquanto seu ombro esquerdo se encontra em uma posição anatomicamente improvável; mas ainda assim, a representação da deusa da beleza é digna, e não deixa de ser bela.

Em Florença, onde Botticelli viveu toda sua vida, a beleza era considerada divina. E por causa disso, estranhamente a bela obra não foi do agrado de todos.

Autorretrato de Sandro Botticelli / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

Paganismo

Uma das críticas mais fortes recebida pelo florentino foi devido ao seu forte efeito de paganismo. Pintada em uma época em que a maioria das produções artísticas envolvia temáticas cristãs, 'O Nascimento de Vênus' destoou de muitas outras produções, trazendo uma imagem bela — logo, divina — de um ícone pagão.

Felizmente, o quadro se safou de servir de combustível para as fogueiras do pregador dominicano Savonarola, que instigou a destruição de obras com "influências pagãs" entre 1494 e 1498.

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