Imagem meramente ilustrativa de um pedaço de pizza - Pixabay
Estados Unidos

Pizzagate: a mentira que influenciou a penúltima eleição presidencial dos EUA

Fake News ligava uma rede de pizzaria a um suposto esquema de exploração infantil de Hillary Clinton

Fabio Previdelli Publicado em 08/10/2020, às 18h19 - Atualizado em 01/05/2022, às 13h33

Em março de 2016, o Wikileaks — famoso site por vazar documentos sigilosos do governo norte-americano —, divulgou alguns e-mails do gerente da campanha de Hillary Clinton, John Podesta. Na ocasião, Hillary concorria com Donald Trump nas eleições americanas. Em um dos e-mails, segundo o The New York Times, Podesta conversa com James Alefantis, dono da pizzaria DC Comet Ping Pong, sobre uma possível arrecadação de fundos para a campanha de Clinton.

Em um primeiro momento, nada de errado foi notado nas mensagens, mas, tempos depois, usuários do Reddit e do 4Chan começaram a especular que os correios eletrônicos se tratavam de mensagens secretas sobre a ligação entre o Cometa Ping Pong e o Partido Democrata em uma rede de pedofilia e tráfico sexual de menores, que teria a pizzaria como sede e Clinton e Podesta como líderes.

Codimes e o esquema de tráfico de menores

Para eles, tudo estava claro, o termo “cheese pizza” (ou pizza de queijo, em tradução livre) era um codinome para “child pornography” (pornografia infantil), devido a coincidência entre as inicias dos dois jogos de palavras.

Hillary Clinton durante campanha presidencial / Crédito: Wikimedia Commons

 

Além do mais, os conspiracionistas diziam que quando a palavra pizza era usada sozinha em uma frase, ela se referia a meninas; já os meninos eram substituídos pelo código hot-dog. A palavra sauce (molho), seria um meio usado para substituir a palavra orgia.

Com todas essas “pistas” na mesa, cada vez mais e mais usuários passaram a acreditar que os abusos se passavam nos porões da pizzaria Comet Ping Pong em Washington. Afinal, Tony Podesta, irmão de John e importante lobista da capital, era frequentador assíduo do local e também o responsável por apresentar o dono do restaurante, James Alefantis, ao alto escalão dos Democratas.

Os e-mails mostram que John Podesta e Alefantis planejavam, há tempos, um jantar para arrecadar investimentos para a campanha de Hillary naquele ano.

Tudo isso era calcado por inúmeras referências ocultas, mas que eram muito claras para quem já estava convencido do esquema: primeiro, as paredes do Comet Ping Pong eram pintadas por Arrington de Dionysio, artista plástico que comumente pinta pessoas nuas, cenas de sexo e violência.

Segundo ponto, o cardápio do local teria um símbolo praticamente idêntico com aqueles usados por pedófilos que querem demonstrar suas preferencias sexuais em redes obscuras da internet como a Deep Web.

Michael Flynn chegou a tuitar sobre o caso Pizzagate / Crédito: Divulgação/ YouTube/ CBS Evening News

 

Como se isso já não bastasse, Alefantis tinha um conteúdo bastante controverso em seu Instagram, como diversas fotos de crianças em situações incomuns e em uma publicação onde ele aparece com uma camiseta com os dizeres: “J’ <3 L’Enfantes (“Amo as crianças”, em francês).

A partir daí, diversos site como Planet Free Will e The Vigilant Citizen começaram a dar voz para essa teoria — que se tornavam cada vez mais populares com o impulso das redes sociais. A publicação chegou até Michael Flynn, general reformado indicado a conselheiro de segurança nacional do presidente Donald Trump, que usou seu Twitter para divulgar as atrocidades que aconteciam na pizzaria.

Tragédia — quase fatal — anunciada

O caso atingiu seu ápice em 4 de dezembro de 2016, quando Edgar Welch entrou armado no Comet Ping Pong disposto a investigar por conta própria a suposta rede sexual de menores que era bancada pelo restaurante.

Welch chegou a disparar três vezes, mas, por sorte, ninguém foi atingido. Imobilizado por policiais, seu maior choque foi chegar a prisão percebendo que não havia nada de errado com o estabelecimento.

Edgar Welch entrou armado em um Comet Ping Pong e acabou sendo preso / Crédito: Divulgação/ YouTube/ CBS Evening News

 

Antes disso, o Distrito da Colúmbia chegou a investigar as acusações, mas nenhuma evidência foi encontrada. Já o FBI sequer chegou a se mobilizar por falta de provas contundentes. Um repórter do The New York Times também visitou o local, constatando que não havia nenhuma irregularidade por lá.

Posteriormente, foi descoberto que a Teoria foi impulsionada por sites de extrema-direita defensores de Donald Trump, que eram capazes de tudo para difamar a candidata que concorria contra o Republicano.

Michael Flynn apagou todos os Tweets em que falava sobre o caso Pizzagate. Já seu filho acabou insistindo em sua verocidade e acabou sendo demitido da equipe de transição do governo de Trump.

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