Sir Nichloas Winton: Ficção e realidade - Reprodução/Vídeo e Getty Images
Nicholas Winton

Uma Vida: 5 coisas para saber antes de assistir ao filme sobre Nicholas Winton

Da origem judaica ao emocionante reconhecimento na televisão: conheça Nicholas Winton, o britânico que ajudou a salvar 669 crianças no prelúdio da 2ª Guerra

Fabio Previdelli Publicado em 13/03/2024, às 19h00

Nesta quinta-feira, 14, chega aos cinemas brasileiros o filme 'Uma Vida: A História de Nicholas Winton', que conta a história do britânico que ajudou a salvar 669 crianças judias da morte certa nos momentos que antecederam o início da Segunda Guerra Mundial. 

+ Nicholas Winton, o homem que salvou 669 crianças dos horrores do Holocausto

"Em 1938, Winton visitou Praga e se deparou com famílias vivendo em condições extremamente precárias e sob a constante ameaça de uma invasão nazista. Em uma corrida contra o tempo, Winton e um improvável grupo de apoio trabalharam incansavelmente para resgatar o maior número de crianças possível antes do fechamento das fronteiras", diz a sinopse do longa, distribuído pela Diamond Films. 

 

"Cinquenta anos depois, em 1988, Winton vive assombrado pelo destino das crianças que não conseguiu levar em segurança para a Inglaterra. Somente após um reencontro surpreendente com algumas dessas pessoas resgatadas, ele finalmente começa a se reconciliar com a culpa e o sofrimento que carregou por cinco décadas", continua a descrição. 

'Uma Vida: A História de Nicholas Winton' é baseado na obra homônima escrita por Barbara Winton, publicada no Brasil pela editora Cultrix. Antes de assistir ao filme, a equipe do site do Aventuras separou cinco coisas essenciais que você precisa saber sobre a vida de Nicholas Winton

1. Filho de judeus

Filho de pais judeus-alemães que imigraram para a Grã-Bretanha no início do século 20, Nicholas Wertheimer nasceu em Londres em 19 de maio de 1909. Como parte da integração na comunidade britânica, sua família mudou de sobrenome e adotou Winton. Eles também se converterem ao cristianismo e Nicholas foi batizado. 

Corretor da bolsa de valores de Londres, Winton era "um socialista ardente que se tornou próximo dos luminares do Partido Trabalhista Aneurin Bevan, Jennie Lee e Tom Driberg", descreve o The Guardian. 

Ele também fez parte de um círculo de esquerda que se opunha ao apaziguamento e se preocupava com a ameaça que os nazistas representavam.

Segundo seu site oficial, durante a escola, Nicholas se tornou um excelente esgrimista (no florete e na espada), chegando a ser selecionado para a equipe britânica em 1938. Como resultado, ele esperava competir nos Jogos Olímpicos de 1940, no entanto, a competição foi cancelada devido à Segunda Guerra.


2. Kindertransport 

Pouco antes do Natal de 1938, quando Winton tinha cerca de 29 anos, ele planejava passar suas férias esquiando na Suíça, entretanto, após o pedido de um amigo, mudou o trajeto até praga para ajudar o Comitê Britânico para Refugiados da Tchecoslováquia — país que estava em processo de ocupação pela Alemanha nazista. 

Winton passou um mês no país, retornando à Inglaterra seis semanas antes da ocupação alemã. Após a Noite dos Cristais Quebrados, a Câmara dos Comuns aprovou uma medida que permitia a entrada de refugiados na Grã-Bretanha com menos de 17 anos, desde que tivessem um lugar para ficar e uma garantia de £50 fosse depositada, por pessoa, para garantir seus eventuais retornos aos seus países de origem.

Chegada de crianças judias refugiadas ao porto de Londres - Bundesarchiv

 

Com todos os trâmites, Nicholas Winton ajudou a resgatar 669 crianças que fugiram de trem — numa operação chamada de Kindertransport. Em sei país natal, ele e sua mãe, Bárbara Winton, recebiam os refugiados e encontravam novos lares para essas crianças.


3. Vagão perdido

As 669 vidas foram salvas por meio de oito trens que partiram de Praga com destino à Londres. O número, porém, poderia ter sido maior. Quando os nazistas invadiram a Polônia, em 1º de setembro de 1939 (o que marca o início oficial da Guerra), o translado se tornou inviável. 

Como resultado, um trem que ajudaria mais de 250 crianças jamais chegou ao seu destino. Como consequência, nenhuma delas sobreviveu aos horrores dos nazistas. 

Cópia do documento que detalha a operação - Reprodução/Nicholas Winton

"Pensa-se que quase todas as crianças que deveriam partir naquele comboio foram eventualmente enviadas para o campo de concentração de Terezin, a norte de Praga, e mais tarde para Auschwitz", explica a biografia presente no site oficial de Winton.

Em primeiro momento, Winton chegou a recusar ser recrutado pelo Exército Britânico, mas, em 1940, ele ingressou na Força Aérea Real e se tornou piloto pelos anos seguintes. Após o conflito, ele se casou, teve filhos e continuou vivendo normalmente. Foi nessa fase que Nicholas passou a trabalhar com causas relacionadas aos direitos humanos. 


4. That’s Life

O ato heroico de Nicholas Winton ficou esquecido na história por mais de meio século. Somente em 1988, sua esposa, Grete, encontrou o álbum de recortes, no porão de sua casa, com detalhes da operação que o marido participou. 

O arquivo continha uma lista com fotos e informações sobre as crianças, o nome de seus pais e o endereço das famílias que os acolheram no Reino Unido. Conforme aponta o The Guardian, o álbum foi dado para Elisabeth Maxwell, pesquisadora do Holocausto. 

O mundo conheceu o passado de Winton em fevereiro de 1988, quando ele participou do programa da BBC chamando That’s Life. Na ocasião, o álbum de recortes foi mostrado. Além disso, a produção levou uma pessoa resgatada por Nicholas para conhecê-lo. 

Em uma participação posterior, a plateia foi formada unicamente por resgatados pelo britânico. "Se alguém na plateia teve a vida salva por Nicholas Winton, fique de pé, por favor", disse a apresentadora Esther Rantzen.

Instantaneamente, as pessoas ao se redor se levantaram e começaram a aplaudi-lo. O momento se tornou um dos mais comoventes da história da televisão britânica. Os sobreviventes identificados passaram a ser conhecidos como 'Os Filhos de Winton'.


5. Não sou herói

Em uma entrevista repercutida pelo G1, em 2007, quando Nicolas tinha 96 anos, o repórter Geneton Moraes Neto perguntou o motivo de ele ter guardado segredo por todo esse tempo. "Eu não fiquei em silêncio, apenas eu não tinha o que dizer sobre o que fiz", respondeu.

Não me vejo como um herói, para ser herói, alguém precisa fazer algo de perigoso. Eu não fiz. O que fiz foi algo que os outros achavam impossível, mas eu tinha de tentar, para saber se eu conseguiria ou não". 

"Mas fazer algo que todos consideram impossível não é um ato heroico?", indaga a entrevista. "Não é um ato heroico, meu lema é: 'Se algo é obviamente impossível, então deve haver uma maneira de fazer'". 

Em 2003, ele foi nomeado como cavaleiro pela rainha Elizabeth II. Uma década depois, acabou condecorado com a mais alta honraria da República Tcheca, a Ordem do Leão Branco. Sir Nicholas Winton faleceu em 1º de julho de 2015, aos 106 anos, enquanto descansava tranquilamente em sua cama.

Ainda na entrevista, ele refletiu: "Aprendi que nossa vida não é o que a gente espera. Todas as coisas importantes acontecem por acaso. Aconteceu de eu estar na Tchecoslováquia na hora certa. Tive a ideia certa de resgatar as crianças quando todo mundo achava que nem valeria a pena tentar". 

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