Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Curiosidades / Egito Antigo

O mistério das múmias de babuínos do Egito Antigo

Um recente estudo apontou uma nova teoria sobre os babuínos mumificados encontrados em 1905

por Giovanna Gomes

ggomes@caras.com.br

Publicado em 09/11/2023, às 18h14

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Múmia de babuíno encontrada no Egito - Divulgação/Museu Britânico
Múmia de babuíno encontrada no Egito - Divulgação/Museu Britânico

De acordo com um novo estudo, um antigo enigma egípcio envolvendo babuínos mumificados pode ter sido finalmente desvendado.

A pesquisa, que foi publicada na revista científica eLife, apresentou evidências que sugerem que dois lendários centros comerciais — conhecidos como Punt e Adulis — podem ter sido, na verdade, o mesmo lugar, com nomes diferentes e em épocas diferentes.

Os pesquisadores chegaram a essa conclusão enquanto analisavam o DNA dos antigos babuínos mumificados a fim de determinar sua origem.

Oferendas

Na cultura egípcia antiga, os babuínos, assim como outros animais, eram mumificados como oferendas aos deuses após a morte.

No entanto, como menciona o portal Newsweek, não existem registros de babuínos selvagens no Egito, e não há evidências que sugiram que esses animais estavam presentes no passado.

É provável que esses macacos tenham sido importados de regiões distantes e mantidos em cativeiro, no entanto, a origem precisa desses animais tem sido uma incerteza para os especialistas.

Crânio de babuíno encontrado por egiptólogos / Crédito: Divulgação/Museu Britânico

A grande descoberta

Uma dupla de egiptólogos da França descobriu, no ano de 1905, restos de babuínos mumificados, incluindo 17 crânios e uma abundante quantidade de ossos, em um local chamado Gabbanat el-Qurud, também conhecido como "Vale dos Macacos." Eles identificaram esses babuínos como pertencentes às espécies Papio anubis e Papio hamadryas.

Dentre os restos mortais, havia ossos enterrados em jarros, sarcófagos ou caixões de madeira. Um dos animais mumificados, que atualmente está no Musée des Confluences em Lyon, França, teria vivido por volta de 800-500 a.C. Além disso, acredita-se que os outros espécimes na coleção tenham uma idade semelhante.

Estudo anterior

Conforme relata a fonte, um estudo anterior, publicado em 2020 na revista eLife, desvendou que babuínos ainda mais antigos, originários da antiga cidade de Tebas, datados do final do Império Reino (aproximadamente dos séculos 16 e 11 a.C.), provavelmente tinham suas origens na região do Chifre da África, que englobava Etiópia, Eritreia, Djibuti e Somália.

Os pesquisadores responsáveis pelo estudo mais recente conseguiram extrair o DNA de um dos babuínos mumificados encontrados em Gabbanat el-Qurud. Posteriormente, eles repetiram o procedimento com diversos espécimes de babuínos "históricos" que tem entre 100 e 150 anos, cujas origens eram conhecidas.

A equipe concluiu, após análise comparativa, que o babuíno mumificado que foi objeto de estudo pertencia, provavelmente, a uma população que habitava uma área específica na costa da Eritreia, onde se acredita que o porto de Adulis — um relevante centro comercial — tenha existido nos tempos antigos.

Escavações no local onde teria sido o porto de Adulis / Crédito: Wikimedia Commons/David Stanley

Esse porto floresceu entre os séculos I e VII d.C., conforme mencionado por historiadores greco-romanos, que destacaram a região como uma fonte de animais vivos, incluindo babuínos, destinados ao Egito durante o período ptolomaico. Esse período iniciou-se em 305 a.C. e perdurou até 30 a.C., seguindo a conquista do Egito por Alexandre, o Grande, e o subsequente governo da dinastia macedônia grega ptolomaica.

Adulis e Punt

As descobertas recentes confirmam relatos de historiadores greco-romanos da antiguidade que mencionavam Adulis como uma fonte de babuínos. No entanto, o babuíno de Gabbanat el-Qurud, que foi estudado, parece anteceder o período ptolomaico em séculos, sugerindo que Adulis já existia como um centro comercial entre cerca de 800-500 a.C.

Além disso, as descobertas permitiram que os pesquisadores estabelecessem uma conexão entre Adulis e a lendária Terra de Punt, que se acredita ter existido em uma região ao sul e leste do Egito.

Punt era, conforme a revista Newsweek, um reino lendário mencionado em antigos registros comerciais egípcios que exportavam bens de luxo para o Egito, incluindo incenso e babuínos, de cerca de 2500 a.C. até o início do primeiro milênio a.C. No entanto, a localização de Punt permanece incerta, em parte devido à falta de registros após o início do primeiro milênio a.C.

Entretanto, existem duas inscrições incompletas, atribuídas à 26ª dinastia do antigo Egito (664-525 a.C.), que fazem menção a Punt em um contexto narrativo. Uma dessas inscrições descreve uma expedição a Punt.

Os autores sugerem que talvez não seja coincidência o fato de a data dessa inscrição corresponder ao intervalo de datas dos babuínos mumificados encontrados em Gabbanat el-Qurud.

Considerando os resultados que conectam o babuíno mumificado à região da Eritreia, e levando em consideração o registro de Punt, assim como Adulis, como uma fonte de babuínos para os egípcios, os autores do estudo afirmam que essa pesquisa fortalece a especulação de que os dois centros comerciais eram, essencialmente, o mesmo local, separados por séculos de história.