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Notícias / Pré-História

Cerveja de 13 mil anos indica que a civilização começou pelo álcool

Achado agora, o álcool mais antigo feito pela humanidade pode ser a razão da invenção da agricultura, segundo arqueólogos

Fábio Marton Publicado em 13/09/2018, às 16h22 - Atualizado às 18h48

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Uma combinação ancestral - iStock
Uma combinação ancestral - iStock

É um caso de o ovo ou a galinha: quem veio antes, a cerveja ou a civilização? Cerveja é feita de cereais e cereais são a marca registrada do que conveio-se chamar de “civilização”*: sociedades agrícolas que permitem a existência de cidades fixas, levando a proprietários rurais, exércitos, reis e palácios. Mas cereais eram conhecidos antes da agricultura - obviamente, era preciso saber que uma espécie era útil antes de começar a cultivá-la.

Um grupo liderado pela arqueóloga Li Liu, da Universidade Stanford (EUA), acredita ter encontrado fortes indícios de que a cerveja existia antes da agricultura, por volta de 13 000 anos atrás. Segundo os autores do estudo, eles estão apresentando “a mais antiga evidência de álcool feito pelo homem”. 

O achado se deu na caverna Raqefet, em Israel, sítio ligado à chamada cultura nartufiana, caçadores-coletores do final do Paleolítico, que viveram a transição para o Neolítico, com evidências de agricultura e o modo de vida urbana se desenvolvendo. Os arqueólogos fizeram uma análise microscópica de morteiros (a parte de baixo do pilão) na caverna funerária. Neles acharam fitólitos, partículas petrificadas de plantas. E a composição desses fitólitos indicou a fermentação de cevada e trigo maltados.

Eles até fizeram uma experiência para recriar a receita. Maltaram os grãos – isto é, deixaram germinar e depois os secaram ao sol. Então os esmagaram, misturaram com água e aqueceram a 66º C. Adicionaram fermento biológico (leveduras) e deixaram a mistura descansar por um dia. O resultado era quimicamente quase idêntico ao que encontraram na caverna, mas seria melhor descrito como “mingau alcóolico” que uma cerveja moderna. 

A teoria dominante tem sido de que a cerveja é uma consequência da criação da domesticação dos grãos, a criação da agricultura. Mas a descoberta reforça a teoria oposta, a de que o interesse pelos grãos fermentados pode ser o que levou à domesticação dos grãos. “A produção de álcool e o armazenamento de alimentos estão entre as maiores inovações tecnológicas que eventualmente levariam ao desenvolvimento de civilizações no mundo”, afirma a arqueóloga Li Liu. 

Ainda segundo os cientistas, a razão da cerveja estar numa caverna funerária é que ela pode ter sido parte de um ritual.


* O termo “civilização” pode ser controverso, porque historicamente era parte do discurso que reduzia sociedades que não passaram pela Revolução Agrícola ao rótulo de “primitivas”. Está aqui, no sentido clássico, porque é um termo ainda assim significativo, e foi usado pelos próprios acadêmicos.