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Notícias / Arqueologia

Mais de 140 sepulturas medievais são encontradas na Irlanda do Norte

Alguns enterros possuíam padrão de respeito religioso; outros, por sua vez, podem ter pertencido a criminosos executados. Confira!

Éric Moreira Publicado em 06/03/2024, às 16h30

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Um dos sepultamentos descobertos recentemente na Irlanda do Norte - Divulgação/Gahan and Long Archeological Services
Um dos sepultamentos descobertos recentemente na Irlanda do Norte - Divulgação/Gahan and Long Archeological Services

Na terça-feira, 5, a Gahan and Long Archaeological Services — uma das principais consultorias arqueológicas voltadas as construções da Irlanda do Norte — divulgou que seus arqueólogos desenterraram em Carrickfergus, uma cidade na costa do país, os restos mortais de 146 pessoas onde havia o cemitério de uma antiga abadia medieval.

Conforme descrito pela BBC, a maioria dos restos mortais nas sepulturas pertenciam a homens, e apenas um pequeno número a mulheres e crianças. Ainda não se pode confirmar com precisão a datação desta descoberta, mas os investigadores acreditam que seja do século 14 ou 15.

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O cemitério, segundo o Live Science, foi desenterrado no final de 2023, antes do início de obras de construção em Carrickfergus, no condado de Antrim. Ele pertencia à antiga Abadia de Woodburn, que serviu como importante local de culto ao povo premonstratense, uma ordem religiosa católica romana do século 14.

A Abadia teria sido então dissolvida em 1542, após a comunidade e o abade local se retirarem para uma cidade próxima.

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Fotografia tirada em meio às escavações em Carrickfergus, na Irlanda do Norte / Crédito: Divulgação/Gahan and Long Archeological Services

Agora, os pesquisadores envolvidos na descoberta esperam os resultados de um relatório pós-escavação, onde podem descobrir mais sobre os indivíduos ali sepultados.

Isso nos dirá a idade dos indivíduos. Podemos identificar doenças que eles possam ter tido, obteremos datas de radiocarbono para eles e poderemos fazer outras análises que também possam nos dizer a origem étnica dos indivíduos," explica Chris Long, arqueólogo da Gahan and Long Archaeological Services e líder da escavação recente, à BBC.

Após o fim das análises, os restos mortais serão novamente enterrados, em local que ainda não foi divulgado nem determinado.

Sepultamentos orientados

Uma característica dos sepultamentos que salta aos olhos dos arqueólogos é que a maioria deles estava voltada do oeste para o leste. Pois os cristãos medievais tinham a crença de que o falecido, dessa forma, estaria “mais pronto para ver Cristo vindo do leste” desta posição, nas palavras do padre inglês dos séculos 14 e 15, John Mirk.

De modo geral, os cristãos medievais tiveram muito cuidado em fornecer um enterro oeste-leste e em garantir que todos os ritos cristãos fossem observados, a fim de apoiar o indivíduo falecido em sua jornada pelo purgatório", explica à WordsSideKick.com a professora de arqueologia medieval na Universidade de Reading, no Reino Unido, Roberta Gilchrist.

Haviam também algumas sepulturas em que as tradições não eram tão respeitadas, e continham mais de uma pessoa em seu interior. Casos assim geralmente são associados às épocas de crise com peste ou quaisquer outros eventos de grande mortalidade.

Enterro duplo encontrado em Carrickfergus, na Irlanda do Norte / Crédito: Divulgação/Gahan and Long Archeological Services

No entanto, o que chamava mais atenção nos enterros descobertos recentemente eram as sepulturas que destoavam desse padrão. Em alguns casos, foram encontrados enterros voltados do norte para o sul, possivelmente como uma forma de desrespeito; em outros, os indivíduos estavam de bruços, o que sugerem que podem ter sido criminosos executados.

“Um enterro inclinado [ou] um enterro atípico é geralmente interpretado como tendo a intenção de transmitir desrespeito, punição ou humilhação dos mortos. O enterro na posição norte-sul pode ter sido igualmente considerado como um sinal de estigma e falta de respeito pelo falecido”, acrescenta Gilchrist.

Ainda assim, ressalta a pesquisadora, essas pessoas foram enterradas em um cemitério consagrado, em uma abadia: “A sanção final teria sido enterrá-los em terreno não consagrado, o que no contexto cultural cristão medieval é tratar os mortos como uma não-pessoa (sem possibilidade de salvação).”