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Notícias / História

Naturalista vitoriano roubou restos mortais de indígenas da Tasmânia

Renomado naturalista vitoriano, Morton Allport foi responsável por roubar restos de aborígenes e animais da Tasmânia, aponta pesquisa

Redação Publicado em 29/11/2023, às 09h45

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Cinco peles de tigres da tasmânia enviados por Morton Allport ao Reino Unido entre 1869 e 1871 - Divulgação/Universidade de Cambridge
Cinco peles de tigres da tasmânia enviados por Morton Allport ao Reino Unido entre 1869 e 1871 - Divulgação/Universidade de Cambridge

Morton Allport, um naturalista inglês do século 19 e reconhecido como o principal da Tasmânia, em uma época em que a região era governada pelos britânicos, foi responsável por profanar restos mortais de aborígenes, bem como extraditar peles de tigre da Tasmânia por prestígio científico, revela um novo estudo. 

De acordo com o Live Science, Allport ficou reconhecido como um dos principais naturalistas britânicos na região da Tasmânia após roubar partes de corpos humanos de aborígenes locais, para enviá-los a universidades europeias. Além disso, ele também enviou restos mortais dos já extintos tigres da Tasmânia, um marsupial predador também conhecido como tilacino.

Conforme descreve o novo estudo — publicado nesta quarta-feira, 29, na revista Archives of Natural History —, os feitos de Allport teriam sido realizados na tentativa de reunir evidências pseudocientíficas sobre a superioridade branca. Baseada em cartas do naturalista, a pesquisa também aponta que o período do britânico na ilha coincidiu com o genocídio contra seus povos aborígenes, além do extermínio dos tigres da Tasmânia, extintos oficialmente em 1936.

Podemos agora ver que Allport enviou mais espécimes de tilacinos para a Europa do que qualquer outra pessoa, e ele também se descreve com muito orgulho como a única pessoa a enviar esqueletos aborígenes da Tasmânia para instituições europeias", pontua Jack Ashby, diretor assistente do Museu Universitário de Zoologia da Universidade de Cambridge ao Live Science. "Efetivamente, todos os esqueletos de uma pessoa da Tasmânia que chegaram à Europa foram enviados por Allport."

A pesquisa descreve que, quando os primeiros colonos britânicos chegaram na Tasmânia e estabeleceram seus primeiros assentamentos, em 1803, a população idígena da ilha era estimada entre 5 mil e 10 mil pessoas. Porém, em 1876, graças às diversas campanhas de violência e assassinatos, apenas as mulheres ainda restavam. Esse genocídio coincidiu com a extinção do tigre da Tasmânia, considerado uma ameaça às fazendas de ovelhas pelos britânicos.

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Fotografia de Morton Allport / Crédito: Divulgação/Biblioteca Allport e Museu de Belas Artes, Biblioteca Estadual da Tasmânia

"Espécimes" raros

Com a diminuição constante da população de aborígenes nativos, bem como dos tigres da Tasmânia, a busca por "espécimes" de ambos disparou. Em meio ao estudo, Jack Ashby descobriu que cinco esqueletos destes indivíduos foram enviados à Europa, além de 20 peles de tilacinos. Lá, as amostras eram estudadas por outros naturalistas, estes que tentavam fazer observações sobre uma possível "inferioridade" evolutiva dos tilacinos e dos povos aborígenes.

Nesse contexto, em troca de seus esforços, Allport recebeu grande reconhecimento científico e até bolsas de estudo em universidades de toda a Europa. 

Um infame exemplo do que Allport teria feito foi quando ele roubou o túmulo de William Lanne, incorretamente considerado o último homem indígena da Tasmânia, após sua morte em 1869. Enquanto isso, Lanne, que era visto como um "espécime premiado", foi razão de competição entre o naturalista e outro colono, o médico William Crowther.

Como consequência da disputa pelos restos mortais, Crowther e seu filho entraram sorrateiramente no necrotério onde estava o corpo de Lanne e, brutalmente, cortaram fora sua cabeça, o que levou ao desaparecimento do crânio, que nunca mais foi encontrado. Já Allport, em resposta, removeu os pés e mãos do cadáver para que o rival não conseguisse o esqueleto completo — mas ele próprio também roubou o restante dos corpo.

Por fim, conforme pontua Rebecca Kilner, diretora do Museu de Zoologia da Universidade de Cambridge, em comunicado, "compreender por que e como os animais foram coletados, incluindo as motivações políticas e sociais subjacentes, é fundamental para compreender e abordar algumas das desigualdades sociais que existem hoje."