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Notícias / Submarino Titan

Cofundador de submarino que implodiu foi alertado: 'Você vai matar alguém'

Apesar de alertado sobre problemas de segurança no submarino que implodiu, Stockton Rush via críticas como 'insultos pessoais'

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 04/07/2023, às 12h01

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O CEO da OceanGate, Stockton Rush - Reprodução/Video
O CEO da OceanGate, Stockton Rush - Reprodução/Video

Desde a 'implosão catastrófica' do submarino Titan, que tinha como missão visitar os destroços do lendário RMS Titanic, surgem detalhes sobre a trágica expedição — que evidenciam cada vez mais os descuidos da OceanGate Expeditions em relação à segurança.

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Durante a expedição, reporta o The Guardian, o submersível deixou cair pesos em algum ponto de sua descida. Ainda não se sabe, porém, se isso era uma parte rotineira da descida ou uma tentativa de abandonar a missão.

Veterano especialista em submarinos, Rob McCallum, que desde os anos 2000 realizou expedições aos destroços do Titanic, é um dos profissionais que demonstrava preocupações às práticas exercidas pela OceanGate antes da catástrofe.

Ao Guardian, ele explicou que é comum que submarinos descartarem pesos para manter sua flutuabilidade. "Às vezes, eles perdem um pouco de peso para desacelerar quando se aproximam do fundo e, às vezes, perdem muito peso para subir".

Você precisaria ler o registro de mergulho para saber quais pesos estavam sendo descartados imediatamente antes da catástrofe, apontou.

McCallum ainda declarou que as circunstâncias conhecidas da tragédia ainda são limitadas: o submersível foi "localizado exatamente onde deveria estar" e a implosão levou apenas milissegundos.

Os submersíveis "não carregam um gravador de dados de navegação e, portanto, você depende das comunicações entre o submersível e o navio acima — a menos que o registro mostre uma preocupação do submersível, nunca saberemos", explicou.

Preocupações

No dia 1º de julho, um artigo publicado na New Yorker detalhou os esforços feitos por McCallum e outros especialistas para alertar sobre as embarcações da OceanGate. A publicação aponta que a empresa e as autoridades governamentais, aparentemente, não agiram de acordo com seus alertas.

O artigo aponta que a OceanGate passou a voltar sua atenção para a exploração do Titanic em 2015, quando o cofundador da empresa, Stockton Rush, uma das vítimas da tragédia, procurou McCallum.

"Ele queria que eu dirigisse a operação do Titanic para ele", disse o veterano. "Na época, eu era a única pessoa que ele conhecia que havia feito viagens de expedição comercial ao Titanic. O plano de Rush era ir além e construir um veículo especificamente para esta expedição com vários passageiros."

O especialista diz ter dado dicas de marketing e logística para Rush quando visitou a oficina da OceanGate, em Seattle, onde viu o primeiro submersível deles: Cyclops I — uma embarcação de pesquisa adaptada que não poderia descer mais de 450 metros.

Rush, detalha McCallum, planejava usar a maior parte do design do Cyclops I para o submarino que iria ao Titanic, chamado de Cyclops II. A New Yorker, porém, aponta que o Cyclops II teria sido renomeado para Titan.

O projeto teria causado preocupações no veterano, tanto devido ao design rudimentar do submarino quanto pela falta de recursos de segurança: "Houve vários pontos de falha", apontou, incluindo que seu sistema de controle usava Bluetooth. "Cada submarino no mundo tem controles conectados por um motivo — se o sinal cair, você não está ferrado."

McCallum aponta que, por conta disso, o Cyclops ficou preso em um mergulho de teste em águas rasas. Assim, ele decidiu não se envolver no projeto e passou a manifestar sua preocupação com a segurança do submersível.

Em uma troca de e-mail em 2018, McCallum aponta que Rush passou a enxergar os alertas em relação à segurança como uma afronta pessoal. "Eu sei que nossa abordagem inovadora e focada em engenharia (em oposição a um processo de design focado em conformidade com os padrões existentes) vai contra a ortodoxia submersível, mas essa é a natureza da inovação", escreveu Rush. "Titan e seus sistemas de segurança estão muito além de qualquer coisa atualmente em uso."

Rush ainda reclamou no e-mail, que foi visto pela equipe do The Guardian: "Como você pode ver, esse assunto me deixa um pouco agitado. Cansei-me de participantes do setor que tentam usar um argumento de segurança para impedir a inovação e a entrada de novos participantes em seu pequeno mercado existente. Desde que Guillermo [Söhnlein] e eu começamos o OceanGate, ouvimos os gritos infundados de 'você vai matar alguém' com muita frequência."

Tomo isso como um sério insulto pessoal", escreveu Rush.