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Matérias / Nazismo

‘Centro do Mundo’: O castelo medieval que se tornou antro dos nazistas

Por conta de seu passado, Heirich Himmler tentou transformar o castelo na Camelot do Terceiro Reich

Fabio Previdelli | @fabioprevidelli_ Publicado em 15/10/2022, às 00h00 - Atualizado em 24/10/2022, às 09h09

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O Castelo de Wewelsburg - Tbachner via Wikimedia Commons
O Castelo de Wewelsburg - Tbachner via Wikimedia Commons

Na tentativa de construir a ideia da superioridade da raça ariana, diversos líderes nazistas acreditavam e usavam de mitologias para comprovar seu ponto de vista. Uma das pessoas que exemplifica bem isso é Heirich Himmler

Comandante do Exército de Reserva, Himmler era fascinado pelo miticismo e pelo ocultismo. Além disso, para comprovar a superioridade racial, usou de ‘provas’ presentes desde a antiguidade e até mesmo viu a possibilidade de criar uma religião estatal pseudo-pagã, que seria baseada na idealização da cultura cavalheiresca da Alemanha e, obviamente, na pureza ariana. 

Fotografia de Heinrich Himmler / Crédito: Arquivo Federal Alemão via Wikimedia Commons

Para isso, porém, um dos principais líderes do Partido Nazista precisaria de uma sede. E o Castelo de Wewelsburg era especial. 

O palco nazista

A Alemanha é conhecida, entre outras coisas, por seu grande número de palácios e castelos. Segundo matéria da BBC, no país existem cerca de 20.000 construções desse tipo, mas o de Wewelsburg é especial. E não apenas por ser o único triangular. 

Construído no século 17, para príncipes-bispos de Paderborn, o castelo fica localizado no alto de uma rocha que possui ampla vista para o Vale do Alme. Mas o ponto principal, ao menos para Himmler, é que ele fica situado perto da Floresta de Teutoburgo. 

Por lá, há cerca de 2.000 anos, tribos germânicas derrotaram o exército romano. E é justamente essa conexão com o passado que é fundamental. "Para Himmler, as tribos germânicas eram a cultura mais elevada", dia Kristen John-Stuke, diretora do Kreismuseum Wewelsburg, à BBC Reel.

Para ele e para as SS era muito importante ter esses vínculos com o passado porque eles podiam dizer 'somos parecidos com os guerreiros germânicos’”, continua. 

O Comandante nazista também era fissurado pelo período medieval, em especial pela história do rei Henrique I, responsável por fundar a dinastia saxônica e conquistar diversas terras no Oriente. De certa forma, a Alemanha nazista tinha a mesma ambição. 

Himmler, então, decidiu devolver a Wewelsburg um pouco de seu passado e a deixar com ares mais medievais. Para isso, aponta a BBC, deu ordens para que todo o gesso fosse removido das paredes do castelo e que um fosso fosse construído ao seu redor. 

Pátio interno do Castelo de Wewelsburg/ Crédito: Ziko-C via Wikimedia Commons

Sua intenção era que o local fosse uma nova representação de Camelot, onde existisse uma Távola Redonda, mas, ao invés dos combatentes do Rei Arthur, haveria 12 oficiais da SS para servir como seus seguidores. O Castelo de Wewelsburg passaria a ser chamado de “O Centro do Mundo”. 

Campo de concentração própria

Mas essa empreitada não era fácil e tampouco simples, era necessário muito trabalho — principalmente o braçal. Afinal, a ideia de Himmler era ambiciosa e exagerada: o castelo seria apenas parte de um complexo de edifícios que tomariam um raio de 600 metros a partir da torre. 

Para isso, o Comandante instituiu seu próprio campo de concentração, chamado Niederhagen, que usaria a mão-de-obra escrava para restaurar o castelo. O local abrigava cerca de 4.000 pessoas. Porém, devido às condições subumanas e os abusos da SS, metades delas morreram. 

Em 1943, aponta a BBC, as obras de construção em Wewelsburg foram interrompidas. Além disso, o campo de concentração foi reduzido a 42 escravos. Dois anos depois, com a derrocada alemã, o nazista ordenou que o castelo fosse destruído. 

As tropas da SS até que tentaram explodi-lo. O fogo, por sua vez, resumiu a pó parte do edifício. Mesmo assim, uma parte do passado do castelo sobreviveu para contar história: os 42 trabalhadores foram resgatados com vida pelas tropas Aliadas. 

"A torre norte ainda é original, como era na década de 1940", apontou John-Stuke. "Há duas salas históricas. Uma é a cripta, que parece uma tumba para homenagear os homens da SS."

O que restou do local ainda guarda símbolos nazistas, como o teto abobado da cripta, que possui um relevo de uma suástica ornamentada. Já no nível superior, onde era a capela do castelo, que serviu como Salão dos Supremos Líderes SS, está embutido no solo o chamado Sol Negro — uma combinação de três símbolos mais importantes dos nazistas. 

Um passado para se relembrar

Um dos principais temores, que dura até hoje, é que o espaço se torne um atrativo para extremistas e seguidores supremacistas. Mas é justamente por todo o histórico do local que seu espaço se tornou indispensável para a conscientização do passado. 

Por lá, em 1982, foi inaugurado um museu que busca apresentar de maneira clara todos os horrores cometidos pelos nazistas. "Tentamos educar as pessoas sobre a história, violência e terror da SS", disse a diretora do local à BBC. 

Para nós é muito importante deixar os visitantes entrarem nas salas por conta própria. É melhor mostrá-las do que escondê-las”, aponta. 

Para isso, o museu encontrou uma maneira única de apresentar os fatos, através da desconstrução. O ar solene da cripta, por exemplo, deu espaço para motivos expressionistas, que ajudam a representar os horrores da guerra. 

Já no Salão dos Líderes Supremos foi incorporado pufes coloridos, que ajudam a desviar a atenção do mosaico presente no centro do piso. "Para nós é importante mostrar o 'sol negro', dizer: 'Sim, está aqui', mas queremos desconstruir a aura desse símbolo”, continua Kristen John-Stuke.

Salão dos Supremos Líderes SS com o chamado "Sol Negro" no chão do salão/ Crédito: Domínio Público

A diretora também aponta que a ideia do museu é de mostrar o maior número possível de objetos originais. Porém, obviamente, isso requer muito cuidado. Por conta disso, itens da SS são mostrados com placas informativas que não permitem um visão por completo do objeto — inibindo o culto ao material. 

Por exemplo, em um uniforme, você pode ver que há uma suástica no braço, mas você só pode ver parte dela. Está desconstruída”, explica John-Stuke. "Quando mostramos o objeto dos prisioneiros, é todo ao contrário."

Outro ponto a ser educado diz respeito às teorias conspiratórias, como um livro da década de 1990 que tentou ressignificar o símbolo do “Sol Negro” — que chegou a ser adotado por políticos de extrema-direita como um sinal de salvação e reconhecimento. 

"Essa história foi muito famosa. Esse é o nosso problema. Existem muitas lendas de conspiração e mitos sobre Wewelsberg, que remontam ao tempo da SS”, aponta Kristen. "Eles começaram assim que a guerra terminou, quando membros da SS contaram histórias de que Himmler estava planejando fazer rituais ocultos no castelo."

"Não podemos dizer se era verdade ou não, porque não há documentos escritos sobre isso. A única coisa que podemos dizer com certeza é que esse lugar jamais foi usado porque a obra nunca foi concluída”, conclui. 

Afinal, segundo a BBC, a única ocasião em que líderes da SS se reuniram em Wewelsberg foi em junho de 1941. Na ocasião, a torre norte ainda estava em construção. 

A única certeza é que, embora numerosos, os rumores sobre o castelo nem sempre são verdadeiros. Mas seu significado continua sendo fundamental para combater uma ideologia que, apesar de derrotada, insiste em se fazer presente nos tempos atuais.