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Matérias / Cidade Invisível

Como Cidade Invisível se relaciona com a realidade

Embora repleta de lendas e elementos místicos, a segunda temporada do famoso seriado aborda problemas reais

Ingredi Brunato Publicado em 25/03/2023, às 17h00

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Cena da segunda temporada de Cidade Invisível - Divulgação/ Netflix
Cena da segunda temporada de Cidade Invisível - Divulgação/ Netflix

Aclamada tanto no Brasil quanto no exterior, a famosa série brasileira "Cidade Invisível", que mistura lendas do folclore nacional ao gênero de suspense policial, teve sua segunda temporada lançada na Netflix na última quarta-feira, 22.

Com um total de cinco episódios, a história conta com lendas que não foram abordadas anteriormente, como da Mula Sem Cabeça e do Matinta Perê. Ocorre ainda a introdução de novos personagens — incluindo vilões impiedosos — ao enredo. 

Uma das grandes diferenças da última temporada para essa, todavia, é a mudança de local. Enquanto a primeira foi ambientada no Rio de Janeiro, trazendo os elementos místicos para a vida urbana, os novos episódios se passam em Belém, capital do Pará

Após dois anos ausente, Eric [Marco Pigossi] aparece em um santuário natural, protegido por indígenas e procurado por garimpeiros ilegais, perto de Belém do Pará. Ele descobre que Luna [Manuela Dieguez] e Cuca [Alessandra Negrini] estão morando nas proximidades com o objetivo de trazê-lo de volta à vida. Embora queira retornar imediatamente para o Rio de Janeiro com a amada, suas habilidades sobrenaturais recém-adquiridas o tornam necessário para proteger Luna o santuário, que descobre serem intimamente ligados", anuncia a sinopse fornecida pela Netflix. 

Essa troca de cenário, assim, contribui para destacar a luta dos povos indígenas, o que é uma alteração bem-vinda após sua notável ausência durante a primeira temporada — algo que foi inclusive alvo de críticas. 

Além disso, os novos episódios de Cidade Invisível têm como uma de suas principais temáticas a questão do garimpo ilegal, que é um problema incrivelmente atual no Brasil, tendo sido amplamente discutido durante o início de 2023 devido à crise humanitária yanomami. 

Trecho do trailer da segunda temporada de Cidade Invisível/ Crédito: Divulgação/ Netflix

Os nativos, que vivem na floresta Amazônica, vivem em situação precária por conta do garimpo de ouro, com a atividade econômica clandestina contribuindo para a fome, disseminação de doenças e contaminação por mercúrio que causaram um aumento de mortes yanomami durante os últimos anos. 

O problema 

Conforme explicado pelo site do Greenpeace, o mercúrio é utilizado por garimpeiros para que seja mais fácil encontrar as pepitas de ouro que circulam nos rios. A substância, no entanto, é um tóxico metal pesado que acaba se acumulando através da cadeia alimentar: contamina primeiro plantas, depois os animais que as comerem, e por aí vai. 

Já de acordo com um laudo recente da Polícia Federal repercutido pelo g1, testes para detectar a presença de mercúrio dentro do corpo humano revelam que a maioria dos yanomamis que vivem em 14 regiões diferentes estão com altos níveis do elemento químico em seu organismo. A exposição ao metal pesado, por sua vez, ocorreria através tanto da água bebida por eles quanto da pesca de peixes intoxicados.

Outra questão importante é que a circulação de garimpeiros pela vegetação amazônica acaba afastando os animais geralmente caçados pelos indígenas, assim dificultando sua procura por alimento e contribuindo para uma situação de desnutrição e vulnerabilidade em geral. 

O contato dos yanomamis com pessoas de fora também serve para expô-los a doenças para as quais essa população não possui anticorpos. Em 2022, por exemplo, teriam sido registrados mais de 11,5 mil casos de malária entre os nativos desta tribo — que frequentemente não tem acesso a cuidados médicos, fazendo com que doenças tratáveis se tornem fatais. 

A violência infligida diretamente por garimpeiros aos indígenas é outro enorme problema: mesmo quando os conflitos não resultam em mortes, ainda é provocado um enorme trauma ao povo nativo, para quem situações de trabalho forçado, exploração infantil e violência sexual são recorrentes, constituindo uma verdadeira tragédia nacional. 

Cenas de vídeos gravados por garimpeiros pedindo socorro na Terra Yanomami / Crédito: Reprodução/Vídeo/YouTube

Dessa forma, é particularmente relevante que Cidade Invisível, que durante sua primeira temporada entrou no Top 10 de produções mais assistidas da Netflix em 60 países diferentes, retrate através da ficção um cenário preocupante de garimpo ilegal que também é enfrentado na realidade pelas comunidades indígenas brasileiras.