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Matérias / Armas

Barca do inferno: A primeira arma de destruição em massa

A primeira bomba-relógio era tão pavorosa que venceu mesmo quando não estava presente

Fabio Marton Publicado em 20/04/2018, às 07h01 - Atualizado às 11h10

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Invento quase matou o inventor - Shutterstock
Invento quase matou o inventor - Shutterstock

De sua longa ponte flutuante cruzando o Rio Scheldt, os espanhóis esperavam seus inimigos morrerem de fome. O Cerco de Antuérpia já durava quase um ano, e a estrutura improvisada, feita com tábuas sobre barcos, impedia a entrada de qualquer suprimento. Foi quando avistaram os navios de fogo.

Também chamados brulotes, são uma invenção da Grécia antiga, barcos velhos incendiados e soltos em direção ao inimigo, na esperança de espalhar o fogo entre eles.

Ilustração representando os bruolotes Wikimedia Commons

Não era exatamente uma visão confortável para quem estava balançando sobre tábuas inflamáveis, mas os espanhóis conseguiram segurá-los com seus piques, lanças de 6 metros.

Trinta e dois barcos haviam sido mandados e 32, contidos. Então veio um diferente. Seu nome era Fortuyn e ele explodiu. Longe: havia encalhado na beira do rio, sem atingir a barreira. E sua explosão foi parcial, fazendo só barulho. Um traque que fez os espanhóis rirem.

Tic-tac

O trabalho estava quase terminado. Faltava o último, o Hoop, que chegara à ponte. Como haviam feito com os outros, os espanhóis saltaram dentro para apagar o fogo. E, então, quem sabe um deles tenha ouvido o tic-tac.

Quando deu a hora, o mecanismo temporizador fez com que a roda de pederneira se movesse, produzindo faíscas, que atingiram as mais de 3 toneladas de pólvora estocadas no compartimento de carga.

Primeiro veio o clarão, depois a escuridão. Imediatamente, quase mil espanhóis estavam no ar, aos pedaços, indo cair no chão e em telhados a quilômetros dali. Um furioso tremor, seguido depois pelo barulho, acordaria aldeões num raio de 80 quilômetros. Os diques transbordariam e os fortes e casas no interior seriam cobertos pelo tsunami.

A explosão Wikimedia Commons

Era 5 de abril de 1585 e o mundo conhecia a primeira arma de destruição em massa: o hellebrander, “brulote do inferno”. Seu inventor era o engenheiro mantuano Federigo Giambelli, que havia sido escorraçado da corte espanhola ao oferecer seus préstimos. Fez então a mesma oferta aos seus inimigos em Antuérpia, e suas propostas caíram em ouvidos interessados.

O hellebrander tinha seu compartimento de carga forrado com grossas paredes de tijolos, e o teto, com lápides. Tudo fechado com chumbo derretido, selando hermeticamente uma pilha gigante de pólvora e o mecanismo temporizador. Sobre isso ia uma camada de pedra e sucata de ferro, para aumentar o estrago, e mais lápides. Essa foi a primeira bomba-relógio da História e quase certamente a maior explosão artificial até então presenciada.

Invenção monstruosa

A monstruosa invenção funcionou bem até demais. O próprio Giambelli acabou ferido pela onda de impacto, que tirou todos dos próprios pés. Os espanhóis acabariam por reconstruir sua ponte antes que os flamengos tivessem chance de quebrar o cerco. Antuérpia se renderia em agosto. Giambelli fugiria para a Inglaterra.

A imagem ficaria gravada a fogo nas retinas dos sobreviventes. A notícia de que Giambelli, o homem mais perigoso do mundo, trabalhava com seus inimigos, deixava os espanhóis exasperados. Em 28 de de julho de 1588, a “Invencível Armada” da maior potência marítima do mundo estava prestes a confrontar seus inimigos britânicos em Calais.

Quando viram navios de fogo, temendo serem mais brulotes do inferno, os espanhóis levantaram âncora e bateram em uma desastrosa retirada. Isso levaria à até então implausível vitória dos ingleses. A ilha permaneceria inconquistada. E isso graças a uma arma de destruição em massa que nem estava lá.