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Matérias / Manuscrito de Voynich

Escrito em código: Conheça o enigmático manuscrito Voynich

Criado na Europa medieval, o documento nunca foi decifrado apesar dos inúmeros esforços dos especialistas

Ingredi Brunato Publicado em 05/05/2023, às 17h41 - Atualizado em 19/10/2023, às 15h49

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Montagem mostrando duas páginas do manuscrito - Domínio Público
Montagem mostrando duas páginas do manuscrito - Domínio Público

O manuscrito Voynich é um curioso livro europeu com centenas de anos escrito à mão em uma linguagem desconhecida (possivelmente, um código inventado pelo próprio autor) que intriga pesquisadores até hoje.

Através da datação usando radiocarbono, sabemos que o documento remonta ao início do século 15, e décadas de estudos foram capazes de identificar alguns dos donos anteriores do artefato, porém quem o criou e qual é o seu conteúdo permanecem um mistério. 

O manuscrito compreende uma homenagem a Wilfrid Voynich, um vendedor de livros antigos que o comprou de um colégio jesuíta ainda em 1912, tendo sido um dos grandes responsáveis por iniciar sua fama.

Além de colocar o item histórico em exposição em diversas ocasiões, Voynich mobilizou diversos especialistas para a tarefa de decifrar o texto — porém sem sucesso. Em 1961, o artefato foi vendido para outro negociante, e em 1969 acabou sendo doado para sua destinação final, a Biblioteca de Beinecke, que é administrada pela Universidade de Yale, nos EUA. 

O que se sabe sobre o manuscrito Voynich

Graças à presença de ilustrações decorando o documento, é possível especular a respeito dos assuntos gerais tratados pelo pergaminho. Tomando como base esses variados desenhos, que são detalhados e em cores, os pesquisadores decidiram dividir as 234 páginas do manuscrito em 6 sessões. 

Segundo informado pelo site Britannica, a primeira é dedicada a botânica devido às representações de diversas plantas, enquanto a segunda mistura astronomia e astrologia, incluindo gravuras do Sol e da Lua, e também de símbolos do zodíaco. 

Páginas da sessão de botânica / Crédito: Domínio Público

Já a terceira foi categorizada como de biologia devido às várias ilustrações mostrando corpos femininos nus, alguns deles parecem passar por gestações, e muitos interagindo com líquidos em enigmáticas cavernas interconectadas por tubos. 

Páginas da sessão de biologia / Crédito: Domínio Público

A quarta sessão é de cosmologia, contendo, portanto, as ideias medievais a respeito da composição do Universo, que eram inspiradas por Aristóteles. A quinta, por sua vez, é farmacêutica, uma vez que volta a trazer gravuras de plantas, mas dessa vez elas estão dentro de frascos. 

Desenhos de astros no manuscrito / Crédito: Domínio Público

Por fim, a sexta e última sessão não tem mais desenhos, apenas inscrições, parecendo ser dividida em textos individuais. Uma das teorias é que se tratam de receitas, conforme registrado pelo site oficial da Biblioteca Beinecke.

Decodificado? 

Após décadas de criptólogos e linguistas examinarem o manuscrito Voynich sem chegar a lugar nenhum, um estudioso associado à Universidade de Bristol, na Inglaterra, anunciou ter decifrado os escritos do item histórico em 2019. 

De acordo com Gerard Cheshire, que afirmou ter levado apenas duas semanas para solucionar o enigma histórico, o idioma no qual o documento está escrito é "proto-românico", que teria sido falado de forma "onipresente" no Mediterrâneo durante a Idade Média. 

O suposto dialeto, porém, seria raramente registrado em forma de textos pois eles eram escritos por membros da realeza, do governo e da igreja, com todas essas sendo instituições que preferiam o latim, considerado mais nobre. O manuscrito Voynich seria, portanto, o primeiro artefato já descoberto em proto-românico. 

Vale destacar que a pesquisa publicada por Cheshire a respeito da questão foi amplamente criticada por medievalistas (especialistas no estudo da Idade Média), que dizem que essa linguagem simplesmente não existe. 

Uma das céticas é Kate Wiles, que além de medievalista também é linguista. Em entrevista ao The Guardian, ela explicou que são necessárias décadas de estudo a fim de construir o conhecimento necessário para afirmar a existência de um idioma passado previamente desconhecido. 

Você não pode ter apenas uma pessoa dizendo: 'Eu decodifiquei'. Você tem que ter o campo, como um todo, concordando (...) Ele está defendendo uma linguagem construída com palavras extraídas de muitos lugares e períodos, mas juntas elas não criam algo que seja convincente como uma linguagem viável", observou ela. 

Gerard Cheshire, por outro lado, não teria sido abalado pelas críticas recebidas. Ele insistiu que a solução proposta por seu artigo, que contém a descrição dos supostos alfabeto e sistema de escrita utilizados pelo proto-românico, pode ser usada por outros estudiosos para realizar uma "tradução consistente" do manuscrito. Seria, portanto, só uma questão de tempo até que a reação à sua pesquisa mudar. 

O artigo foi revisado por pares e publicado em uma revista altamente respeitável, que é o padrão ouro em corroboração científica. Assim, todo o protocolo foi seguido à risca e o trabalho conta com apoio oficial. Com o tempo, muitos estudiosos terão usado a solução para suas próprias pesquisas do manuscrito e publicado seus próprios artigos, então a pequena onda de resistência diminuirá", afirmou também ao The Guardian em 2019. 

+ Para visualizar o manuscrito do século 15 na íntegra, clique aqui.