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Matérias / Diplomata brasileiro

Filme retrata a história do diplomata brasileiro que tentou impedir a invasão americana no Iraque

O filme conta a história da trajetória de José Mauricio Bustani, o diplomata brasileiro que atuou na luta contra as armas químicas

Isabelly de Lima, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 01/03/2023, às 18h30

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Pôster oficial do filme - Divulgação / Bretz Filmes
Pôster oficial do filme - Divulgação / Bretz Filmes

Dirigido por José Joffily, o premiado documentário‘Sinfonia de um homem comum’ está nos cinemas. Lançado em 9 de fevereiro, o filme narra a história de José Mauricio Bustani, o diplomata e primeiro diretor-geral da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), entre 1997 e 2002.

Ele tentou impedir a invasão dos Estados Unidos ao Iraque, que ocorreu durante o governo de George W. Bush. O documentário possui diversos depoimentos de figuras importantes da trajetória de Bustani, como ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso, do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dos diplomatas Celso Amorim e Celso Lafer, do porta-voz do governo de George W. Bush, Richard Boucher, entre outros.

Bustani foi escolhido diretor da organização multilateral OPCW, (Organisation for the Prohibition of Chemical Weapons, em português, Organização para a Proibição de Armas Químicas, a OPAQ) em 1978.

O maior propósito de José Mauricio com essa organização era alinhá-la com o maior número de países, pois isso dava autoridade e representatividade para a organização, que é filiada com a ONU, encarregada de instruir e fiscalizar os países que usavam armas químicas.

Entrevista com o diretor

O Aventuras na História conversou com exclusividade com o diretor da produção, José Joffily, que é também amigo de Bustani. Ele explicou que na primeira gestão, ele conseguiu alinhar cerca de 137 países, evidenciando uma gestão muito auspiciosa, o que levou Bustani para uma segunda gestão.

José Joffily durante entrevista - Crédito: Reprodução / Vídeo

Na conversa, o diretor define que o documentário não retrata a vida de um santo: “Não é a história de um santo não, mas ele foi uma figura que teve um comportamento surpreendente sob a pressão que sofreu. Foi corajoso também. Porque ele foi procurado por embaixadores americanos, e ele é um diplomata brasileiro né”.

Ameaça ao cargo

Joffily contou que após o triste episódio das Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, o Bustani foi procurado por um embaixador americano, chamado John Bolton, um ano depois, que era um dos “falcões” que assessorava o Bush. Ele, então, foi pressionado a renunciar, porque estava aliando o Iraque na Organização.

Esse alinhamento significava uma autorização implícita, para que ele mandasse os inspetores da OPCW para fiscalizar o Iraque, e aí eles veriam que o país não tinha arma de destruição em massa no Iraque, como, conforme o diretor, “eles já sabiam, aliás”.

Mas havia um propósito dos Estados Unidos de invadir o Iraque, com a justificativa de que lá havia armas químicas. E isso destruiria qualquer justificativa para a realização de tal invasão. Bustani então foi pressionado para não alinhar mais o país e também seu cargo. Coisas que ele não fez. 

Os americanos organizaram uma Assembleia Geral, pagaram alguns representantes que estavam já sendo devedores à eles e tiveram êxito na ruptura do Bustani com a OPCW. Em 2002, Bustani teria contado a Joffily que estava sendo ameaçado. Ele teria encontrado, na parede de seu escritório, um aparelho de escuta, que foi montado pela pessoa responsável pelo setor de segurança da OPAQ, sediada na cidade de Aia, na Holanda. A ficha demorou a cair.

José Mauricio Bustani em cena do filme - Crédito: Divulgação / Bretz Filmes  

“Mas os fatos foram acontecendo. Tudo que Bustani falou foi se confirmando. De fato, o Iraque foi invadido, o general do mandato de Bush revelou que foi enganado pelos órgãos de segurança e informação, como a CIA, mas mais de 600 mil pessoas já haviam morrido no Iraque, tal como 15 mil soldados americanos”.

Conforme ele foi me contando tudo, e as coisas foram se confirmando, eu vi a necessidade de fazer um filme sobre isso. Mas não um filme didático sobre o assunto, mas que revelasse como funcionam as organizações multilaterais e o como somos manipulados, geopoliticamente, por essas instituições. Essas organizações são, de certa forma, controladas por aqueles países que contribuem com mais dinheiro”.

Trabalho com Lula

Depois de sair da OPAQ, Bustani foi eleito por Lula para ser o embaixador brasileiro na Inglaterra, e depois na França.  No entanto, apesar do currículo pesado, Joffily afirma que o amigo era um homem teimoso, de personalidade fiel a seus conceitos, e que, acima de tudo, respeitava a si mesmo.

Segundo o diretor, a história está em curso, o que aconteceu ainda está em andamento, e é necessário que “todo mundo tome consciência dessas artimanhas das grandes organizações”.

O filme ainda está disponível nos cinemas do Rio de Janeiro, e logo irá estrear no Globoplay e no Canal Brasil, mas ainda não possui data definida.