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Matérias / Guerras

Guerra ao Natal: O conflito foi real e movido por cristãos

No século 17, a celebração do nascimento de Cristo no dia 25 de dezembro era vista como um vestígio do paganismo

Paula Lepinski Publicado em 09/12/2019, às 14h00

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Governo puritano proibiu todas as árvores e decorações natalinas - Getty Images
Governo puritano proibiu todas as árvores e decorações natalinas - Getty Images

Quando se trata de canções revolucionárias, as tradicionais cantigas de Natal são provavelmente a última coisa que surge na cabeça de alguém. Mas na Inglaterra da metade do século 17, entoar cantigas loas à família, à celebração e ao Menino Jesus era considerado um gesto subversivo, que podia levar alguém à masmorra.

Já faz alguns anos que conservadores religiosos dos EUA vêm dizendo que o hábito de falar Boas Festas! no lugar de Feliz Natal é uma Guerra ao Natal, uma tentativa de ateus liberais de apagar a origem cristã da celebração.

Se há algum mérito no argumento, não está em nossa alçada julgar. Mas a Guerra ao Natal foi real, e foi movida por gente bem diferente. Foram os cristãos mais rígidos a declarar a festa do nascimento de Jesus uma celebração pagã e ilícita.

República puritana

Oliver Cromwell era o Lorde comandante do Exército Novo e líder mais proeminente da Revolução Puritana, que decapitou o rei Carlos I e tornou a Inglaterra uma república entre 1649 e 1660. Estava engajado em uma missão para eliminar do país toda a decadência moral. E o Natal estava no topo de suas prioridades.

Oliver Cromwell / Crédito: Wikimedia Commons

Para Cromwell e outros puritanos, tanto as cantigas quanto as festividades natalinas não eram apenas indecentes, mas também anticristãs. A celebração do nascimento de Cristo no dia 25 de dezembro era vista como um vestígio do paganismo, sem justificativa bíblica e criado pela Igreja Católica Romana, o braço do cristianismo que eles queriam eliminar.

Nada a ver com sexo

Puritanos eram um ramo radical do anglicanismo, o protestantismo nacional britânico. Eles queriam purificar o cristianismo de toda e qualquer ideia que não veio da Bíblia - daí seu nome.

A parte pela qual ficaram famosos, a moral rígida sexual, é um exagero: como outros protestantes, eles acreditavam que sexo dentro do casamento era um prazer lícito, não uma penosa obrigação, como diziam os padres.

Quanto ao Natla, os puritanos tinham uma dose de razão. O Natal é, naturalmente, exclusivo dos cristãos. Mas a Bíblia não dá a data do nascimento de Jesus, foi uma convenção adotada séculos após seu nascimento. A forma como o Natal é celebrado, as tradições de Natal, têm de fato raízes pagãs.

Elas foram canibalizadas pela religião católica ao longo dos séculos, mas algumas entregam de forma dolorosamente óbvia sua origem não cristã, como Krampus, um ser chifrudo ajudando o Papai Noel a punir as crianças malvadas.

"Não ao Natal!"

Sob essa justificativa, em 1644, o Parlamento inglês promulgou um ato que baniu as festividades natalinas.

Dança, teatro, jogos, cantigas e, especialmente, bebidas alcoólicas, tornaram-se crimes graves. Árvores de Natal e outras decorações foram relacionadas a rituais pagãos, e nem a tradicional comida natalina conseguiu se salvar - era proibido comer pudim e tortas nas datas festivas. O comércio era obrigado a permanecer aberto durante todo o dia 25, e havia pessoas que caminhavam pelas ruas gritando “Não ao Natal, não ao Natal!”

Por quase duas décadas, homens, mulheres e crianças comemoraram o Natal em segredo, como um crime, sob risco de perseguição das autoridades republicanas. A restauração da monarquia, em 1660, acabou com a proibição às comemorações ao anular toda a legislação criada entre 1642 e 1660.

O Natal estava de volta para ficar.


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