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Matérias / Pintura

O que o indígena segura nesta pintura de 1937?

Entenda o que causa a expressão perplexa do homem nativo nesta tela criada décadas antes da invenção do celular

Ingredi Brunato Publicado em 06/06/2023, às 16h51 - Atualizado em 16/06/2023, às 09h44

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Montagem mostrando a pintura "Sr. Pynchon e a colonização de Springfield" (1937) - Divulgação/ United States Postal Service
Montagem mostrando a pintura "Sr. Pynchon e a colonização de Springfield" (1937) - Divulgação/ United States Postal Service

"Sr. Pynchon e a colonização de Springfield" é uma pintura fascinante que supostamente representa o colono britânicoWilliam Pynchon (de terno cor-de-rosa), que trabalhava como um negociante de peles, em meio à cidade Springfield, localizada nos Estados Unidos. Outro ponto importante é que a pintura seria ambientada durante o século 17 — período no qual o território norte-americano era uma colônia da Inglaterra. 

Existem, no entanto, muitos elementos que parecem fora de lugar na obra. Segundo apontado por Dr. Margaret Bruchac, uma professora de antropologia da Universidade de Pensilvânia, as vestimentas usadas tanto pelos indígenas quanto pelos homens ingleses não fazem sentido historicamente, e diversos outros objetos presentes na composição possuem o mesmo problema: 

Há tantas coisas erradas com essa imagem que é difícil saber por onde começar. Este artista obviamente nunca tinha visto muitos dos objetos que ele retrata", relatou ela em entrevista à revista Vice em 2017. 

O pintor responsável pela obra-de-arte, aliás, é o italiano Umberto Romano, nascido já no século 20, bem depois dos eventos que buscou retratar com a tela citada, que finalizou em 1937. 

Um detalhe ainda mais relevante, porém, é que Romano possuía um estilo abstrato. Assim, por mais que "Sr. Pynchon e a colonização de Springfield" possua um pano de fundo histórico, se passando durante o período colonial, seu artista não estava realmente interessado em verossimilhança, isso é, em representar as coisas como elas de fato eram. 

Uma boa evidência disso é que, no segundo plano do quadro, é possível ver uma bruxa montada em uma vassoura, o que deixa bem claro a falta de compromisso do pintor com a realidade. 

A pintura inteira / Crédito: Divulgação/ United States Postal Service

Em meio a esse já caótico contexto, contudo, alguns internautas do século 21 chamaram atenção para um outro detalhe interessante do quadro em um fórum do Reddit: um dos indígenas retratados segura um objeto retangular que, para nós que contemplamos o quadro em meio à Era digital, pode ser facilmente interpretado como um celular. 

Além da semelhança no formato do item, a maneira como o indivíduo o segura (com o dedão na frente, posicionado de forma ideal para mexer em uma tela touch screen), e a sua expressão de aparente perplexidade, como se tivesse acabado de ler algo chocante online, contribuem para essa leitura equivocada da obra de arte.

Explicação 

Umberto Romano, é claro, não teria como ter incluído um celular em sua pintura de 1937, já que esse aparelho apenas seria inventado em 1973, mais de três décadas depois. 

Uma explicação a respeito do retângulo, por sua vez, é de que se trataria de um espelho — o ar atônito do nativo, assim, seria justificado por se tratar de um primeiro contato com este utensílio, que teria sido entregue a ele pelos colonos europeus presentes na tela. 

Também em entrevista à Vice, o historiador Daniel Crown explicou melhor a questão: 

Quando Romano pintou o mural, os americanos estavam obcecados com a temática do 'nobre selvagem'. Dado o foco da cena na fundação de Springfield, Romano, de maneira redutiva, provavelmente estava tentando capturar a introdução da modernidade em uma comunidade curiosa, mas tecnologicamente atrofiada, que foi instantaneamente enfeitiçada pelo tesouro de objetos brilhantes de Pynchon", apontou ele.