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Matérias / Che Guevara

As memórias de Juan Martin, o irmão mais novo de Che Guevara

Juan Martin Guevara revela detalhes da vida pessoal de Che, desvendando o homem por trás do mito

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 11/03/2023, às 18h00

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Juan Martin Guevara e imagem de Che ao fundo - Reprodução/Vídeo/YouTube
Juan Martin Guevara e imagem de Che ao fundo - Reprodução/Vídeo/YouTube

Ernesto Guevara de la Serna, mais conhecido mundialmente como Che Guevara, é mais que um homem no imaginário de muita gente, tendo se tornado quase um mito. Fato que comprova isso é a forma como seu semblante, na foto 'Guerrillero Heroico', de Alberto Korda, não só é conhecido como constantemente utilizado por grupos de esquerda em manifestações.

Filho de Ernesto Guevara Lynch e Celia de la Serna, Che nasceu em 14 de junho de 1928 na cidade de Rosário, na província de Santa Fé, na Argentina. E para Juan Martin Guevara, o irmão mais novo de um dos guerrilheiros mais famosos do mundo, o que Che representava era completamente diferente do que o faz conhecido.

"Não é realmente representativo da pessoa que eu conheço. Nem Ernesto, meu irmão, nem Che Guevara. Em todas as fotos que nossa família tem dele, ele está sorrindo ou parece irônico ou cômico", contou Juanem entrevista à CBC em entrevista repercutida no ano de 2017.

Com 15 anos de diferença entre Che e Juan, o caçula lembra do irmão como uma figura prodigiosa e mercurial. Ele tinha apenas cinco anos quando Ernesto partiu para a primeira de suas expedições formativas de motocicleta explorando alguns países da América do Sul.

Cena de 'Diários de Motocicleta' (2004), filme dirigido por Walter Salles que narra aventuras de Che Guevara pela América do Sul em uma motocicleta
Cena de 'Diários de Motocicleta' (2004), filme dirigido por Walter Salles que narra aventuras de Che Guevara pela América do Sul em uma motocicleta / Crédito: Reprodução/Buena Vista International

Ele estava sempre indo e vindo", escreveu Juan em seu livro de memórias, 'Che, My Brother'. "A partir de 1957, fui irmão do lendário Ernesto Guevara, companheiro de Fidel Castro e guerreiro destemido. E depois uma lenda. Aprendi a conviver com isso."

Anos antes de Che

De acordo com o site da CBC, Juan Martin diz que a história de sua família pode ser dividida nos anos pré e pós-Che, separados pelos acontecimentos que levaram Ernesto Guevara de la Serna a se tornar um ícone tão popular e forte. Nos anos pré-Che, ele conta, suas memórias colocam Ernesto no centro de uma casa caótica e excêntrica.

"Ele não era o seu irmão mais velho tradicional, aquele que entrava como uma figura de autoridade quando o papai não estava por perto. Ele era mais um camarada, ou um amigo, alguém com quem eu jogava. Nós íamos ao futebol jogo juntos. Em espanhol, há uma palavra, 'compinche' — você sabe, um amigo — alguém que está com você o tempo todo, seu ajudante", alega Juan.

Alguns sugeriram que vivi à sombra de Che Guevara. Eu sempre digo: 'Não, eu vivo na luz do que é.'"

Apesar da proximidade, Juan admitiu que talvez Ernesto podia ser meio distante das pessoas que amava, dormindo em outro lugar enquanto completava seus estudos de medicina, mas lembra bem que seu irmão mais velho era caloroso consigo. 

Admiração secreta

Nas memórias de Juan Martin, porém, existe uma ambivalência, que hora desejava manter distância da imagem mítica que Che Guevara representava, enquanto ainda admirava o irmão. E o sentimento era compartilhado por toda a família Guevara, que durante anos optou por não falar sobre aquele homem.

Porém, não era por algum tipo de vergonha que a família não anunciava relação com a importante figura da Revolução Cubana. Isso porque Juan, mesmo sendo discreto, chegou a ser preso por oito anos pela junta militar argentina, em uma época em que inúmeros presos políticos constantemente "desapareciam" ou eram jogador de aviões nos oceanos.

"Para mim, anunciar que eu era irmão de Che Guevara não foi uma boa ideia, estando na prisão sob a junta militar. Outros de meus irmãos fugiram do país com medo. Houve atentados, tiros em minha casa por ser da família de Che Guevara", declarou Juan. Porém, só em 2009 que o homem decidiu ser a hora de voltar a falar sobre o irmão, entendendo que devia fazer aquilo.

Juan Martins também confessa acreditar que a figura de Che Guevara é relevante para o conturbado mundo de hoje, conseguindo inspirar os mais jovens e em mudanças. "Che fará parte da história da humanidade. Acho que as ideias de Che continuarão a influenciar o mundo", diz. "Os mitos são terrivelmente difíceis de combater. A maneira como abordo isso é tentar humanizar o homem e você faz isso fornecendo conteúdo, dando substância e conteúdo ao homem."

Fotografia 'Guerrillero Heroico' de Alberto Korda, retratando Che Guevara
Fotografia 'Guerrillero Heroico' de Alberto Korda, retratando Che Guevara / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Carrasco?

Depois da Revolução Cubana, Che Guevara foi responsável por supervisionar os julgamentos e execuções na prisão de La Cabaña, em Havana. Na época, oponentes de Fidel Castro e combatentes favoráveis a Fulgencio Batista foram eliminados, o que marca mais um período sangrento da história de Cuba.

Juan Martin, durante sua adolescência, esteve em Havana em 1959, e chegou a presenciar um desses julgamentos, que achou perturbador. Porém, ele entende que o irmão, embora parecesse uma figura fria frente àquilo, não tinha responsabilidade direta sobre eles.

É importante para mim dizer que [Che] não estava no comando desses julgamentos e execuções. Havia advogados de ambos os lados. Havia um júri. Che não era nenhum deles."

"Meu apoio ao processo revolucionário cubano é inabalável", escreveu ainda em seu livro de memórias. Na época, quando questionado sobre a existência de presos políticos em Cuba, negou que existam: "Entendo o que você está dizendo, ouço claramente, ouvi de outros, mas queria dizer, claramente, não há presos políticos em Cuba."

Por fim, encerrou a entrevista com uma reflexão sobre a história não só de Cuba como da humanidade, e a forma como acredita que as ideias de seu irmão podem influenciar ainda no futuro.

"A história de Cuba faz parte da humanidade, como a história dos EUA, que eu sei que está passando por muitos problemas agora. Você sabe, tudo isso faz parte da história, [e] você não pode dividir a história. [...] Che fará parte da história da humanidade. Acho que as ideias de Che continuarão a influenciar o mundo."