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Matérias / Cuba

Barco pequeno, contratempos e emboscada devastadora: Como começou a Revolução Cubana?

Saiba mais sobre os bastidores da revolução que mudou os rumos históricos de Cuba

TEXTO - Mauricio Manuel / REPORTAGEM - Lilian Hirata Publicado em 12/07/2021, às 15h15 - Atualizado em 01/04/2022, às 08h00

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Respectivamente: Fidel Castro e Che Guevara - Getty Images
Respectivamente: Fidel Castro e Che Guevara - Getty Images

QuandoErnesto Che Guevaraviu, pela primeira vez, o barco que o levaria até Cuba, para dar início à revolução, achou que aquilo fosse uma piada. O Granma – corruptela do inglês grandmother, ou “vovó” – parecia uma lata velha flutuante. Ou melhor, semiflutuante. Sim, porque o iate de 19 metros estava submerso até a metade quando
Fidel Castro o descobriu em Tuxpan, no México, abandonado no Rio Pantepec.

Pertencia a um americano, Robert Bruce Erickson, que achou estar fazendo um negócio da China quando o vendeu por 15 mil dólares ao bando de revolucionários cubanos. Depois de uma reforma básica, o Granma até ficou apresentável. Mas podia levar, no máximo, 20 ocupantes. Os exilados que embarcariam de volta à ilha, carregando armas,
munição, combustível e mantimentos, eram 82. A conta não fechava de jeito nenhum, mas Fidel e seus companheiros, depois de meses de treinamento e planejamento no exílio, não viam alternativa. Já estava passando da hora e era com aquele barco mesmo que a Revolução Cubana teria de começar.

Quem bancou a compra do Granma foi um exilado chique: Carlos Socarrás, o presidente deposto por Fulgêncio Batista, em março de 1952. Socarrás queria voltar à presidência de Cuba, é óbvio, e achou que poderia usar os rebeldes para isso. Fidel agradeceu, nem quis saber se o dinheiro era sujo ou limpo. Mas reconduzir o presidente deposto ao poder não fazia parte de seus planos. Seu governo fora tão corrupto quanto o de Batista
e, àquela altura do campeonato, todo mundo sabia disso. No fim das contas, seria Fidel quem acabaria usando Socarrás para tomar o poder.

A partida foi marcada para 25 de novembro de 1956. Era fundamental zarpar à noite, para não chamar a atenção da polícia mexicana em terra firme, nem da Guarda Costeira em alto-mar. No dia e no horário combinado, estavam todos lá, prontos para cruzar o Golfo do México e o Mar do Caribe. A jornada seria difícil, cerca de 2,2 mil quilômetros de navegação (mais ou menos a distância entre as cidades de São Paulo e Salvador).

O Granma estava incrivelmente pesado. Fora o tanque cheio, com aproximadamente 4,5 mil litros de óleo diesel, levava mais 7,5 mil litros extras, distribuídos em dezenas de galões. O iate também carregava comida para cinco dias de viagem. E uma boa quantidade de armas: dois fuzis antitanque, cerca de 90 rifles, três submetralhadoras Thompson e 40 pistolas, além de muita munição.

Retrato de Che Guevara / Crédito: Getty Images

Não sobrou muito espaço e, mesmo assim, 82 guerrilheiros deram um jeito de se acomodar no Granma. A superlotação e os motores cansados impediam que o iate acelerasse.

“Levamos meia hora apenas para deixar a foz do rio, em Tuxpan, e outra meia hora para atravessar o porto rumo ao golfo do México”, diz Faustino Pérez, um dos rebeldes a bordo, em Diary of the Cuban Revolution (Diário da Revolução Cubana, sem tradução no Brasil).

Sem comunicação

O equipamento de rádio da embarcação não funcionava direito. Recebia as mensagens enviadas pelos agentes da revolução infiltrados em Cuba, encarregados de organizar atentados em várias cidades na hora do desembarque. Mas não permitia que os passageiros do Granma respondessem. Pouca velocidade e falta de comunicação eram problemas sérios. Se a travessia levasse mais tempo do que o previsto, os ataques diversionários teriam de ser retardados e, simplesmente, não havia como falar com o
pessoal em terra.

Por baixo dos panos, simpatizantes de Fidel Castro movimentavam-se em várias cidades
para “recepcionar” o exército rebelde. Na data marcada para o desembarque, 30 de novembro, Celia Sánchez – fundadora do Movimento 26 de Julho – levou para o local 50 homens, caminhões, jipes, comida e armamentos. Enquanto isso, Frank País – outro militante histórico do M-26-7 – preparava-se para atacar bases da polícia em Santiago de Cuba.

O quartel Moncada, aquele mesmo da rebelião de 1953, também seria atacado, com o objetivo de distrair suas tropas e facilitar o deslocamento dos homens de Fidel até Sierra Maestra. Atentados contra instalações militares e prédios públicos ocorreriam simultaneamente num punhado de cidades, de La Villas a Guantánamo.

Tudo parecia muito bem arranjado, mas o plano inteiro desandou por causa de um rádio com defeito. Quando os ataques começaram, no dia 30, o Granma ainda estava a milhas e milhas da costa de Cuba, perto das Ilhas Cayman. O desembarque só aconteceu no dia 2 de dezembro, e em outro lugar, não na praia inicialmente escolhida, em Niguero.

Como foram avistados por um helicóptero antes de alcançar a orla, os guerrilheiros certamente seriam recebidos à bala, se mantivessem o curso original. Acabaram seguindo para Las Coloradas, cerca de 25 quilômetros mais ao sul. Ali, a beira-mar era completamente dominada por manguezais. E o Granma ainda encalhou num recife de coral, obrigando seus ocupantes a descarregar o arsenal com um bote salva-vidas. Foram tantas as dificuldades imprevistas que muitas armas acabaram sendo perdidas durante a
operação.

“Pense no lugar onde eles desembarcaram”, diz Celia Sánchez no livro The Twelve (Os Doze, sem tradução para o português), sobre os primeiros dias da Revolução Cubana. “Se tivessem desembarcado na praia, e não naquele mangue, teriam encontrado caminhões, jipes, gasolina. O resto seria um passeio".

A marcha dos 82 guerrilheiros para Sierra Maestra, onde estariam protegidos pela mata e pelo acesso difícil, pode ter sido tudo, menos um passeio. Para começar, um morador
da região de Las Coloradas viu o desembarque e avisou a polícia. Não demorou quase nada e dois helicópteros das forças de Fulgêncio Batista já estavam na captura dos invasores.

Fidel Castro em um Congresso / Crédito: Getty Images

Por horas, os rebeldes esquivaram-se chafurdando no mangue, às vezes, com lama na altura do peito. No dia seguinte, o primeiro “anjo da guarda” apareceu: Tato Vega, um
lavrador que serviria de guia até as montanhas de Sierra Mestra. A ideia era montar acampamento na mata, conquistar o apoio do povo e recrutar mais guerrilheiros entre os camponeses.

Com ataques frequentes a instalações do Exército, os rebeldes iriam se abastecer de armas e munição. Passariam a controlar uma área do território cubano ao redor das
montanhas. E ampliariam esse domínio progressivamente, até abrir caminho para o avanço final até Havana e a deposição do ditador. Repetiriam o caminho percorrido por José Martí e seus homens na guerra da Independência de Cuba, em 1895.

Traíra de primeira

O que ninguém imaginava era que o “anjo da guarda” se revelaria um traíra de primeira linha. Depois de guiar os guerrilheiros por dois dias inteiros, em meio aos canaviais da região de Alegría de Pío, Vega despediu-se. Era dia 5 de dezembro de 1956. Mal o guia
deu no pé, por volta das quatro e meia da tarde, os pelotões 12 e 13 da Guarda Rural de Batista caíram literalmente matando sobre os rebeldes.

Fidel Castro e seus companheiros tinham sido traídos e foram apanhados numa emboscada mortal. Dos 82 combatentes originais, apenas 12 sobreviveram. Cada um se safou como pode. Eles só se reagrupariam duas semanas depois, já no coração de Sierra Maestra. Finalmente abrigados nas montanhas, Fidel, Guevara, Raúl e Cienfuegos, mais oito sobreviventes do massacre de Alegría de Pío, montaram o primeiro acampamento da revolução.

Os 12 remanescentes logo seriam 20, depois 50, 100... Ataques a pequenas guarnições militares no entorno de Sierra Mestra tornaram-se frequentes. A estratégia era simples: sair do mato, investir contra a guarnição e voltar correndo com todas as armas que pudessem carregar.

A primeira investida foi em janeiro de 1957, contra uma pequena guarnição. Em maio, o grupo partiu para uma empreitada ambiciosa: o quartel do Exército em El Uvero. No dia 20 daquele mês, 80 rebeldes partiram para cima dos 53 oficiais. Seis guerrilheiros morreram, contra 14 do outro lado. Apesar do derramamento de sangue, o resultado da operação foi festejado pela guerrilha.

O exército rebelde precisava desesperadamente de novas armas, e pôde se servir à vontade no quartel. El Uvero representou a “maturidade militar” para seus homens,
segundo Fidel. No fim do ano, os rebeldes eram senhores absolutos de Sierra Maestra e já tinham um quartel-general fixo, funcionando a todo vapor na localidade de La Plata.

O ditador Fulgêncio Batista já pensava em enviar uma força de milhares de soldados para lá, enquanto o irmão de Fidel, Raúl, se preparava para abrir uma segunda frente de batalha. O ano de 1958 prometia muita ação.


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