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Matérias / Acidente radioativo

O homem alvo de um dos maiores acidentes radioativos da História

Hisashi Ouchi passou 83 dias vivendo um verdadeiro pesadelo após sofrer um inimaginável acidente de trabalho

Ingredi Brunato Publicado em 04/02/2023, às 12h00

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Montagem mostrando fotografia de Hisashi Ouchi, e da usina nuclear dentro da qual ele se acidentou - Divulgação/ Domínio Público
Montagem mostrando fotografia de Hisashi Ouchi, e da usina nuclear dentro da qual ele se acidentou - Divulgação/ Domínio Público

Hisashi Ouchi tinha 35 anos quando se tornou a pessoa a receber a maior dose de radiação da História da humanidade durante um acidente de trabalho. 

O homem japonês era um dos empregados da usina nuclear de Tokaimura, e os administradores do local vinham removendo e negligenciando medidas de segurança destinadas à proteção dos trabalhadores durante a manipulação do urânio pelos últimos meses.

O que Hisashi viveu no dia 30 de setembro de 1999, por sua vez, foi uma consequência dessas modificações, que tornaram o que deveria ser um procedimento cotidiano no pior desastre nuclear civil que o Japão havia experienciado até então. O triste título, vale mencionar, foi posteriormente passado para a tragédia de Fukushima, que se deu em 2011. 

Receita catastrófica 

Fotografia da planta nuclear / Crédito: Domínio Público 

Hisachi Ouchi e outros dois trabalhadores de Tokaimura — Masato Shinohara, de 29, e Yutaka Yokokawa, de 54 — faziam a mistura manual de urânio enriquecido e ácido nítrico a fim de gerar combustível nuclear. 

Os protocolos de segurança da época recomendavam que os ingredientes fossem mexidos mecanicamente, mas o trio foi orientado a optar pela alternativa manual a fim de tentar acelerar o processo. 

Outro fator fundamental que levou ao desastre foi a quantidade de urânio utilizada: a medida recomendada para o tanque onde eles despejaram o material era de 2,3 quilos. Em vez disso, foram colocados 16 quilos. As informações foram repercutidas por uma matéria da Folha de S.Paulo de 1999. 

A receita de proporções alteradas fez com que a reação nuclear resultante atingisse seu ponto crítico, a partir do qual ela se torna autossuficiente — isso é, não precisa mais ser alimentada para continuar ocorrendo. 

Essa reação continuaria a gerar radioatividade pelas 20 horas seguintes, levando à evacuação de toda a usina. A estimativa de quantos funcionários foram expostos à radiação varia entre 40 e 50 (destes, 27 precisaram ser internados com urgência como resultado do episódio). 

Ninguém foi tão afetado, todavia, quanto o trio que realizou a reação. Eles mais tarde revelariam ter visto um flash de luz azul antes de desmaiarem. Yokokawa recebeu 3 sieverts de radiação, Shinohara recebeu 10 e Ouchi recebeu 17.

A dose considerada fatal, por sua vez, é de apenas 7 sieverts, conforme informações do portal All That Is Interesting, de forma que, apesar de vários esforços por parte dos médicos, apenas o homem mais velho sobreviveria ao acidente. Os outros dois, infelizmente, receberam sua sentença de morte no momento que a reação havia se tornado crítica. 

As consequências 

Caso único na ciência, quando Hisashi Ouchi chegou ao hospital, foi descoberto que os glóbulos brancos de seu organismo, as células que compõe nosso sistema imunológico, haviam sido quase todos mortos.  

O japonês de 35 anos apresentava vômitos e diarreias constantes, possuía queimaduras causadas por radioatividade cobrindo a pele de todo seu corpo e experienciava uma dor intensa que dificultava sua respiração

Fotografia no cracá de Hisashi Ouchi / Crédito: Divulgação 

Ouchi sobreviveu por mais 83 dolorosos dias, durante os quais foi definhando de forma acelerada a despeito das inúmeras tentativas que a equipe médica fazia de salvá-lo. Ele recebeu diversos enxertos de pele e até mesmo transfusões de células-tronco retiradas da medula espinhal de sua irmã, porém a radioatividade que ainda circulava em seu sangue matava todos os tecidos vivos, impedindo qualquer possibilidade de regeneração. 

Ainda conforme o All That Is Interesting, a família de Hisashi teria insistido que ele fosse reanimado após ataques cardíacos, porém, em 21 de dezembro de 1999, após o homem sofrer uma falência múltipla de seus órgãos, os médicos não conseguiram mais fazer seu coração voltar a funcionar. 

Já a usina nuclear de Tokaimura, cuja empresa administradora precisou pagar milhões em indenizações para as vítimas do desastre, foi desativada apenas em 2011.