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Matérias / Chernobyl

Os relatos do piloto que sobrevoou Chernobyl após o acidente nuclear

O homem passou por cima do reator onde ocorreu a explosão quando ele ainda estava liberando radioatividade

Ingredi Brunato Publicado em 27/08/2023, às 12h00 - Atualizado em 26/10/2023, às 14h09

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Mykola Volkozub em entrevista - Banco de imagens da IAEA e Divulgação/ Youtube/ UATV
Mykola Volkozub em entrevista - Banco de imagens da IAEA e Divulgação/ Youtube/ UATV

Em abril de 1986, o que deveria ser um teste de segurança rotineiro na usina de Chernobyl, localizada na Ucrânia, se tornou o pior desastre nuclear da história da Humanidade quando uma série de erros humanos levaram à explosão de um reator.

O acidente gerou um incêndio que se estendeu por dias, período durante o qual uma grande quantidade de material radioativo foi lançado na atmosfera, contaminando o ar, o solo e os seres vivos em um raio de 20 quilômetros ao redor da usina.

Um detalhe importante é que 31 indivíduos faleceram em decorrência direta da explosão de Chernobyl, segundo os números oficiais. Entre 50 mil e 90 mil pessoas, no entanto, teriam falecido como consequência exposição à radiação liberada pelo desastre nuclear, de acordo com estimativas divulgadas pela IAEA (a Agência Internacional de Energia Atômica). 

Isso, pois, o número de vítimas aumentou ao longo do tempo, à medida que a radioatividade interferia com sua saúde. O câncer, por exemplo, é uma doença comum entre aqueles que sobreviveram ao desastre de Chernobyl

Depois do desastre 

Restos do Acidente Nuclear de Chernobyl de 1986 / Crédito: Divulgação/ Wikimedia Commons

Muitas medições de radioatividade foram realizadas após o acidente no reator da usina, enquanto as autoridades soviéticas — na época, o território estava sob controle da URSS — tentavam entender as dimensões do episódio. 

Uma dessas iniciativas foi protagonizada por Mykola Volkozub, um piloto militar que sobrevoou Chernobyl por três ocasiões diferentes naquele fatídico ano de 1986. O objetivo de suas arriscadas missões era descobrir qual o estado do reator naquele momento, como sua temperatura e a composição dos gases que eram liberados. 

Algumas pessoas podem dizer que não têm medo, mas ninguém não têm medo. A única coisa é que as pessoas percebem o medo de forma diferente (...) Uma pessoa congela de medo, outra é atiçada por ele. Eu tinha que fazer aquilo [sobrevoar o reator]. Sabia que era perigoso", relembrou ele, então aos 87 anos, em uma entrevista de 2019 repercutida pelo NDTV. 

Somando os três voos, seu tempo total passado sobre a usina nuclear foi de apenas 19 minutos e quarenta segundos. Ainda assim, Volkozub foi exposto a tanta radiação que, ao tentar medir a radioatividade presente em seu organismo com dosímetros após a missão, fez os equipamentos entrarem em pane. 

Fotografia meramente ilustrativa de local na Zona de Exclusão da planta nuclear de Chernobyl / Crédito: Getty Images

Essa informação é ainda mais chocante levando em conta que houve grande preparo para a passagem dele pela atmosfera de Chernobyl. Sua aeronave havia sido reforçada com placas de chumbo, por exemplo, que é fundamental à radioproteção devido ao seu efeito de blindagem. O próprio piloto, aliás, fez as viagens usando um colete feito com o metal. 

Vinha me preparando. Foi um processo de preparação muito meticuloso. Fiz todos os cálculos para o helicóptero, seu peso, etc. As interações entre os tripulantes também foram muito bem planejadas", explicou. 

Assim, quando sobrevoou o incandescente reator explodido, Mykola Volkozub estava calmo apesar do medo gerado pelos riscos da situação.

Em 2019, 33 anos depois, o piloto retornou à Zona de Exclusão para rever a paisagem devastada pela radiação. Muita coisa mudou ao longo das décadas, incluindo o próprio reator de Chernobyl, que foi coberto por uma enorme estrutura destinada a manter a radioatividade confinada no local. 

Confira abaixo o trailer da série "Chernobyl", da HBO, que entrevistou o piloto: