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Matérias / Xokleng

Povo Xokleng: os indígenas que quase foram dizimados em Santa Catarina

Capturados e mortos pelos chamados "bugreiros", os Xokleng quase foram dizimados

por Giovanna Gomes

ggomes@caras.com.br

Publicado em 07/02/2023, às 19h00 - Atualizado em 02/06/2023, às 10h21

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Bugreiros com mulheres e crianças indígenas - Divulgação / Acervo SCS
Bugreiros com mulheres e crianças indígenas - Divulgação / Acervo SCS

"Primeiro, disparavam-se uns tiros. Depois passava-se o resto no fio do facão". Este é um trecho de um relato feito pelo "bugreiro" Ireno Pinheiro sobre as expedições de extermínio de indígenas das quais participava no interior de Santa Catarina a mando de autoridades locais.

O relato das expedições, feitas por ele até a década de 1930, consta no livro "Os Índios Xokleng - Memória Visual", publicado em 1997 pelo antropólogo Silvio Coelho dos Santos.

Como explicou o portal BBC News, "bugreiro" compreendia um termo que no passado se referia aos milicianos contratados para dizimar indígenas (ou "bugres", como diziam na época) no Sul do Brasil. Entre os principais povos perseguidos estavam os Xokleng, que viviam em Santa Catarina.

"O corpo é que nem bananeira, corta macio. Cortavam-se as orelhas. Cada par tinha preço. Às vezes, para mostrar, a gente trazia algumas mulheres e crianças. Tinha que matar todos. Se não, algum sobrevivente fazia vingança", revelou Ireno.

Criança do povo Xokleng / Crédito: Divulgação / Acervo SCS

Impacto da imigração europeia

Assim como hoje, há pessoas e entidades que denunciam o genocídio de povos indígenas, também naquela época houve aqueles que denunciaram os crimes aqui cometidos.

No ano de 1908, o etnógrafo da República Tcheca, Albert Vojtech Fric, realizou um importante discurso durante um congresso em Viena, capital austríaca, apontando o impacto da imigração europeia na vida das populações indígenas do Sul do Brasil.

Segundo ele, a "colonização se processava sobre os cadáveres de centenas de índios, mortos sem compaixão pelos bugreiros, atendendo os interesses de companhias de colonização, de comerciantes de terras e do governo".

Na época, a fala teve grande repercussão na Europa, o que acabou por estimular o governo do Brasil a agir, com a intenção de mostrar para a comunidade internacional que se preocupava com a população indígena.

Indígenas xokleng / Crédito: Divulgação / Acervo SCS

Precursor da Funai

Dois anos mais tarde, durante a presidência de Nilo Peçanha, foi criado o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), que seria o órgão precursor da atual Funai.

No entanto, o SPI era inspirado em ideais positivistas e tinha o objetivo de "civilizar" os indígenas e incorporá-los à sociedade brasileira. A mudança surgiria somente com a Constituição de 1988, que reconheceu o direito dos povos indígenas de manterem seus costumes e tradições.

Infelizmente, porém, a criação da SPI não significou o fim das expedições de bugreiros. Na verdade, as perseguições aos Xokleng ainda seguiriam ocorrendo por décadas.

No livro de Silvio Coelho dos Santos, inclusive, há uma entrevista de um bugreiro que diz ter participado de uma expedição para matar pessoas indígenas já durante o governo Getúlio Vargas, que se estendeu entre os anos de 1930 e 1945.

Posto do Serviço de Priteção ao Índio (SPI) / Divulgação / Acervo SCS

Massacre em 1904

Em entrevista concedida à BBC News Brasil no ano de 2021, o líder xokleng Brasílio Pripra, de 63 anos, contou sobre um terrível massacre cometido contra seus antepassados em 1904.

"As crianças foram jogadas para cima e espetadas com punhal. Naquele dia, 244 indígenas foram covardemente mortos pelo Estado", disse Pripra em lágrimas. De acordo com o portal de notícias, o episódio foi descrito no já extinto jornal Novidades, de Blumenau.

"Os inimigos não pouparam vida nenhuma; depois de terem iniciado a sua obra com balas, a finalizaram com facas. Nem se comoveram com os gemidos e gritos das crianças que estavam agarradas ao corpo prostrado das mães. Foi tudo massacrado", escreveu o Novidades.