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Matérias / Machado de Assis

Quem foi a musa inspiradora das obras de Machado de Assis?

Carolina Xavier de Novaes era uma mulher culta que contrariou a família em pleno século 19

Isabelly de Lima, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 04/02/2023, às 20h05 - Atualizado em 02/03/2023, às 20h03

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Machado de Assis e sua esposa, Carolina Xavier de Novaes - Wikimedia Commons / Domínio Público e Arquivo Instituto Moreira Salles
Machado de Assis e sua esposa, Carolina Xavier de Novaes - Wikimedia Commons / Domínio Público e Arquivo Instituto Moreira Salles

Machado de Assis é um dos maiores escritoresbrasileiros da história, e, há poucos anos, um de seus livros, o famoso ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’ ganhou uma versão em inglês e nas livrarias estadunidenses esgotou em apenas um dia. Essa boa recepção foi um ótimo resgate da memória do autor.

Contudo, apesar de ser apontado como um dos escritores latino-americanos mais importantes, ele não é popular no exterior. Inclusive no Brasil, a sua história não é 100% conhecida, ou aspectos importantes dela, como a influência de Carolina Augusta Xavier de Novaes, a portuguesa que foi o grande amor do escritor, na formação de suas obras.

Entre os anos de 1869 e 1904, o casal esteve unido, até que Carolina veio a falecer aos 70 anos de idade. O escritor não teve filhos e passou os seguintes anos terrivelmente abatido pela morte da mulher. Em uma carta escrita por Machado ao amigo Joaquim Nabuco, historiador, é possível ver os sentimentos de Assis por Carolina:

Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo. Note que a solidão não me é enfado­nha, antes me é grata, porque é um modo de viver com ela, ouvi-la, assistir aos mil cuidados que essa companheira de 35 anos de casados tinha comigo; mas não há imaginação que não acorde, e a vigília aumenta a falta da pessoa amada. Éramos velhos, e eu contava morrer antes dela, o que seria um grande favor”, escreveu.

Homenagem ao amor

No ano em que Carolina faleceu, Machado publica seu último soneto, ‘A Carolina’, uma obra poética e comovente. Em 1908, ele publica um romance com toques autobiográficos, ‘Memorial de Aires’. Segundo o registro de Lucia Miguel-Pereira, autora de uma das primeiras biografias sobre o autor, de 1936, alguns detalhes sobre sua morte são ligados à Carolina.

Carolina Xavier de Novaes - Crédito: Divulgação / Arquivo Instituto Moreira Salles

O escritor seria enterrado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, ao lado do túmulo da companheira. Em um gesto delicado, pediu que, assim que morresse, fosse queimado o móvel em que guardava relíquias de amor, tais como as cartas trocadas com Carolina quando eles ainda eram namorados, pedaços do véu de noiva, a grinalda e os sapatos de cetim usados por ela em seu casamento.

Encontro inesperado

Os dois se conheceram através do poeta Faustino Xavier de Novaes, irmão de Carolina, quando ela se mudou para o Rio, aos 32 anos, cinco a mais que Assis. Descrita por Miguel-Pereira como “mulher feita, inteligente, desembaraçada, senhora de si, habituada, na casa paterna, ao trato dos intelectuais”, ela recusava pretendentes.

Segundo a biografia, o namoro não foi aprovado pela família da moça, que fazia parte da elite intelectual, já Machado não tinha reconhecimento social na época. Não ligando para isso, ela casou mesmo assim.Luís Augusto Fischer, professor de literatura brasileira da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, autor do livro ‘Machado e Borges’, explica:

Na hierarquia social, Carolina se uniu, por escolha própria, a alguém de nível abaixo. Ela foi determinante para que ele tivesse estabilidade emocional e também transitasse entre intelectuais”.

A esposa ainda teria sido a pessoa responsável por incentivar o autor a ler em inglês e a conhecer clássicos da literatura britânica, segundo o portal Claudia.

Retrato do autor Machado de Assis - Crédito: Wikimedia Commons / Domínio Público

‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’

Publicado originalmente em 1881, a obra ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’ possui o entendimento de que os primeiros capítulos foram ditados por Machado à sua esposa, que também comentava e opinava nos trabalhos do marido. Francisca de Basto Cordeiro, que conviveu com o casal, descreveu em ‘O Machado de Assis que eu vi’ (1961) que Machado era muito ciumento em relação à mulher.

Assis não permitia que Carolinaparticipasse de conversas com os escritores e homens cultos que os visitavam. “Habituada em sua terra ao convívio de grandes intelectuais, amigos de seus irmãos, ela abdicou de si mesma para se dedicar exclusivamente ao homem que amava e tanto lutou para desposar”, menciona Francisca.