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Matérias / Crimes

O visceral “Caso dos Meninos Emasculados”

Entre os anos 1980 e 1990, crianças foram mutiladas e mortas brutalmente em Altamira; crimes semelhantes também foram registrados no Maranhão

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 03/12/2022, às 00h00 - Atualizado em 16/02/2023, às 20h02

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Imagem ilustrativa - Pixabay
Imagem ilustrativa - Pixabay

Localizada a cerca de 450 quilômetros da capital Belém, a cidade paraense de Altamira ganhou os holofotes do mundo entre o final da década de 1980 e início dos anos 1990. O motivo? Uma série de assassinatos brutais envolvendo crianças entre 8 e 14 anos. 

De início, o caso parecia ser uma onda de sequestros em massa, mas logo se tornou algo muito mais visceral. Afinal: muitas das vítimas eram mutiladas, na região das genitais. Elas também eram alvos de tortura, violência sexual e até mesmo da remoção de órgãos. 

Ao todo, seis crianças foram mortas em tais condições, recorda matéria do Canal Tech. Outras cinco continuam desaparecidas até hoje, cerca de três décadas depois. Por fim, três vítimas conseguiram escapar com vida, mas acabaram sendo castradas. 

O Monstro de Altamira

Quando o caso começou a ser investigado, em meados de 1990, o nome de Rotílio de Souza foi levantado como primeiro suspeito. Morador em situação de rua, ele foi reconhecido por dois sobreviventes. O sujeito chegou a ganhar a alcunha de “O Monstro de Altamira”.

O que chama a atenção, no entanto, é que ele chegou a ser preso, mas morreu em condições suspeitas na cadeia. Segundo matéria do jornal A Gazeta, Rotílio foi encontrado morto dentro de sua cela, porém, ele estava só e também não havia sinais de suicídio. 

Apesar da prisão e morte do “Monstro de Altamira”, os casos continuaram a acontecer — o que obrigou as autoridades paraenses a abrirem outras linhas de investigação. A principal delas apontou para um suposto esquema de venda de órgãos humanos. Visto que muitos corpos apresentavam cortes quase que cirúrgicos e, em algumas situações, órgãos chegaram a ser arrancados, como os olhos. 

Assim, dois novos suspeitos entraram em pauta: Césio Brandão e Anísio Ferreira de Sousa. De acordo com O Globo, eles eram médicos que recentemente haviam se mudado para Altamira após serem aprovados em um concurso público. Apesar de interrogados, foram soltos por um laudo médico apontar que os órgãos retirados seriam inutilizáveis. 

Com todos os rumos considerados inconclusivos, ninguém foi preso e o caso ficou ‘esquecido’ por um tempo. Mas um suposto envolvimento de um ritual satânico tornou as coisas ainda mais assombrosas. 

Lineamento Universal Superior, a seita LUS

Avançamos até o ano de 1993, quando o caso foi reaberto e Anísio e Césio foram detidos novamente. Agora, os indícios apontavam que eles faziam parte de uma seita satânica chamada Lineamento Universal Superior (LUS). 

Fundado por Valentina de Andrade, a seita misturava elementos esotéricos e ufológicos, pregando que as crianças seriam algo maligno. Conforme aponta A Tribuna do Paraná, Valentina escreveu um livro chamado ‘Deus, a grande farsa’ onde afirmava: “Acautelem-se com as crianças, elas são instrumentos inconscientes da grande farsa chamada Deus e seus nefastos colaboradores...".

Por conta de todo este cenário, muitos passaram a fazer um paralelo entre os assassinatos em Altamira e o caso Evandro, que estourou em abril de 1992. O fato é que a suposta similaridade serviu para a polícia indiciar acusados pelas mortes. 

Imagem do garoto Evandro Caetano/ Crédito: Reprodução / RPC

Além dos já citados Anísio e Césio, outros homens foram presos: como um policial militar e o filho de um fazendeiro da região. Valentina seguiu o mesmo rumo, mas acabou inocentada pelo tribunal do júri por falta de provas.

Francisco das Chagas, o serial killer 

Quando tudo parecia resolvido, uma nova onda de sequestros e mortes semelhantes aconteceu. Agora em São Luís do Maranhão. Tudo isso apenas seis meses após os julgamentos.

Ao todo, 30 crianças foram mortas na cidade maranhense. O responsável foi Francisco das Chagas, considerado o maior serial killer brasileiro ainda vivo, aponta o Canal Tech. 

Por conta das semelhanças dos casos, a polícia do Maranhão passou a relacionar os casos, o que levou Chagas a assumir as emasculações em Altamira. Investigações dão conta que ele realmente esteve no Pará nas datas em que os meninos foram mortos. 

Mas as autoridades paraenses contestam essa versão, apontando que Francisco das Chagas foi obrigado a forjar tais confissões ou usado como um bode expiatório para acobertar um peixe maior. 

O serial killer Francisco das Chagas/ Crédito: Gabriel frost via Wikimedia Commons

O que corrobora com isso é que, recorda o Canal Tech, o serial killer foi levado até Altamira para fazer a reconstituição dos fatos e alegou que não conhecia tais locais, além de passar a negar ter sido autor dos assassinatos. Passou-se a especular também que Chagas sofresse de transtornos mentais. Algo nunca provado.

Acontece que, de fato, Francisco das Chagas é acusado de matar e mutilar 42 meninos entre os anos 1989 e 2004, sendo condenado a 580 anos e 10 meses de prisão. Uma das condenações mais recentes aconteceu em 2014, quando ele pegou 108 anos e três meses pelas mortes de Raimundo Nonato da Conceição Filho (de 11 anos), Eduardo Rocha da Silva (10), e Edivam Pinto Lobato (12), no município de Paço do Lumiar (MA). Ele permanece preso até hoje, com 57 anos de idade. 

Por fim, apesar de sua prisão, desde então criou-se uma interminável batalha judicial. Por conta de suas versões darem brechas e impedir um esclarecimento real dos fatos, a Justiça jamais voltou a reabrir o caso — o que faz com que familiares dos outros presos tentem, há décadas, fazer com que a confissão de Chagas seja considerada válida também no Pará.