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Matérias / Revolução Russa

Revolução Russa, Trotskismo e a 'revolução mundial': entenda ideologia marxista que não vigorou

A Revolução Russa e o Leninismo levaram a sociedade soviética a um conflito ideológico esquerdista entre o Stalinismo e o Trotskismo; entenda!

Éric Moreira Publicado em 05/04/2023, às 17h39 - Atualizado em 04/05/2023, às 16h30

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Montagem com emblemática fotografia tirada durante a Revolução Russa e do intelectual marxista Leon Trotsky - Domínio Público via Wikimedia Commons
Montagem com emblemática fotografia tirada durante a Revolução Russa e do intelectual marxista Leon Trotsky - Domínio Público via Wikimedia Commons

Quando se estuda História e o surgimento de diferentes movimentos e ideologias políticas pelo mundo, geralmente se pensa mais em contextos de ruptura de um regime monárquico para o republicano, como ocorreu no Brasil, ou na Guerra Fria, o grande conflito pós-Segunda Guerra Mundial que envolvia, principalmente, os ideais capitalista e comunista.

Entretanto, um contexto importante para se compreender a história dos movimentos de esquerda no mundo, que nem todos conhecem muito bem, é aquele presenciado por onde existem, hoje, a Rússia e outros países da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Antes de surgir a URSS, como foi mais conhecida, aquela região do norte da Europa era conhecida como Império Russo. Da mesma forma como foi o Império Romano ou o Império Britânico, aquela nação era governada pelo equivalente a um rei, no regimes feudais, que lá era chamado de 'czar'.

Queda do Império

No final do século XIX, o grande desenvolvimento econômico do Império Russo levou aquela sociedade a um acelerado processo de industrialização. No entanto, outras nações europeias — geralmente as responsáveis pela criação dessas tecnologias industriais e detentores de uma elite intelectual mais forte — já estavam muito à frente da Rússia Czarista no que se referia às indústrias, o que, para que o império permanecesse forte frente aos outros em questões geopolíticas, era inaceitável.

Com isso, a Rússia foi obrigada a se industrializar e avançar tecnicamente em um ritmo  acelerado, com "saltos", o que levou a sociedade a uma crise: a coexistência entre estruturas novas e arcaicas levaram a uma grande desigualdade naquele povo. Assim, formou-se rapidamente uma grande mão de obra proletariada.

Porém, em 1905 aquela população pobre e amplamente afetada pela desigualdade social se uniu em um movimento espontâneo e, sem uma liderança específica definida, começou o que ficaria conhecido como 'A Revolução Russa de 1905'. No entanto, isso ainda era apenas o começo de algo muito maior: serviu apenas como o marco inicial do que seria a grandiosa 'Revolução Russa', em 1917.

Bolcheviques e mencheviques

Como já mencionado, a Revolução Russa de 1905 foi movida principalmente pela classe proletariada da Rússia, de forma que os ideais Marxistas — que haviam surgido menos de um século antes — já estavam presentes na identidade política daquela sociedade. Porém, nos anos que vigoraram entre 1905 e 1917, o Estado ainda era um império (mesmo que em decadência), além de que o próprio movimento esquerdista se dividiu entre os bolcheviques e os mencheviques.

Liderados por Vladimir Lênin, os bolcheviques acreditavam que a revolução socialista só poderia ser alcançada por meio da ação direta do proletariado, sem a ajuda da burguesia, com uma revolução violenta que estabelecesse um Estado socialista centralizado e forte. Os mencheviques, por outro lado, eram liderados por Julius Martov e acreditavam que a revolução socialista só poderia ser alcançada por meio de uma aliança entre a classe trabalhadora e a burguesia liberal.

No fim, quem liderou e guiou de fato a Revolução Russa, em 1917, foram os bolcheviques. Mas ainda viriam outros conflitos ideológicos de esquerda onde, nesse momento, existia agora a URSS.

Retrato de Vladimir Lênin
Retrato de Vladimir Lênin / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Leon Trotsky

Em meio a todo esse caos político que o Império Russo viveu, surgiu um homem que, posteriormente, viria a ser considerado um importante intelectual político marxista: Lev Davidóvitch Trótskii, ocidentalizado como Leon Trotsky. Nascido em 1879 na Ucrânia, ao longo de sua vida desenvolveu os princípios de um movimento que se popularizaria como Trotskismo

Desenvolvendo a partir de temas centrais como a lei do desenvolvimento combinado e desigual, a crítica à degeneração do Estado soviético (devido à burocratização), a elaboração das características constitutivas da sociedade socialista e o internacionalismo, criou a chamada teoria da Revolução Permanente.

A teoria ganhou força logo após a Revolução de 1905, depois da popularização de um breve texto intitulado 'Balanços e Perspectivas'. Conforme explicado pelo portal UOL Educação, dizia que a revolução socialista só poderia ser alcançada plenamente após um processo histórico gradual, com o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, para então a sociedade alcançar o modelo de democracia parlamentar e, por fim, o socialismo. Trotsky, porém, acreditava que algumas dessas etapas poderiam ser "puladas".

Fotografia antiga de Leon Trotsky
Fotografia antiga de Leon Trotsky / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

'Revolução Mundial'

Um dos fatores que levava Trotsky a acreditar que a nação russa não precisava enfrentar todas as etapas de avanço capitalista para alcançar, então, o socialismo, era o fato de a Revolução de 1905 ter mostrado o poder do proletariado para provocar uma ruptura na ordem social. Portanto, acreditava que a fase de domínio da burguesia e do regime democrático de tipo parlamentar eram dispensáveis.

No entanto, havia ainda uma ressalva em sua teoria, que a diferenciava de outros Estados: em vez de a revolução ocorrer somente dentro do Império Russo, Trotsky salientava que a revolução socialista na Rússia só seria viável se ocorressem processos revolucionários similares em outros países, o que não teve muita aceitação entre os principais líderes revolucionários russos, que preferiam a ideia do Estado centralizado.

Em 1924, Trotsky teve outro texto publicado, 'As Lições de Outubro', onde ratificava a tese de que a revolução só poderia se sustentar caso não ficasse circunscrita e limitada ao território nacional, o que poderia acarretar contradições internas e externas e, até mesmo, no risco de sucumbir.

A partir da nova perspectiva, porém, Trotsky pontuava que a revolução deveria se expandir internacionalmente de modo a provocar o que ele chamava de 'Revolução Mundial'. No entanto, com a morte de Lonin no mesmo ano, o sucessor no comando da União Soviética foi Josef Stalin, que defendia a necessidade de um Estado centralizado e burocrático, que pudesse controlar todos os aspectos da vida social e econômica, sendo um país forte e autossuficiente.

Retrato antigo de Josef Stalin
Retrato antigo de Josef Stalin / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Como era contrário às ideias de Trotsky, que também poderia conquistar mais adeptos e opositores ao regime vigente, logo que chegou ao poder Stalin mandou o ucraniano para o exílio. Nesse período, em 1929 o pensador finalmente terminou de escrever sua teoria da Revolução Permanente e, no dia 21 de agosto de 1940, foi assassinado no México.