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Matérias / Personagem

Sangue no Sertão: A saga cangaceiro Corisco, o Diabo Louro

Líder após a morte de Lampião, o alagoano ficou conhecido pela brutalidade e pouca diplomacia

André Nogueira Publicado em 11/05/2020, às 14h20

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Corisco - Wikimedia Commons
Corisco - Wikimedia Commons

Corisco, principal alcunha do cangaceiro alagoano Cristino Gomes da Silva Cleto, entrou para o banditismo após ser declarado de morte por um coronel de Água Branca, ao matar um de seus homens. O jovem alto, bonito e forte adentrou ao grupo do Capitão Virgulino Lampião. Rapidamente, por suas habilidades físicas (e pouco diplomáticas), ele ganhou a confiança e se tornou principal líder de subgrupo de bandoleiros.

Assim, Corisco ganhou autonomia como comandante de ações, tendo praticamente o próprio bando. Nesse tempo, cometeu diversos crimes violentos, pelos quais era famoso. Pelas poucas palavras, ações sangrentas e mechas douradas, ficou conhecido como o Diabo Louro.

Brutalidade

Uma das ações mais brutais de Corisco foi o sequestro de Dadá. Sequestrada aos 12 anos, ela se casou com o cangaceiro e passou a viver junto a ele, explica "Rainha do Cangaço", da jornalista Adriana Negreiros. Contam às histórias que Corisco aprendeu com Dadá a ser mais gentil e delicado e a relação de ódio e imperatividade entre os dois se tornou um caso de amor.

Corisco e Dadá, em imagem colorizada / Crédito: Rubens Antonio

Ao mesmo tempo em que arisco, o cangaceiro ensinou a esposa a usar armas, ler, escrever e contar, coisa que aprendera antes de entrar para o crime aos 17 anos. Porém, essas habilidades não impediam o líder do cangaço de ser um brutal e sanguinolento bandido.

As abordagens de Corisco corriqueiramente apelavam para a ironia. Ao mesmo tempo em que posava de superior, ele tratava de maneira violenta, e às vezes até sádica, suas vítimas. Lidando dessa maneira com populações pobres, Corisco e Lampião marcaram uma virada no cangaço, que no século 19 não tinha como horizonte possível um trato forçoso e sangrento com as vítimas da exploração sertaneja.

Bando de Lampião, por Benjamin Abraão / Crédito: Domínio Público

O caso de violência mais famoso do Diabo Louro ocorreu após o assassinato do bando de Lampião pelas volantes em Angicos, 1938. Após uma emboscada enquanto os bandidos dormiam, os policiais degolaram onze cangaceiros, entre eles Virgulino e Maria Bonita. Como Corisco e Dadá estavam distantes, na Fazenda Emendada, eles sobreviveram. Tornando-se os novos reis do cangaço, partiram para a vingança.

Atrás dos traidores que entregaram a localização de Lampião à polícia, Corisco descobriu com Joça Bernardo o local da fazenda de um antigo aliado, José Ventura Domingos e, lá, matou e degolou o fazendeiro e sua esposa, crendo completar sua vingança. Depois, matou os filhos de José. Acontece que, na verdade, Corisco fora enganado: o verdadeiro traidor de Virgulino fora o próprio Joca Bernardo, que tapeou o Diabo Louro para fugir.

Tentativa de redenção

Então, as autoridades volantes saíram em busca de Corisco. O governo Vargas aumentara a patrulha e a estratégia contra os cangaceiros, e cada vez mais os líderes erram derrubados. Num ataque, o Diabo foi baleado de uma maneira que sua mão direita ficou paralisada. A partir de então, Dadá se tornou a atiradora do grupo. Suas alianças rapidamente deixaram de existir: os coronéis não gostavam dele, que era muito bruto.

Corisco, por Benjamin Abraão / Crédito: Wikimedia Commons

Por dois anos, Corisco conseguiu fugir das autoridades dos estados e do Exército, sem angariar mais confidentes. Por esse motivo, em maio de 1940, saiu sozinho com Dadá pelo sertão baiano, buscando refúgio. Cortou o cabelo e não pretendia se entregar.

Todavia, antes que isso fosse possível, eles foram novamente abordados pelas volantes: mesmo querendo se entregar, aproveitando a lei de Vargas que anistiava cangaceiros desistentes, ele declarou não ver Zé Rufino, policial que o atacara em Barra do Mendes, como digno de sua captura. Resistindo, foi metralhado na barriga e morreu naquele mesmo dia.

"Não obstante, ao ser morto pelo Aspirante José Rufino, Corisco já não era um cangaceiro. De fato, ele recusou-se a entregar-se, mas já não tinha qualquer condição física de seguir na vida árdua do cangaço. Antes de sua fuga, Corisco cortara os longos cabelos — moda entre os cangaceiros desde que Lampião deixara os seus crescerem —, livrara-se de seus arreios e era um homem impossibilitado de sustentar uma arma longa devido aos ferimentos recebidos nos braços", explica o artigo "O advento do Estado Novo, a morte de Lampião e o fim do cangaço", de jorge Luiz Mattar Villela.