Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Winston Churchill

A vez em que Winston Churchill tentou barrar um filme sobre um personagem de cartoon

Entenda por que o primeiro-ministro britânico não teria aprovado a produção sobre um coronel fictício

Redação Publicado em 25/06/2023, às 17h00 - Atualizado em 07/12/2023, às 14h24

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Cena do filme em que é mostrado o Coronel Blimp - Divulgação
Cena do filme em que é mostrado o Coronel Blimp - Divulgação

Em 1943, os famosos cineastas anglo-húngarosMichael Powell e Emeric Pressburger lançaram um filme com um tom um pouco diferente de seus trabalhos anteriores. 

Os últimos dois longa-metragens elaborados pela influente dupla tiveram uma postura marcadamente favorável ao Reino Unido. Já aquela última produção possuía um tom mais crítico: era "A Vida e a Morte do Coronel Blimp". 

O coronel Blimp, protagonista da história, era um homem que seguiu carreira militar no exército britânico e tinha uma distinta exaltação pelas glórias conquistadas por seu país em batalha. Patriota fervoroso, parecia também incapaz de ver os pontos onde o governo inglês teria cometido erros — como em sua política imperialista na África do Sul. 

Um detalhe particularmente importante a respeito do personagem, todavia, é que ele não fora apresentado ao público por Powell e Pressburger através das telonas, muito pelo contrário. A população britânica já estava bem familiarizada com a figura do coronel Blimp.

Isso porque ele teria sido, na verdade, criado pelo cartunista David Low em uma série de tirinhas publicadas entre as décadas de 30 e 40 em um jornal de circulação nacional da Inglaterra, conforme lembrado por uma matéria recente da BBC. 

O militar fictício, cujos traços marcantes eram seu físico barrigudo e bigodes que lembravam os de uma marmota, serviria para representar tudo aquilo que havia de errado com as Forças Armadas britânicas.

Era uma caricatura popular em meio àquele período, em que a sociedade inglesa se encontrava mais desiludida com a atuação de seu exército nos conflitos bélicos nos quais o país se envolvia. 

Um bom exemplo de quão presente era o coronel Blimp no imaginário dos britânicos da época, aliás, ocorreu em 1942 mesmo, um ano antes do lançamento do filme a respeito da figura, durante um debate sobre a "Situação de Guerra" no Parlamento do Reino Unido. 

O mundo estava, então, em plena Segunda Guerra Mundial, e existia uma insatisfação civil em relação à maneira como as tropas conduziram as batalhas. Abordando a questão, o parlamentar Pethick-Lawrence teria descrito esses problemas como "Blimpery" em referência ao cartoon. 

É em meio a este contexto que o desenvolvimento do filme "A Vida e a Morte do Coronel Blimp" chegou aos ouvidos de Winston Churchill.

'Produção tola'

Winston Churchill / Crédito: Divulgação/ Wikimedia Commons

Após ter acesso a um resumo do enredo do longa-metragem sobre o personagem de cartoon, o primeiro-ministro do Reino Unido decidiu escrever uma carta para Brenden Bracken, que ocupava então o cargo de ministro da Informação, para tentar barrar o projeto. 

Por favor, proponha-me as medidas necessárias para interromper esta produção tola antes que ela vá mais longe", teria dito Churchill, ainda segundo a BBC. 

Bracken, no entanto, se mostrou relutante a atender o pedido. A repressão de produtos culturais, afinal de contas, era algo que havia sido recentemente feito pelo governo nazista na Alemanha, e era amplamente criticado pelas potências ocidentais. 

Um dos grandes tópicos da propaganda política dos Aliados, justamente, era como seu regime democrático seria superior à ditadura de Adolf Hitler. Neste cenário, não pegaria bem tentar censurar um filme. 

O Ministro da Informação respondeu ao governante que, naquele momento, não haviam instrumentos que permitissem a intervenção no cinema por parte das autoridades britânicas. "Para impedir o longa, o governo precisaria assumir poderes de longo alcance", apontou Bracken

O argumento do político foi explicado em uma entrevista à BBC Culture por James Chapman, autor do livro "Os ingleses na guerra: Cinema, Estado e Propaganda", que não teve lançamento no Brasil. 

A linha de Bracken era que a propaganda britânica era voltada para as diferenças entre democracia e ditadura, e que suprimir o filme teria sido o tipo de coisa que os nazistas fizeram. Uma democracia, mesmo em tempo de guerra, tem que ser forte o suficiente para permitir a expressão de vozes dissidentes", observou. 

Assim, "A Vida e a Morte do Coronel Blimp" acabou sendo lançado sem maiores interferências. O resultado é um longa-metragem que busca explorar a juventude do militar caricato, servindo inclusive para deixá-lo mais simpático ao mostrar a trajetória que ele teria traçado até se tornar a figura enfadonha retratada nas tirinhas de David Low.

Cena do filme em que é mostrado o Coronel Blimp em sua juventude / Crédito: Divulgação