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Matérias / Zona de Interesse

Zona de Interesse: O você precisa saber antes de assistir ao filme baseado no Holocausto

Da adaptação de obra até a história real de comandante de Auschwitz, novo filme da A24 já tem data para chegar aos cinemas

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 15/01/2024, às 18h00 - Atualizado em 16/01/2024, às 18h45

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Imagem do filme 'Zona de Interesse' - Divulgação/A24
Imagem do filme 'Zona de Interesse' - Divulgação/A24

No próximo 15 de fevereiro, chega aos cinemas brasileiros o novo longa produzido pela A24: 'Zona de Interesse', vencedor do Grande Prêmio no Festival de Cannes 2023 e selecionado para representar o Reino Unido no Oscar 2024 na categoria Melhor Filme. 

Dirigido por Jonathan Glazer, o filme — que será distribuído pela Diamond Films em toda a América Latina — narra a história de Rudolf Höss (interpretado por Christian Friedel) que desfruta uma vida aparentemente bucólica ao lado de sua esposa Hedwig (Sandra Hüller).

O grande detalhe é que Höss foi um sádico comandante de Auschwitz. Portanto, a produção acompanha a rotina do casal enquanto vivem ao lado do campo de concentração — onde entre 1,1 e 1,5 milhão de pessoas foram mortas durante a Segunda Guerra Mundial

Descubra abaixo tudo o que você precisa saber antes da chegada de 'Zona de Interesse' aos cinemas brasileiros!

1. Adaptação cinematográfica

O novo filme de Jonathan Glazer é uma adaptação do livro 'A Zona de Interesse' (Companhia das Letras), escrito pelo britânico Martin Amis — falecido em maio do ano passado.

Em Auschwitz, a chamada Zona de Interesse, ou 'interessengebiet' em alemão, era o nome dado ao local onde os judeus recém-chegados passavam pela triagem do campo de concentração. 

+ Thomas Geve: O menino que desenhou os horrores de Auschwitz;

O processo servia para determinar quais deles seriam enviados para trabalhos forçados no campo e quais teriam seu destino nas cruéis câmaras de gás.

O romance, segundo sinopse oficial disponível no site da editora, se passa nesse "lugar infernal" em agosto de 1942. A obra é dividida sob a perspectiva de vários narradores, que testemunham o inominável a sua maneira. 

O primeiro é Golo Thomsen, um oficial nazista que está de olho na mulher do comandante. Paul Doll, o segundo, é quem decide o destino de todos os judeus. E Szmul, o terceiro, chefia a equipe de prisioneiros que ajudam os nazistas na logística do genocídio", diz a sinopse. 

Lançado em 2014, o romance imagina a vida social e doméstica dos oficiais nazistas que comandava os campos de extermínio; além de explorar os efeitos que suas indiferenças ao sofrimento humano tiveram em sua psicologia de forma geral. 

Fotografia de judeus no campo de concentração de Auschwitz / Crédito: Wikimedia Commons

"A zona de interesse é um prodígio verbal, além de romance brilhante, celestialmente triste e inspirado por nada menos que uma profunda curiosidade moral sobre os seres humanos. É de cair o queixo", aponta Richard Ford, autor de Independence Day.


2. Comandante de Auschwitz

Veterano da Primeira Guerra Mundial, Rudolf Höss ingressou no Partido Nazista em 1922. No ano seguinte, foi condenado a dez anos de prisão por se envolver no assassinato de um político. No entanto, acabou anistiado em 1928. 

Trabalhando como agricultor em fazendas da Pomerânia, também teve envolvimento com um grupo de nacionalistas que pregava o amor ao solo alemão. Neste mesmo período, conheceu sua esposa, com quem teve cinco filhos entre 1930 e 1943. 

Höss ingressou na SS em 1934, a convite de Heinrich Himmler, sendo enviado para atuar no campo de concentração de Dachau, que ficava próximo a Munique, onde atuou como superintendente de bloco. Após quatro anos, foi transferido para Sachsenhausen e promovido a capitão da SS. 

Richard Baer, Josef Mengele e Rudolf Höss, respectivamente, em 1944 / Crédito: Wikimedia Commons

Rudolf Höss chegou em Auschwitz em maio de 1940. Na Polônia ocupada, recebeu a patente equivalente a de tenente-coronel. Durante três anos, portanto, até 1943, comandou o maior campo de concentração nazista que existia. 

Descrito como frio e desapaixonado, Rudolf jamais participou das seleções para as câmaras de gás ou execuções em massa. Perfeccionista orgulhoso e introvertido, sempre demonstrou preocupação em cumprir seu trabalho com eficiência — independente do sofrimento humano que o mesmo causava. 

O comandante de Auschwitz, aliás, foi responsável por determinar a construção de um espaço específico para o extermínio de vítimas através do uso de Zyklon B — o que o deixou orgulhoso por matar de forma "mais racional". 

Sabíamos quando estavam mortos porque paravam de gritar", afirmou mais tarde durante seu julgamento, "e esperávamos cerca de meia hora para abrir as portas e retirar os cadáveres, quando então nossos comandos especiais lhes tiravam os anéis e lhes extraíam os dentes de ouro".

Após deixar Auschwitz, Höss foi enviado para o escritório central da SS em Berlim, atuando como fiscal geral dos campos. Sua família, porém, permaneceu em Auschwitz; aonde Rudolf voltou a viver em meados de 1944. 

Já na parte final da Guerra, ele foi designado para Bergen-Belsen e ainda participou da evacuação de Sachsenhausen e Ravensbrück. Após o conflito, foi preso pelos britânicos e serviu como testemunha nos Julgamentos de Nuremberg

Conhecido como "uma besta feroz e um sádico cruel", características que ele não via problemas em ser descrito, acabou reconhecendo ser responsável pelo assassinato de milhões de pessoas. Condenado à morte por enforcamento, foi executado em 16 de abril de 1947 perto do crematório de Auschwitz.


3. Rudolf Höss no cinema

Além de ser retratado no novo filme da A24, a história de Rudolf Höss já é conhecida por inspirar outra produção muito conhecida do grande público: 'O Menino do Pijama Listrado'

+ Por que ‘O Menino do Pijama Listrado’ não é indicado para aprender sobre o Holocausto?

"O filme é baseado numa situação real, apesar de a história ser ficção. O comandante de Auschwitz, Rudolf Höss, de fato viveu com a esposa e 5 filhos numa casa colada ao muro do campo", diz Marcio Pitliuk, especialista no Brasil sobre o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial, via StandWithUs, em entrevista exclusiva à equipe do site do Aventuras. 

Cena do filme 'O Menino do Pijama Listrado'/ Crédito: Divulgação
Da janela era possível ver o interior de Auschwitz, e quando no seu julgamento perguntaram o que ele dizia aos filhos ao verem aquelas pessoas esqueléticas, morrendo de fome, quase cadáveres, ele respondeu que dizia aos filhos que não eram pessoas, eram 'Untermensch'", explica o especialista. 

O termo, em alemão, significa 'sub humanos', que era a maneira como os nazistas se referiam aos judeus. Pitliuk também aponta que, assim como no filme, o cheiro que exalava para a casa "era insuportável" e "a visão era horrível".


4. Zona de Interesse 

Apesar da chamada 'Zona de Interesse' ser menos infame, se assim podemos dizer, do que a 'Solução Final' propriamente dita, ainda assim a designação era assustadora. Afinal, o local correspondia a uma área de 40 quilômetros quadrados imediatamente ao redor do campo de concentração de Auschwitz, nos arredores de Oświęcim, na Polônia ocupada. 

Na adaptação cinematográfica da obra de Martin Amis, Jonathan Glazer mapeou o terreno geográfico e psíquico da zona e dos seus habitantes com uma precisão arrepiante, descreve material disponibilizado pela Diamond Films. 

"Tratava-se de criar uma arena", disse Glazer, cujo processo de produção rigoroso e intensamente físico envolveu a construção e filmagem em locações na Polônia. O filme também contou com a utilização de uma rede de câmeras de vigilância para capturar múltiplas sequências encenadas simultaneamente no mesmo edifício. 

A frase que eu sempre usava era 'Big Brother na casa nazista'", diz o cineasta de 58 anos, que ganhou o Grande Prêmio de Cannes no início deste ano por seu quarto longa. 

"Claro, mas era mais como a sensação de 'vamos observar as pessoas no seu dia a dia'. Eu queria capturar o contraste entre alguém servindo uma xícara de café na cozinha e alguém sendo assassinado do outro lado da parede. A coexistência desses dois extremos", finalizou.