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A maldição da múmia

Mortes misteriosas acometeram aos que abriram a tumba de Tutancâmon. Seriam inexplicáveis?

Ramon Botifa Publicado em 08/06/2017, às 12h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h35

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Perigo: infectante - Shutterstock
Perigo: infectante - Shutterstock

Na tumba do jovem Tutancâmon, uma inscrição ameaçava: “A morte tocará com suas asas aquele que perturbar o sono do faraó”. Assim relatou o arqueólogo Howard Carter, mas ele não deu a mínima. Com sua equipe, invadiu a única tumba intacta remanescente do Egito antigo naquele ano de 1922. O financiador da expedição, lorde Carnarvon, também entrou. Desde então, coisas estranhas começaram a acontecer. 

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Uma cobra comeu o canário de estimação de Carter. Pouco tempo depois, lorde Carnarvon foi picado por um inseto. Ao barbear-se, cortou o local. Uma grave infecção se alastrou. Cinco meses depois de ter entrado na tumba, morreu de pneumonia. Os jornais que não tiveram acesso à tumba (Carter tinha feito um contrato de exclusividade com o Times de Londres) resolveram investir nesses fatos “sobrenaturais”. 

Um jornalista disse que as luzes do quarto do lorde acenderam e apagaram sozinhas pouco antes de seu último suspiro. Outro afirmou que a picada em seu rosto ficava no mesmo lugar onde a múmia de Tutancâmon tinha uma cicatriz. Um príncipe egípcio foi assassinado pela esposa ciumenta em um hotel londrino. 

A imprensa não teve dúvidas: a alma de uma princesa egípcia saiu da tumba e possuiu a ciumenta na hora do crime. A lenda da maldição do faraó correu o mundo. Em pouco tempo, dizia-se que, dos 26 membros da equipe, 22 tiveram mortes misteriosas e repentinas.

Blefe

Inscrições ameaçadoras eram comuns em tumbas egípcias. Serviam para amedrontar saqueadores – e eles não eram poucos. Funcionavam tão bem quanto deixar a luz de casa acesa quando se sai de férias . Nos tempos de Cleópatra, há mais de 2 milênios, a maioria das tumbas já tinha sido saqueada. O próprio Tutancâmon mal havia “esfriado” no caixão, cerca de 15 anos depois de sua morte, quando tentaram roubar os tesouros que ele levaria para a outra vida. 

Arqueólogos acreditam que os ladrões foram pegos a tempo pelos guardas que vigiavam o local. Muito tempo depois, no século 19, livros de ficção voltaram a explorar o tema. Nas primeiras décadas do século 20, depois da descoberta de Carter, filmes de terror do cinema alimentaram ainda mais a lenda.

Conta o egiptólogo Zahi Hawass, antigo Ministro das Antiguidades do Egito, que, em 1977, alguns tesouros descobertos na tumba de Tutancâmon em 1922 rodaram o mundo em diversas exposições. O diretor da Organização de Antiguidades Egípcias era Mohammed Mahdy. Ele assinou a autorização para que 50 objetos da tumba fossem enviados aos Estados Unidos e Londres. No mesmo dia, ao sair de seu escritório, no Museu do Cairo, foi atropelado e morreu. Sobre a volta da maldição, seu sucessor, Gamal Mehrez, declarou a um jornalista alemão: “Eu trabalho há 30 anos como arqueólogo, descobri templos, tumbas, múmias, e ainda tenho saúde”. No dia seguinte, morreu de ataque cardíaco fulminante.

Como explicar?

O lorde inglês pode ter morrido de choque anafilático por causa da picada. Os que morreram depois podem ter sido vítimas de doenças pulmonares. Em ambientes fechados, sem luz do sol, cheios de excrementos de morcego, desenvolve-se o fungo causador da histoplasmose, doença pulmonar de difícil cura. Howard Carter morreu de câncer em 1939, aos 66 anos. O resto é o tradicional “quem conta um conto aumenta um ponto”. A própria inscrição que abre este texto nunca foi vista. Dizem que estava numa placa, que se perdeu. Outras existem até hoje. Uma das mais simples e diretas diz: “Eu torcerei seu pescoço como a um ganso”. Isso, fora de Hollywood, nenhuma múmia foi capaz de fazer. 

Um estudo feito pelo epidemiologista Mark Nelson, da Universidade Monash, na Austrália, mostrou que a idade média de morte das pessoas que entraram no túmulo de Tut foi de... 70 anos, a mesma expectativa de vida de contemporâneos. Carter, como vimos, foi aos 66. 

Ninguém jamais achou a tal inscrição na tumba do rei Tut. Supostamente, estava numa tabuleta escondida por Carter. Um membro da equipe afirmou em 1980 que foi uma mentira inventada por Howard Carter e seu mecenas. O propósito era o mesmo que as tumbas antigas: impedir ladrões. Provavelmente, os seguranças armados tiveram um efeito no mínimo tão eficiente quanto.