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Matérias / Nazismo

Hélène Berr: A outra Anne Frank

Vivendo na Paris ocupada pelos nazistas, suas memórias também estiveram num diário. Seu fim foi tão trágico quanto o da jovem Frank

Rita Loiola Publicado em 15/09/2019, às 13h14

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Reprodução
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Abril de 1942. Sob o céu azul da Paris ocupada pelos alemães durante a Segunda Guerra, uma jovem judia de 21 anos caminha despreocupada. Em casa, ela começa a escrever um diário, em que narra a vida de estudante de literatura inglesa na Universidade Sorbonne.

Com o tempo, sua rotina é virada do avesso pela perseguição nazista. No dia de seu aniversário de 24 anos, 8 de março de 1944, Hélène Berr é deportada, para morrer em abril de 1945, no campo de concentração de Bergen Belsen. Poucos dias depois, o local seria fechado pelos aliados.

Reunidas em livro, as memórias de Hélène Berr (O Diário de Hélène Berr – Um Relato da Ocupação Nazista de Paris), a história lembra o diário de outra jovem, a judia holandesa Anne Frank, que também registrou sua saga durante o conflito. Anne morreu um mês antes de Hélène, no mesmo campo de concentração.

“No entanto, os relatos não são parecidos”, afirma Mariette Job, sobrinha de Hélène e responsável pela publicação do livro. “Minha tia não ficou escondida, ao contrário dos Frank. Então, ela descreve o clima de Paris, o dia-a-dia da ocupação”, diz ela.

Quando a estudante foi presa, o diário passou pelas mãos da cozinheira da família, de seus irmãos e de seu noivo, até ser resgatado, em 1992, por Mariette. Em 2002, foi doado ao Memorial de Shoah, em Paris.

Antes de ser lançado, o texto, que mescla descrições lúcidas a citações de William Shakespeare (1564-1616) e John Keats (1795-1821), só foi lido pelos parentes. “Quando percebi sua força, vi que era um dever estender essas reflexões a todos”, diz Mariette. Como em um romance, o leitor segue a voz calma de Hélène até as palavras finais, emprestadas do escritor polonês Joseph Conrad (1857-1924): “O horror! O horror! O horror!”

“Segunda-feira, 1º de novembro: Ninguém nunca saberá o quanto foi devastadora a experiência pela qual passei neste verão. Nada se soube da partida de 27 de março de 42 [do marido da senhora Schwartz]. Falou-se em linhas avançadas no front russo onde os deportados teriam sido usados para explodir minas. Falou-se também em gases asfixiantes pelos quais passaram os comboios na fronteira polonesa. Esses rumores devem ter uma origem verdadeira. E pensar que toda pessoa presa, ontem, hoje, nesta mesma hora, provavelmente terá o mesmo destino terrível. Pensar que isso ainda não acabou, que tudo continua a acontecer com uma regularidade diabólica. Que se eu for presa esta noite (coisa que entrevejo há bastante tempo), em oito dias estarei em Haute-Silésie, talvez morta, que toda minha vida desaparecerá subitamente, com todo o infinito que sinto existir dentro de mim.”