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Matérias / Criastianismo

Os vestígios de Jesus

Seis relíquias que podem mudar o que se sabe sobre as origens do cristianismo

Tiago Cordeiro Publicado em 20/12/2018, às 12h00

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Jesus - Getty Images
Jesus - Getty Images

Prepúcio

O pedaço de pele supostamente retirado do pênis durante a circuncisão circula pela Europa desde o século 8.

Umbigo

O pedaço do cordão umbilical é conhecido há 18 séculos. Hoje fica na Basílica de São João de Latrão.

Berço

Teria sido retirado da manjedoura de Belém e fica em Roma. Já os franceses dizem possuir o feno que cobriu o bebê.

Mesa da Santa Ceia

Também fica em Roma, a capital das relíquias do cristianismo. Mas a toalha que cobriu a mesa fica em Paris.

Manto Sagrado

Usado para cobrir Jesus em suas últimas horas de vida, tem dois exemplares diferentes, na França e na Alemanha.

Chicote romano

Assim como a coluna onde Cristo teria sido amarrado para sofrer a flagelação, o chicote fica em exposição na Itália.

Espinhos da coroa

Como aconteceu com os pregos da cruz, estes se multiplicaram: são centenas, distribuídas por todo o continente.

Sangue

Frascos com gotas do líquido são alvo de veneração de fiéis em pelo menos oito diferentes igrejas europeias.

Santo Graal

São vários os candidatos à taça da última ceia, onde o sangue de Jesus teria sido depois colhido por José de Arimateia. O mais famoso é o Cálice de Dona Urraca, na Espanha.

Relíquia 2: Evangelho da Esposa

Pintura de Maria MadalenaWikimidia Commons

“Evangelho” é uma designação um pouco exagerada para o texto polêmico, descoberto muito recentemente e trazido a público em 2012, pelas mãos da historiadora Karen King, da Universidade Harvard. Poucas linhas de texto apenas parcialmente legível, traçadas sobre uma peça menor do que um cartão de visitas, provocaram um turbilhão de interpretações e análises contraditórias entre si. Por mais de uma vez, o papiro já foi tratado como fraude em definitivo ou como peça de valor histórico incalculável.

A obra inteira, ou ao menos a parte que sobreviveu, tem apenas oito linhas que dizem:

“... não [para] mim. Minha mãe me deu a vi[da]...”

“Os discípulos disseram a Jesus...”

“... nega. Maria [não?] é digna disso...”

“... Jesus lhes disse: ‘Minha esposa...’”

“... ela está apta para ser minha discípula...”

“... Que as pessoas más cresçam em número...”

“... Quanto a mim, eu moro com ela para...”

“... uma imagem...”

Datado entre os séculos 4 e 9 e escrito em copta, uma antiga língua egípcia, o manuscrito foi comprado em 1999 por seu atual proprietário, um colecionador anônimo. Dez anos depois, Karen teve acesso a ele e decidiu purgar seu conteúdo, alegando que se tratava de uma tradução de um evangelho mais antigo, possivelmente elaborado em grego e datado do século 2. A favor da historiadora está o fato de que o papel parece mesmo ser antigo e é impossível comprovar que a tinta seja recente – afinal, papiros velhos são facilmente encontráveis no mercado negro de antiguidades, mas é preciso provar também a autenticidade de seu conteúdo.

O maior dos problemas apontados contra o evangelho surgiu em 2013, quando o pesquisador Christian Askeland, do Instituto de Pesquisa Bíblica em Wuppertal, na Alemanha, pulgou um estudo comparando o chamado Evangelho da Esposa de Jesus com outro texto, uma versão do Evangelho de João também cedido a Harvard pelo mesmo colecionador. Askeland concluiu, de maneira arrasadora: os dois textos são fraudes, cópias alteradas de um papiro antigo publicado em livro em 1923.

Ainda que os céticos tenham razão e o evangelho seja uma fraude, o texto preserva seu impacto. Parece confirmar a tese de Dan Brown a respeito da importância de Maria de Madalena. Nascida provavelmente na cidade de Magdala, na costa ocidental do Mar da Galileia, era uma discípula fiel, que presenciou a morte de Jesus e se preparou para perfumar o corpo morto três dias depois. As lacunas sobre sua história a transformaram em uma personagem ainda mais fascinante. Afinal, não se sabe se era jovem ou idosa, rica ou pobre, e qual exatamente sua relação com Jesus. Seu nome não é citado por nenhum texto posterior ao Novo Testamento, de forma que as circunstâncias de sua morte não são mencionadas. “Importante era ela. Ou então não estaria nos Evangelhos como a primeira pessoa a ver Cristo ressuscitado e receber dele a responsabilidade de pulgar a notícia aos demais”, afirma a professora Candida Moss, especialista no início do cristianismo pela Universidade de Notre Dame.

Mesmo que a autenticidade do Evangelho da Esposa permaneça em discussão, vários dos evangelhos que não entraram para a Bíblia afirmam que Madalena era uma discípula especial, que entendia Cristo melhor do que os demais seguidores e, por isso mesmo, depois da morte de Jesus, vivia em conflitos constantes com Pedro, o primeiro papa. O Evangelho de Filipe, do século 3, vai um pouco mais longe, chama Madalena de companheira de Jesus e menciona beijos constantes entre os dois. Casamento talvez não. Mas não parece haver dúvidas que os dois mantinham uma relação muito especial.

Muitas Marias

Parte da fama – e da incompreensão – que cerca a figura de Maria Madalena é resultado de uma confusão de nomes. Maria era um nome muito comum na região e na época de Jesus os evangelhos citam várias delas. A tradição tende a reunir muitas mulheres, que possivelmente não eram as mesmas, numa única figura, poderosa e influente junto a Jesus. Existem pelo menos duas outras Marias: a mãe de Cristo e a irmã de Lázaro e Marta. E mais: nenhum dos evangelhos canônicos diz o nome da prostituta salva por Cristo com a famosa frase “quem nunca pecou que atire a primeira pedra”. Nada indica, portanto, que Madalena fosse prostituta. O que o Evangelho de Lucas diz sobre a suposta esposa de Cristo é: “Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios”.

Relíquia 3: Ossos de João Batista

João BatistaWikimidia Commons

No tempo de Jesus, a região da Palestina tinha acabado de ser ocupada pelos romanos. Dominados mais uma vez, os hebreus retomaram um hábito antigo, o de procurar pelo Messias que os tiraria do ciclo de derrotas e humilhações que eles vinham atravessando. Jesus não era o único candidato a profeta dessa época, e nem de longe era o mais famoso. Havia outros, como Apolônio de Tiana, Simão, o Mago e Hanina ben Dosa. Em sua época, João Batista também era muito mais conhecido do que Cristo. 

É o que sugerem os textos do judeu Flávio Josefo, escritos no século 1 e fonte independente importantíssima para confirmar que Jesus existiu. Josefo menciona muito mais João do que Jesus. Era de esperar, portanto, que houvesse alguma relíquia ligada a ele. Existem, de fatos, alguns ossos, principalmente dedos, além de quatro cabeças, expostas em diferentes lugares do mundo, todas supostamente de João. Mas a descoberta mais impressionante ligada ao profeta aconteceu em julho de 2010.

Encontrado sob os restos do altar da antiga basílica de Sveti Ivan, na ilha de Sozopol, na costa sul da Bulgária, um pequeno relicário continha um conjunto de seis pedaços de ossos, que foram testados em 2012 pela Universidade de Oxford. O exame indicou que as peças, que pertencem ao crânio, à mandíbula e ao braço, além de um dente, pertencem a um homem do Oriente Médio, que viveu no século 1. Pela maneira como haviam sido preservadas, poderiam ter sido enviadas aos religiosos como um presente oferecido pela igreja cristã instalada em Constantinopla. Quem quer que seja, era alguém importante, com familiares ou seguidores dispostos a armazenar e preservar seus ossos. E foi cremado depois da morte, um costume comum entre os essênios.

João Batista costuma ser enquadrado como um dos líderes desse grupo que vivia afastado da sociedade e pregava a retomada dos costumes mais tradicionais do povo judeu, da maneira como foram definidos por Moisés. Os essênios deixaram textos que, reencontrados a partir de 1946 na Cisjordânia, formariam os famosos Manuscritos do Mar Morto.

O fato é que os textos sagrados alegam que foi Batista quem batizou Jesus, e não o contrário, um dado que apresentou vários problemas para os cristãos que vieram depois. “O fato de que os próprios evangelhos canônicos colocam Jesus numa posição de inferioridade em relação a João cria um estranhamento que os próprios evangelistas tentam contornar”, diz Tom Higham, historiador da Universidade de Oxford que conduziu os estudos sobre os ossos encontrados na Bulgária. João, diz o Novo Testamento, foi morto a mando do governador Herodes Antipas. Segundo Higham, não é impossível que exista, de fato, uma ossada real do profeta. “Herodes admirava João e poderia ter autorizado os seguidores e preservar os restos mortais”, afirma.

É possível que o homem fosse João, mas a tradição certamente afirmava que sim: o relicário que contém os ossos tinha inscrições em grego antigo mencionando o profeta. A prova definitiva não existe – ainda que tenha sido possível extrair o genoma completo dos ossos, não existe uma base de dados dos códigos genéticos dos santos cristãos para estabelecer uma comparação. De toda maneira, evidências tão concretas a respeito de um profeta tão influente, e citado pelo mesmo Flávio Josefo que menciona Jesus, reforçam a tese de que, no mínimo, o fundador do cristianismo realmente existiu.

Relíquia 4: Ossuário de Tiago

Se Jesus tinha irmãos, das duas uma: ou seu pai José vinha de outro casamento com filhos, ou sua mãe Maria nunca foi virgem – ou deixou de ser depois do nascimento de Jesus e voltou a engravidar. Mas o ossuário, pulgado no Canadá em 2002 com a inscrição Ya’akov bar-Yosef akhui diYeshua (ou “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”) era impactante também por outro motivo: seria a primeira vez que o nome de Cristo seria encontrado em um objeto. Dali em diante, ficaria quase impossível duvidar que existiu, sim, um profeta conhecido como Jesus de Nazaré – afinal, a combinação dos três nomes escritos, na ordem de parentesco apresentada, torna quase impossível que se tratasse de um outro Jesus. Parecia bom demais para ser verdade. E era.

Tudo indica que a peça, de 25 centímetros por 50 centímetros, era uma falsificação, que chegou a ser julgada por um tribunal em Israel. Mesmo que não seja, os testes realizados para comprovar sua autenticidade se mostraram inconclusivos e, pior, danificaram o ossuário de maneira que não será mais possível descobrir nada sobre ele. É possível que a peça seja legítima, mas o texto acaba em “Tiago, filho de José”. O falsificador teria acrescentado o irmão de Jesus. A referência ao irmão, e não apenas ao pai, é raríssima em ossuários da época. Sinal de que ou o falsificador era mal-informado ou o ossuário era mesmo diferente e a menção ao irmão se mostrava importante.

O colecionador processado pelo governo de Israel a partir de 2005, Oded Golan, respondia por essas e outras acusações de fraudes – Golan acabou condenado em 2012, mas por negociar peças sem autorização, e não por falsificação. Ele teria comprado o ossuário em 1970, de um vendedor sobre o qual diz não se lembrar de nada. Ao vir a público com todo o impacto em 2002, parecia ser o achado mais importante para os cristãos do século 21.

A peça atuaria em três frentes teológicas importantes. Comprovaria a existência de Jesus, reabriria o debate sobre a virgindade de Maria e traria nova luz para o apóstolo Tiago, um dos mais importantes para as origens da nova fé, mas que acabou vendo sua posição ser derrotada diante das opiniões de Pedro e, principalmente, de Paulo até ser apedrejado até a morte, no ano 62. Primeiro bispo de Jerusalém, ele foi perseguido por uma multidão enfurecida. “Para Tiago, a religião de Jesus estava dentro do judaísmo e servia exclusivamente para judeus circuncidados. Se seguissem esse pensamento, os líderes não teriam levado o cristianismo para tão longe”, diz o professor Mark Goodacre.

As análises sobre a peça despertaram desconfiança desde o começo, ainda que ninguém tenha conseguido provar que a inscrição era falsa – a urna em si, ao que tudo indica, realmente tem 2 mil anos. De toda maneira, não é mais possível fazer novos testes: em 2012, a falta de cuidado de pesquisadores selecionados pelo governo de Israel jogou qualquer nova tentativa por terra porque a camada de limo e resíduos que cobria as letras, e que indicaria a idade do texto escrito ali, foi destruída. De toda maneira, o objeto, suspeito desde o primeiro minuto, foi devolvido em 2013 para Oded Golan. Até hoje ele afirma que foi perseguido pelo governo e que não vê por que alguém duvidaria da autenticidade da relíquia.

Relíquia 5: O evangelho de Judas

Não há motivo para duvidar da autenticidade do texto, descoberto por vendedores de relíquias na década de 1970, oferecido para acadêmicos e preservado em condições deploráveis por três décadas, analisado desde 2001 e anunciado ao mundo em 2006. O problema é: erros na tradução e a pressa na interpretação levaram o mundo a acreditar que o livro defende o apóstolo que teria traído Jesus. Na verdade, não é isso o que está escrito ali. E, apesar do que o nome com que ele foi batizado sugere, não se trata de um evangelho escrito por Judas.

Produzido possivelmente no século 2, o texto segue uma linha de misticismo tão diferente do cristianismo tradicional que deixaram os historiadores sem saber como caracterizar tantas maneiras, tão persas entre si, de caracterizar Jesus e seus ensinamentos. Acabaram agrupando todos com a denominação de “gnósticos”, expressão que vem do grego gnosis e significa “conhecimento”. Encontrados em levas de textos nas ruínas de Nag Hammadi em 1948, de onde surgiram quase todos os textos cristãos apócrifos, estes evangelhos apresentam Cristo como o representante do verdadeiro Deus, muito maior do que o Javé das Escrituras e que, para parte dos autores, tem dois lados, um masculino e um feminino. E descrevem monstros e demônios variados, todos dispersos por este e por outros planos da existência.

“São textos muito diferentes dos canônicos. Eles não se propõem a descrever a vida do filho de Deus, mas a interpretá-la e encaixá-la em um conjunto de forças espirituais grandiosas e que vêm de tradições muito distantes do judaísmo”, afirma Louis Painchaud, professor da Faculdade de Teologia e Ciências Religiosas da Universidade Laval, no Canadá. No geral, para este grupo díspar de autores, a centelha pina está dentro de cada ser humano. Os mais famosos destes evangelhos são os de Tomé, Pedro e Filipe. Mas o de Judas surgiu depois, e de uma maneira que só poderia provocar barulho.

Trata-se de um diálogo fictício entre Jesus e seu discípulo famoso por tê-lo traído em troca de 30 moedas de prata. Na tradução apresentada em 2006, Cristo dizia que Judas fora “separado para uma santa geração”. Acontece que a publicação levou centenas de especialistas em copta, a linguagem original do texto, a se debruçar sobre o evangelho. O que eles perceberam é que ali Jesus diz, na verdade, que Judas fora “separado de uma santa geração”.

“No Evangelho de Judas, Judas continua sendo traidor”, diz Louis Painchaud. Mesmo que a intenção fosse de interpretar o texto de forma literal, seria preciso aceitar que, para esse autor, Deus é uma nuvem luminosa, que criou um panteão de entidades menores que interferem na vida humana. Esses deuses é que teriam gerado o corpo físico de Adamas, o pai espiritual da humanidade, que conhecemos como Adão. Neste Evangelho, Jesus muda de forma, pode aparecer com a aparência de uma criança, e é capaz até mesmo de deixar o mundo físico, visitar o plano celestial e retornar. Judas é citado como um demônio, o 13º, um dos mais importantes – relacionado a Ialdabaoth, o chefe do 13º inferno localizado abaixo da terra.

Ao chamar Judas de Iscariotes, os evangelhos canônicos indicam que ele vem de uma vila ao sul da Judeia, a cinco dias de viagem da Galileia de Jesus e seus outros discípulos. Acontece que a Judeia é que era o centro dos acontecimentos da região na época. Judas pode muito bem ter sido um discípulo importante, por ser nascido em uma área mais central. E, por que não, concordado em entregar Jesus, um gesto sem o qual a morte na cruz e a ressurreição não aconteceriam. Mas não é isso o que transparece do texto gnóstico – o que não quer dizer que não seja uma leitura curiosa para os cristãos acostumados aos relatos mais áridos dos evangelhos tradicionais.

Relíquia 6: O Santo Sudário

Santo SudárioWikimidia Commons

As duas opiniões sobre a peça de tecido que teria coberto o corpo de Jesus são difíceis de digerir. Para parte dos pesquisadores, Cristo marcou o Sudário com seu próprio sangue de uma forma que deixou registrado seu rosto, seu corpo e as marcas de seu martírio. Para os demais, a peça é obra de um artesão extraordinário, com conhecimentos avançadíssimos de anatomia, aplicação de sangue a tecido e técnicas de fotografia – um gênio tão acima de seu tempo que sua obra parece tão milagrosa quanto a versão em que os fieis cristãos preferem aceitar.

Para cada novo teste no tecido, um dos lados do debate parece sair vencedor. Isso porque, independentemente da autenticidade, a peça é extraordinária. Feita de linho e medindo 4,30 m por 1,10 m, ela teria coberto o cadáver nu do filho de Deus por três dias, até que ele ressuscitasse. Ou então mais uma falsificação produzida durante a Idade Média, uma época em que toda igreja de respeito mantinha uma coleção de relíquias de Cristo e dos santos.

A peça, que veio a público no século 14, mostra um rosto perfeito, reproduzível em três dimensões e de traços coerentes com um homem de cerca de 30 anos do Oriente Médio da época – o que por si só já é espantoso, considerando que os artistas da Idade Média, em geral, preferiam retratar Cristo com a pele mais clara e os traços, mais finos. Além disso, as marcas de flagelação e crucificação são coerentes com noções de anatomia que um artista do século 14 não teria, a menos que agredisse e crucificasse um homem para observar os efeitos da tortura.

O primeiro registro conhecido da peça data de 1390 e já é polêmico: em memorando ao antipapa Clemente VII, o bispo Pierre d’Arcis registra que ela é uma fraude e que o autor já havia confessado. Mas esta pode ter sido outra peça, uma das muitas que circulavam pela Europa na época. A versão mais conhecida para sua origem é que ela teria surgido pelas mãos do cavaleiro Geoffroi de Charny.

A crença na autenticidade da peça aumentou no século 19, quando o material foi fotografado e mostrou que o Sudário funcionava como um negativo, que quando revelado expõe o corpo de um homem com grande riqueza de detalhes. Por outro lado, a força do sudário despencou quando um pedaço foi submetido a datação com carbono que indicou que o linho era muito mais novo do que deveria.

O debate parecia encerrado, até que, em 2014, uma nova análise comprovou que os padrões das manchas de sangue combinam com um corpo crucificado à maneira dos romanos. Testes realizados nos últimos anos indicam que o tecido é comum em Jerusalém do século 1 e o pólen que aderiu a ele é bastante comum em Israel. O problema é que, para cada evidência, surgem discussões sobre os métodos aplicados e a amostragem recolhida.

A igreja não costuma se pronunciar sobre o assunto e é rigorosa para liberar amostras do sudário. Mas, em junho de 2015, o papa Francisco visitou a relíquia, que desde 1694 está guardada na catedral de São João Batista em Turim, onde eventualmente é exposta para o público. O pontífice já havia declarado, dois anos antes, que a imagem do Sudário representa o “ícone de um homem”, que convida os cristãos “a contemplar Jesus de Nazaré”. Mas não entrou no mérito da confirmação da legitimidade do tecido. Enquanto os debates sobre a peça continuam, o Sudário continua sendo a relíquia mais imponente da história do cristianismo e um dos objetos mais estudados em toda a história.

Idas e vindas: o caminho do Sudário

Caminho do sudárioWikimidia Commons

Século 14:

O cavaleiro francês Geoffroi de Charny apresenta a peça ao público.

1532:

Um incêndio na capela de Chambery danifica parcialmente o tecido.

1898:

O italiano Secondo Pia fotografa o tecido – o resultado é um corpo em detalhes.

1981:

A pesquisa mais detalhada até então indica que a imagem é formada por sangue.

1988:

A datação de radiocarbono aponta que a peça foi criada entre 1260 e 1390.

2009:

A fotógrafa Barbara Frale encontra textos escritos sobre o tecido.

2011:

Pesquisadores italianos dizem que o tecido foi marcado por um forte clarão de luz.