Mesmo que não existisse um tribunal do Santo Ofício no Brasil, acusados de bruxarias enfrentavam penas severas
M. R. Terci Publicado em 18/08/2019, às 09h00
No século 16, muitas vezes, bastava o cidadão curioso se envolver com determinadas práticas de curandeirismo, uso de raízes ancestrais, difusas no seio das populações, para ser associado a pactos com o demônio e acabar diante da Santa Inquisição.
Apesar da violência com que atuou em Portugal, no Brasil, à época da colônia, nunca foi instaurado um tribunal do Santo Ofício. Houve, contudo, ocasiões em que inquisidores vieram investigar comportamentos, inibir condutas e avaliar a dimensão dos domínios capirotescos em terra brazilis.
Mas inferno mesmo era ter esse míster na colônia. O Santo Ofício não era apreciado pelos habitantes locais e, muitas vezes, seus agentes eram hostilizados e expulsos das vilas.
Em Portugal a sentença mais comum imposta a quem fosse acusado de bruxaria era o exílio no Brasil, de forma que o país ficou repleto de benzedeiras e milagreiras. Assim, em uma terra de expatriados, onde os recursos médicos eram escassos, as correntes formadoras do pensamento religioso propiciaram tolerância maior às práticas de curandeiros, parteiras e xamanismos.
Mesmo assim, as devassas inquisitoriais produziram enorme quantidade de processos bem documentados e condenações por práticas variadas, que iam de benzeduras à blasfêmia.
Ao todo, o Tribunal de Lisboa prendeu 776 homens e 298 mulheres, entre o fim do século 16 e meados do século 18. A maior parte foi aprisionada no Rio de Janeiro, enquanto os demais casos ocorreram fundamentalmente em Pernambuco e na Bahia.
Existiram entre esses casos, acusações específicas de bruxaria, como a de uma certa Custódia, moradora de São João del Rey, acusada de bruxaria por ter em seu poder um patuá feito de ossos, cabelos e espinhos de ouriço embebidos de sangue menstrual.
Antonia Maria, portuguesa degredada em Pernambuco, foi acusada de atentar contra a vida de seus vizinhos que estavam defecando dentes humanos, ervas, espinhas de peixe e cabelos. Houve também o curioso caso de Gaspar Coelho, julgado bruxo por sugerir a igreja que se fizesse hóstias de tapioca.
M.R. Terci é escritor e esteve na legião estrangeira, expoente no gênero fantasia sombria e horror, seus livros mesclam história e o grande cabedal do folclore nacional às tramas autênticas e repletas de criatividade.
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