O escritor Monteiro Lobato - Divulgação
Personagem

Racismo será apagado de novas edições de obras de Monteiro Lobato, segundo bisneta do autor

Cleo Monteiro Lobato quer adaptar os livros excluindo personagens e trechos que apresentam preconceito racial e geram críticas assíduas ao escritor nos dias atuais

Alana Sousa Publicado em 02/12/2020, às 13h00

Uma das obras mais importantes da literatura brasileira e do catálogo de Monteiro Lobato é “A Menina do Narizinho Arrebitado”, que completará cem anos de existência. Pensando nisso, a bisneta do escritor, Cleo Monteiro Lobato, encarregada de adaptar os livros do renomado autor, quer apagar personagens e trechos racistas, tornando a produção menos problemática.

O livro, que foi responsável por apresentar o universo do Sítio do Picapau Amarelo para o país, hoje é motivo de debates acalorados. Muitos estudiosos, fãs, admiradores e críticos condenam frases e conceitos com forte teor de preconceito racial, considerando o próprio autor um racista. Por outro lado, existem aqueles que defendem seu pensamento, limitado por seu tempo.

Por isso, Cleo deseja fazer uma adaptação mais radical, reformulando a obra inteira, excluindo de vez os trechos que atualmente já não são mais bem aceitos. Em adaptações passadas, o texto original continuava intacto, enquanto apenas alguns detalhes, como prefácio e adendos, eram refeitos.

Monteiro Lobato / Crédito: Wikimedia Commons

 

“Eu acho que há passagens problemáticas para quem lê os livros hoje em dia. A gente queria uma versão atualizada, cujo teor fosse compatível com os valores sociais contemporâneos, mas que mantivesse o estilo do Lobato”, disse ela em entrevista à Folha de S. Paulo. “Eu queria que essa versão provocasse essa discussão que provocou, que não é sobre o Lobato, mas sobre o racismo estrutural no Brasil. Essa é a intenção”, explicou.

O livro original permanecerá disponível também, mas sendo de domínio público, possibilita que uma mudança desta magnitude seja realizada. A ideia principal da mulher é que, ao ser lido para crianças, esses trechos não precisem ser reproduzidos — ou explicados cada vez que aparecem na história.

Monteiro Lobato

Nascido em São Paulo, no ano de 1882, Monteiro Lobato é um dos mais aclamados autores brasileiros. Figura importante para a literatura infantil e para a disseminação da cultura dos livros para a televisão. Criador do Sítio do PicaPau Amarelo (1939), suas outras obras incluem: Dom Quixote das Crianças (1936), Memórias de Emília (1936), Serões de Dona Benta (1937).

Crítico assíduo do Estado Novo, sua última entrevista foi dada para a Rádio Record, na qual defendeu a campanha O Petróleo é Nosso; dois dias depois, morreu devido a um espasmo cerebral, em 4 de julho de 1848, aos 66 anos.

Brasil Personagem História Literatura racismo Monteiro Lobato

Leia também

A saga do Mausoléu de Halicarnasso, uma das sete maravilhas do mundo antigo


Pesquisadores recriam em 3D rosto de mulher neandertal de 75 mil anos atrás


Maldição por trás da abertura da tumba de Tutancâmon é desvendada


Pesquisadores relacionam descobertas na Cidade de Davi a evento bíblico


Mistério mesopotâmico de 2,7 mil anos pode ter sido desvendado


Arte original de capa do primeiro 'Harry Potter' será leiloada