Charles Dickens - Divulgação/Free Library of Philadelphia
Personagem

Crueldade com a esposa e amantes: a polêmica intimidade de Charles Dickens

Dickens revelou seu lado sombrio contra a mulher, Catherine Hogarth, com a qual compartilhava 20 anos de casamento e 10 filhos

Vanessa Centamori Publicado em 20/07/2020, às 17h40

Em 1853, o 23º aniversário de Charles Dickens marcou para sempre a vida do escritor. Foi em sua festa como aniversariante que ele conheceu Catherine Hogarth, a primeira e única esposa. "O Sr. Dickens melhora muito ao conhecê-lo de vista", escreveu ela ao primo, depois da celebração. 

Naquele mesmo ano, o romancista trocaria um anel de noivado com a moça de 20 e poucos anos. Em 2 de abril de 1836, Dickens se casou com ela, e escreveu que nunca seria tão feliz quanto naquele momento. Como resultado, o casal teve numerosos filhos.

Entretanto, a paixão avassaladora acabou depois de 10 nascimentos e pelo menos dois abortos. Já se passavam 22 anos de união, quando a esposa foi alvo de um plano terrível — era então revelado o lado sombrio de Dickens. 

O romancista Charles Dickens / Crédito: Wikimedia Commons 

 

Matrimônio conturbado 

Entretanto, no começo da relação, tudo ia bem. Catherine era uma jovem divertida e superior financeira do marido, cuja infância foi marcada pela pobreza. Com o passar do tempo, viu seu cônjuge se tornar homem tão famoso que suas obras foram lidas pela rainha Vitória. 

Dickens viajou muito ao lado da esposa e formou com ela uma bela dupla apaixonada, que curtia festas e feriados juntos. No entanto, o tempo os tornou distantes e até incapazes de morarem na mesma casa. O escritor passou a considerar a mulher descuidada com a aparência e culpou os múltiplos filhos pelos problemas financeiros que eles enfrentavam. 

Após o nascimento de seu último filho, ele ordenou a Catherine que eles dormissem em camas separadas. Esse fato foi relevado por cartas descobertas pelo professor John Bowen, da Universidade de York, do Reino Unido. Os documentos dizem ainda que o gênio literário diagnosticou a esposa como sendo "doente mental", mesmo que ela estivesse sã, para se livrar dela e interná-la em um hospício. 

Catherine Hogarth, a única esposa de Charles Dickens, a quem ele quis mandar para um manicômio / Crédito: Wikimedia Commons 

 

Segundo supôs Bowen, Dickens teria até tentado convencer um médico, chamado Thomas Harrington Tuke, para poder concluir seus planos malignos. Mas, tudo deu errado: o doutor não quis internar Catherine.  Mais tarde, o romancista chegou a se referir a Tuke como um “ser miserável” e um “jumento médico”.

Grande publicitário de si mesmo e com influentes amigos, o escritor também fantasiou um retrato desumano da esposa, em uma carta que convenientemente vazou à imprensa. Em resposta, no último ano de sua vida, Catherine revelaria toda a calúnia a um vizinho, Edward Dutton Cook, que relatou o caso ao jornalista William Moy Thomas.

“No final, [Dickens] descobriu que ela já não era de seu agrado. Tinha parido dez filhos e perdido grande parte de sua beleza. Tornou-se velha. Tentou inclusive encerrá-la em um manicômio, pobre mulher! ”, escreveu Dutton Cook.

Paixões secretas

Enquanto o matrimônio com Catherine ia de mal a pior, em 1855, Charles Dickens voltou a se corresponder com um amor do passado, Maria Beadnell. A antiga amada, então uma mulher casada, se reencontrou pessoalmente com Dickens, mas ele não aprovou a sua aparência e eles não ficaram juntos. 

Mesmo sendo rejeitada, Maria, ainda assim, teria inspirado a personagem Flora Finching, do romance Little Dorrit. Além disso, havia também outra admiradora secreta, para quem o autor, de modo cruel, redigiu uma carta que dizia que Catherine tinha ficado "extremamente gorda". 

Ellen Ternan, amante de Charles Dickens / Crédito: Wikimedia Commons 

 

Outro caso extraconjugal surgiu em 1857, quando o escritor procurava atores para assumir papéis em uma peça patrocinada por ele, The Frozen Deep. Foi aí que o homem de 44 anos acabou conhecendo a atriz Ellen Ternan, uma jovem de 18 anos.

A jornalista inglesa Claire Tomalin, descreve a garota em seu livro The Invisible Woman: "tudo nela indicava inocência e vulnerabilidade. Nos seus pequenos vestidos e argolinhas, ela poderia ter saído de um conto de fadas", registrou a autora. 

O relacionamento entre Dickens e a atriz mais nova foi visto como um escândalo na época. Mesmo assim, ele se separou da mulher em maio de 1858 e começou a namorar com a jovem menina, que se mudou no ano seguinte para uma casa em Londres, possivelmente comprada pelo autor famoso. 

Vida pós-divórcio

O gênio literário adquiriu direitos de custódia exclusiva sob os filhos (exceto o mais velho, Charley) interrompendo o contato da ex-esposa com as crianças. A questão teve apoio da irmã mais nova de Catherine, Georgina Hogarth, que vivia há muito tempo com a família. Ela alegou que a mãe dos pequenos havia negligenciado seus próprios filhos.

Charles Dickens com suas duas filhas / Crédito: Divulgação / National Portrait Gallery

 

Acontece que Georgina ajudou na maior parte da criação dos filhos de Dickens, enquanto Catherine lutava entre os nascimentos e se recuperava fisicamente, e sucumbia à depressão pós-parto. Assim, após o divórcio, a irmã da pobre mulher atormentada continuou a cuidar das crianças — ficando do lado de Charles.

Ele, por sua vez, continuou sua carreira prolífica de escritor na década de 1860, lançando obras como Great Expectations (1861) e Our Mutual Friend (1865). Nesse tempo, a jovem Ellen deixou os palcos e sumiu dos registros por anos, embora haja suspeitas de que ela viveu na França nesse período, onde pode até ter dado à luz um bebê, que morreu na infância.

Depois de 1865, a moça voltou para a Inglaterra, segundo apontaram pistas de um diário de bolso mantido por Dickens. Correspondências tristes do fim da vida do romancista revelaram ainda que Ellen estava insatisfeita com a fama de amante que destruiu um casamento.

No entanto, o relacionamento entre ela e Charles Dickens durou até a morte dele, em 1870, aos 58 anos. Catherine, por sua vez, viveu por vinte anos após a separação, falecendo em 1879, privada do seu papel de esposa e mãe. 


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