Vargas (à esqu.) e Prestes (à dir.) - Wikimedia Commons
Brasil

A diferença entre trabalhismo e comunismo, segundo Brizola

Atualmente, muitos ainda confundem as ideologias, resultando num amplo debate

André Nogueira Publicado em 29/12/2020, às 11h22 - Atualizado às 11h23

Nos dias atuais, os brasileiros ainda confundem o trabalhismo, uma das vertentes mais importantes da política, tendo como desenvolvedores Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, com o comunismo, associado a nomes como Luís Carlos Prestes e Carlos Marighella. 

Por esse motivo, é importante compreender as profundas diferenças entre o projeto social e econômico do trabalhismo com o objetivo revolucionário comunista. Essa distinção já foi plenamente estabelecida desde 1958.

Vargas em retrato oficial /Crédito: Wikimedia Commons

 

Isso porque em 1958, Brizola, jovem político do PTB, concorreu ao governo do estado do Rio Grande do Sul e lançou um manifesto em que repudiava o apoio dos comunistas e definia a distinção entre as correntes de pensamento político.

Brizola determinou aspectos das correntes que são diametralmente opostas. O comunismo, por exemplo, é uma doutrina essencialmente internacionalista, pois o critério da classe é transcendente às fronteiras nacionais.

Ao contrário do trabalhismo, que é fortemente nacionalista. O mesmo pode-se dizer em relação à base das ideias: o comunismo é materialista, baseado em Marx. Segundo Brizola, o trabalhismo “se inspira na doutrina social cristã”.

A principal pauta comunista é a abolição da propriedade privada e a coletivização planificada da economia, o que não coincide com a posição dos trabalhistas em relação ao estatuto da propriedade.

Brizola /Crédito: Divulgação

 

Para eles, é algo defensível dentro de um fim social e uma proposição consonante às demandas do povo. Por isso, o projeto de Reforma Agrária da Bandeira Unificadora (Jango) era baseada na propriedade individual.

Assim, em seu manifesto, Brizola declarou que: “o comunismo escraviza o homem ao Estado e prescreve o regime de garantia do trabalho, o trabalhismo é a dignificação do trabalho e não tolera a exploração do homem pelo Estado nem do homem pelo homem”.

Brizola defendia um projeto socioeconômico para o país que fosse, acima de tudo, nacionalista e, portanto, acima da intriga EUA-URSS.

Ele permitia que fosse banalmente associado ao comunismo: “contra nós, Sr. Presidente, que defendemos os interesses nacionais, chamando-nos de comunistas, procurando excluir-nos da vida pública, quando nos chamam de comunistas. Eu tenho vontade, Senhor Presidente, de dizer o que penso dessa gente, o que eu penso que é o comunismo para essa canalha. Mas, esses, sim, são termos antirregimentais, não poderei pronunciá-los aqui”, afirmou em discurso na Câmara dos Deputados em 1963.

Brizola, assim como seus associados, não era adepto ao anticomunismo da direita conservadora. Sabendo dialogar com grupos diferentes, o governador (e depois deputado) soube articular com o grupo diversas vezes, seja durante o auge da crise do governo Goulart, ou mesmo após seu retorno do exílio, durante as articulações da Frente Democrática e na criação do PDT.

Ao mesmo tempo, ele enxergava na melhoria econômica nacional uma forma de combate ao comunismo: “A grande diferença entre nós e os que nos acusam está em que eles querem combater o comunismo com a polícia, com a violência, com a ilegalidade, com o desrespeito à Constituição e, portanto, com o terrorismo e com a mentira", declarou Brizola num discurso proferido em 20 de outubro de 1961, durante uma conferência no Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. "Querem a implantação do atestado ideológico e querem, principalmente, através destas campanhas odientas, envolver e inutilizar todos os que apontam seus privilégios e querem um Brasil novo e livre. E nós entendemos que a melhor maneira de combater o comunismo está em resolver os problemas que nos afligem”, finalizou.

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