Hannah Arendt e Adolf Eichmann - Foto por Munich Stadtmuseum pelo Wikimedia Commons / Domínio Público via Wikimedia Commons
Hannah Arendt

Há 47 anos, morria Hannah Arendt, filósofa que escapou de Hitler e narrou o julgamento de Eichmann

Os bastidores de histórico julgamento que a filósofa Hannah Arendt testemunhou

Fabiano Onça Publicado em 02/11/2019, às 07h00 - Atualizado em 04/12/2022, às 12h00

Neste domingo, 4 de dezembro, completam-se 47 anos desde a morte de Hannah Arendt, uma filósofa alemã e de origem judaica que, durante a Segunda Guerra Mundial, foi uma das inúmeras vítimas do nazismo. Ela ficou especialmente conhecida por ter acompanhado o julgamento de Adolf Eichmann, um dos principais organizadores do holocausto, em 1961, tendo sido o caso importante para o desenvolvimento de sua expressão mais conhecida, a "banalidade do mal".

Quando o criminoso de guerra Adolf Eichmann foi sequestrado por um comando israelense num subúrbio de Buenos Aires, em 1961, o mundo viu-se diante de um fato inédito. Israel, um estado criado em grande parte por vítimas do holocausto, havia tomado para si a tarefa de prender, julgar e condenar Eichmann, num dramático ato de justiçamento histórico que culminou com sua morte por enforcamento, em junho de 1962.

Na época, a revista americana New Yorker convocou a filósofa alemã Hannah Arendt, ela própria uma vítima do nazismo, para cobrir o evento. O resultado foi reunido no livro 'Eichmann em Jerusalém – Um Relato Sobre a Banalidade do Mal'.

O que Arendt faz é uma demolição do processo. Primeiro, ela expôs as intenções políticas de David Ben Gurion, o primeiro premiê da história de Israel, ao promover o julgamento. Segundo a filósofa, Gurion tinha o interesse de manter viva a memória do holocausto, e essa estratégia criava um terrível constrangimento para a corte: como esperar um julgamento justo, se o resultado já estava definido?

Hannah Arendt, filósofa alemã / Crédito: Foto por Munich Stadtmuseum pelo Wikimedia Commons

 

Em seguida, a filósofa analisa o próprio acusado, que foi um dos maiores responsáveis por organizar a logística dos campos de extermínio. Afastando-se da imagem do carrasco sanguinário, ela mostra que ele era um burocrata medíocre, que só queria fazer seu serviço bem feito.

Finalmente, Arendt demonstra que, em países cuja população se opôs de forma decidida às deportações, os nazistas fizeram vista grossa — como na Dinamarca, onde o rei ameaçou ser o primeiro a utilizar a estrela de David no ombro. Ou seja, havia como lutar e resistir, coisa que muitos Conselhos Judaicos não fizeram.

Adolf Eichmann durante seu julgamento / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

É só no fim do livro que Arendt dá seu próprio veredicto para Eichmann. Para ela, o único motivo pelo qual ele deveria ir para a forca é porque, ao obedecer a uma ideologia que se julgava no direito de dizer quem deveria ou não habitar o mundo, ele também dava o direito à humanidade de não querer partilhar a Terra com ele.

Quanto ao fato de apenas “obedecer ordens”, fica a última lição da filósofa. Para ela, “política não é jardim-da-infância; em política, obediência e apoio são a mesma coisa”.

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