Ilustração da Marquesa de Brinvilliers quando foi presa - Wikimedia Commons
Crimes

Venenos e fugas: A inacreditável trajetória da Marquesa de Brinvilliers, a intoxicadora do século 17

A mulher foi movida pelo ódio e utilizou os pobres como cobaias para testar a substância que, posteriormente, foi destinada a seus parentes

Nicoli Raveli Publicado em 18/05/2020, às 17h00 - Atualizado às 19h30

Marie Madeleine d’Aubray, mais conhecida por marquesa de Brinvillier-La-Motte, era a mais velha entre cinco filhos do senhor de Offémont e de Villiers, Conselheiro de Estado, Visconde de Paris e Tenente Civil, Antoine Dreux d’Aubray.

Ao longo do século 17, a mulher recebeu uma educação exemplar, mas que falhava nos conceitos religiosos e morais da época. Em meio a sua adolescência, Marie conheceu Antoine Cobelin de Brinvilliers, o barão de Nocerar, e casaram-se quando a garota atingiu os 21 anos.

Mas o matrimônio não parecia satisfazer seus desejos sexuais. Logo, ela se envolveu com outro homem: Godin de Sainte Croîx, um amigo do marquês de Brinvillier, que agora viria a ser seu amante.

O fato, todavia, não parecia chocar seu marido, que também dispunha de diversas amantes. Entretanto, o pai da marquesa, ao descobrir a situação, não se conformava com as traições.

Para isso, lutou para que Sainte Croix fosse impedido de ter contato com sua filha. Dessa maneira, o encarcerou na prisão da Bastilha em 1663. Lá, seus anos como prisioneiro – juntamente com outro homem - resultaram no aprendizado de preparação de venenos.

Conspirações com o amante

Quando livre, Godin voltou a procurar sua amada e a contou sobre sua estadia na prisão – e também sobre tudo que havia aprendido. Em um dos momentos, o homem até mesmo a ensinou sobre a preparação de uma bebida tóxica.  

Enfurecida com seu pai devido a prisão de seu amante, Brinvilliers não pensou duas vezes antes de depositar o ódio em uma possível vingança: além de colocar fim ao seu sofrimento e de Godin, a marquesa ganharia a furtuna de seu pai, caso ele morresse.

Não obstante, a mulher passou a testar a substância em seus criados e também em pobres e desvalidos que estavam em um hospital. A partir da mistura do elemento fatal em comidas e bebidas, foi possível observar que a receita de Glaser – como ela chamava o composto – não apresentava indícios de que as pessoas haviam sido envenenadas.

Imagem meramente ilustrativa de frasco de veneno / Crédito: Divulgação/Pixabay

 

A principal vítima

Após diversos testes, a marquesa decidiu focar em sua principal vítima e esperou o momento perfeito para agir. Foi quando seu pai decidiu convidar a marquesa para acompanhá-lo durante uma visita as terras de Offrémont.

Lá, a saúde do senhor começou a piorar e ele passou a vomitar diversas vezes ao dia. Diante a agravação de seu estado, foi decidido que o Conselheiro de Estado teria que ser transferido a Paris para ser atendido por outros médicos.

Sem desconfiar de sua filha, o homem fazia questão de mantê-la por perto em todos os momentos. Dessa maneira, a mulher o acompanhou até a capital da França.

Sem descobrir os sintomas, os profissionais da saúde o liberaram, o que acarretou em mais oito meses que o homem teve contato com o veneno – uma mistura de arsênio e outras substâncias - pelas mãos de Madeleine e de um intermediário, Gascon, que era da confiança de seu amante.

Devido a grande quantidade de substâncias tóxicas, Antoine faleceu aos 66 anos de causas naturais, segundo o relato dos médicos. Todavia, isso não impediu que as suspeitas de envenenamento ganhassem força.

Crimes posteriores

Diante da morte do senhor de Offémont e de Villiers, seu filho mais velho assumiu o posto de conde de Offémont, Conselheiro do Parlamento e Intendente de Orleans, deixando Marie em segundo plano.

Infeliz com a situação, a marquesa decidiu envenená-lo. Em meio a várias tentativas, a mulher contratou La Chaussée para colocar em prática o ato fatal. Em meio a um jantar, o homem depositou o veneno em diversos pastéis, e não demorou a que os irmãos de Madeleine sentissem as consequências das substâncias.

Ilustração de Marie Madeleine e uma de suas vítimas / Crédito: Wikimedia Commons

 

A situação resultou na morte de Antoine e outro irmão. Quando seus corpos foram levados para a autópsia, foi descoberto que ambos tinham sido envenenados.

O laudo médico, porém, não intimidou a marquesa, que já estava escolhendo suas próximas vítimas. Entretanto, muitos de seus planos foram impedidos devido a seus cúmplices, que cada vez desejavam um pagamento maior e a chantageavam.

Foi na mesma época que Madeleine decidiu contar seus planos – e também seus crimes – a Briancourt, um de seus amantes. Logo, o homem mostrou que tinha boa índole ao se estabelecer contra os atos fatais da assassina.

Dessa maneira, ele decidiu avisar as irmãs da marquesa sobre a pretensão que ela tinha de envenená-las. Quando Marie descobriu, Briancourt tornou-se um de seus inimigos. A criminosa até tentou usar a substância contra o homem, mas não obteve sucesso e eles romperam o relacionamento.

A descoberta

Após uma série de mortes, foi a vez de Sainte Croix. Este, todavia, não morreu envenenado pela filha de Antoine, e sim em seu ambiente de trabalho, já que sua máscara havia rachado e ele inalou gases tóxicos.

Ao ter conhecimento da morte, a Madame de Brinvilliers só conseguiu pensar em uma coisa: seu amante tinha um baú com cartas que a comprometiam como autora dos crimes.

Em meio às investigações, as autoridades encontraram os escritos de Marie, que acusavam até mesmo que ela havia contado com a ajuda de Chaussée para realizar os envenenamentos.

Marquesa de Brinvilliers durante o julgamento / Crédito: Wikimedia Commons

 

Dessa maneira, o homem foi procurado e condenado à morte, enquanto a marquesa fugiu para Londres. Lá, o rei Luís XIV, sabendo que a criminosa estava foragida, exigiu que a encontrassem.

Não demorou a que seu paradeiro fosse descoberto. Logo, o soberano declarou sua extradição para a Inglaterra. Sem sucesso, os guardas a perderam de vista, mas a mulher foi encontrada pouco tempo depois nos Países Baixos.

Ela foi detida e conduzida a Maestricht, onde ficou presa e tentou diversas vezes o suicídio. Mais tarde, a marquesa foi transferida para Paris e foi trancafiada em Conciergeríe, onde seu processo teve início.

Primeiramente, Madeleine declarou que era inocente, mas suas cartas diziam o contrário. Dessa maneira, d’Aubray foi condenada pelo envenenamento de seu pai, seus irmãos e pela tentativa de assassinato de suas irmãs.

A tortura de Marie-Madeleine / Crédito: Wikimedia Commons

 

Mais tarde, veio a confessar os crimes e alegou que a mistura continha arsênio, vitriolo e veneno de sapo. Sua confissão, porém, não impediu que ela fosse levada à sala de tortura.

Lá, foi obrigada a beber cerca de sete litros de água, que causavam uma dilatação do estômago e intestino. Posteriormente, Marie foi decapitada e teve seu corpo queimado.


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