Na primeira eleição após a Ditadura Militar, um debate na TV definiu os rumos do Brasil
Alana Sousa, Leonardo Henrique, Penélope Coelho Publicado em 20/10/2019, às 07h00
As eleições de 1989 eram um marco para a política brasileira. Com a economia fortemente abalada — a inflação chegava aos 40% de juros ao mês — e com o povo ainda se recuperando de anos de censura e repreensão, o próximo presidente da república tinha como responsabilidade recuperar o Brasil da crise, tanto econômica, quanto ideológica.
A quantidade recorde de candidatos refletia a vontade da classe política de voltar ao poder, ao todo 22 se candidataram na disputa pela presidência, número que perdura até hoje como o maior.
No primeiro turno das eleições destacaram-se Fernando Collor de Mello (PRN), Leonel Brizola (PDT), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Mário Covas (PSDB) e Paulo Salim Maluf (PDS), com o segundo turno tendo a disputa entre Collor e Lula. Tanto a direita, quanto a esquerda tinham um representante com grandes chances de vitória, o que resultou em uma eleição extremamente disputada.
Cada um dos candidatos construiu sua imagem na mídia, através de entrevistas e debates transmitidos pelas grandes redes de televisão. Lula ainda se atrelava aos seus ideais sindicalistas que pararam o bairro do ABC paulista na década de 70, trazendo para si uma imagem de “líder socialista”, apesar do mesmo afirmar que essa não era a sua intenção. Porém Lula tinha o apoio de candidatos como Leonel Brizola (PDT) e Mário Covas (PSDB), o que lhe trouxe uma grande força para a disputa do segundo turno.
Collor, por outro lado, era um candidato que se baseava muito mais na imagem para atrair os votos. Apelidado como Caçador de Marajás, por suas políticas de moralização do serviço público, usava de frases de efeito e boa estampa nas televisões para conquistar o eleitorado. “Com boa aparência, um discurso carismático e o apoio financeiro do empresariado brasileiro, Collor se transformou na grande aposta da direita” (SOUSA, 2017, p.1). Na reta final das eleições, os debates passaram a ter um peso massivo para os ambos. Os brasileiros consideraram Collor superior nos últimos debates, e esse fator foi decisivo para ser empossado como presidente do Brasil.
Collor x Lula
O debate de 1989 foi transmitido nos estúdios da TV Bandeirantes em São Paulo, constituiu-se em um acordo de transmissão (pool), realizado pelas emissoras: Globo, Bandeirantes, Manchete e SBT.
Discutido até os dias de hoje, o debate eleitoral de 1989 entre Fernando Collor e Luís Inácio Lula da Silva, gera polêmica e diferentes visões acima da transmissão. É certo de que após o debate do segundo turno, Fernando Collor venceu com 53,03% dos votos, sendo a primeira eleição, desde 1960, em que os cidadãos brasileiros foram aptos a votar e escolher seu presidente da república.
Muitos afirmam que a vitória de Collor se deu pela manipulação e edição da Rede Globo no debate. As suspeitas poderiam ser confirmadas com a vitória de Collor nas urnas. Dados mais concretos também podem ser observados: “Um relatório da DENTEL (Departamento Nacional de Telecomunicações), divulgado em 08/12/89, aponta o favoritismo da Rede Globo para Fernando Collor de Mello: ele teria 78,55% mais tempo de divulgação no noticiário político, se comparado ao do seu concorrente Lula, no período de 27/11 a 06/12/89.” (AVELAR, 1992, p. 9).
Em 2011, em entrevista ao Globo News, Boni, então diretor da emissora, afirmou que “Todo aquele debate foi produzido – não o conteúdo, o conteúdo era do Collor mesmo -, mas a parte formal nós é que fizemos”. Até mesmo o ex-presidente Fernando Collor admitiu ter tido uma vantagem sobre Lula. Provando então a teoria que a televisão teria poder suficiente para moldar uma nova realidade, e influenciar o povo que pela falta de acesso a outros meios, se informam apenas pela mídia televisiva.
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