Registro do Bateau Mouche IV - Divulgação/Rede Globo
Brasil

Tragédia em pleno réveillon de 1988: o naufrágio do Bateau Mouche IV

As queimas de fogos foram substituídas pelo caos na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro

Victória Gearini Publicado em 01/01/2021, às 09h00

Durante a virada do ano de 1988, a embarcação de turismo Bateau Mouche IV naufragou na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, enquanto estava em direção a Copacabana. O acidente escandalizou o país e deixou a nação de luto naquele réveillon. 

Inicialmente chamada de Kamaloka, a embarcação Bateau Mouche IV foi fabricada em Fortaleza, no ano de 1970, para ser um barco de pesca. Ao longo do tempo, foi modificada diversas vezes e chegou a receber um terraço suplementar. 

No dia 31 de dezembro de 1988, durante as celebrações do Ano Novo de 1989, a traineira Evelyn Maurício tinha saído de Niterói rumo a Copacabana.

O barco abrigava os pescadores Jorge de Souza, João Batista de Souza Abreu, Marcos Vinícius Lourenço da Silva, Francisco Carlos Alves de Moraes e Jorge Luiz Soares de Souza, além das suas respectivas famílias. Durante o trajeto, avistaram o Bateau Mouche IV.

Reconstituição do interior do Bateau Mouche IV / Crédito: Ivan Sant'Anna

 

A famosa embarcação estava regularizada na visão das autoridades e, na época, era considerada cartão postal. Muito cheio e iluminado, o barco acabou se deparando com fortes ondas.

No momento do acidente, os passageiros se movimentaram para assistir as queimas de fogos, o que levou a uma rápida movimentação de carga nos andares superiores e causando o seu naufrágio, às 23h50. Ao avistarem o acidente, os pescadores e suas famílias logo arremessaram boias, cabos e cordas para salvar as vítimas desesperadas.  

Na época, os pescadores foram considerados heróis por terem retirados os sobreviventes do mar. Inicialmente, as autoridades acreditavam que o acidente tinha sido uma fatalidade do acaso, mas ao longo da investigação, concluíram que a tragédia era responsabilidade da empresa de turismo. Segundo o inquérito, a embarcação transportava mais que a lotação permitida.

O peso

De acordo com a perícia, diversos fatores influenciaram para o ocorrido, entre eles: o excesso de peso de cargas somado ao número de passageiros; o descolamento dos turistas no interior da embarcação e a ineficiência das bombas de esgotamento.

Além disso, também foi apontado que a substituição do piso de madeira para um piso de concreto e o posicionamento incorreto de duas caixas d'água no teto movimentaram o centro de gravidade, o que facilitou o Bateau Mouche IV adernar ao entrar em contato com o mar. 

Com 142 pessoas a bordo, ou seja, o dobro aceito, o naufrágio do Bateau Mouche IV deixou mais de 50 mortos. Entre as vítimas estava a atriz Yara Amaral, que faleceu na hora, e o ex-ministro do Planejamento, Aníbal Teixeira, que sobreviveu ao acidente. O caso foi apurado por autoridades do estado do Rio de Janeiro, e pela Capitania dos Portos.

Rota feita pelo Bateau Mouche IV / Crédito: Ivan Sant'Anna

 

Em maio de 1993, o longo processo judicial condenou os sócios majoritários da empresa Bateau Mouche Rio Turismo, Faustino Puertas Vidal, Avelino Rivera e Álvaro Costa, a quatro anos de prisão em regime semiaberto, por homicídio culposo — quando não há intenção de matar — formação de quadrilha e sonegação fiscal.

No entanto, em 1994, Faustino Puertas Vidal e Avelino Rivera que eram espanhóis, e Álvaro Costa que era português, fugiram para a Espanha. 

Posteriormente, o filho da atriz Yara Amaral, Bernardo Amaral, criou a associação Bateau Mouche Nunca Mais, com o objetivo de defender familiares das vítimas e dar assistência aos sobreviventes.

Anos mais tarde, o caso foi destaque do programa Linha Direta e ganhou um episódio memorável. A atriz Yara Amaral foi interpretada pela colega de profissão Denise Del Vecchio, enquanto o mar foi representado em uma piscina instalada no Projac.

Em 2015, a Editora Objetiva lançou a obra Bateau Mouche: Uma tragédia brasileira, de Ivan Sant'Anna, em que reconstitui os minutos que antecederam o naufrágio do Bateau Mouche.

Por meio de uma investigação minuciosa, o autor revela os bastidores do acidente e apresenta emocionantes histórias de sobreviventes. Segundo Ivan Sant'Anna, o número de mortos só não foi maior graças a bravura dos pescadores, que conseguiram salvar várias vidas.   


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