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Notícias / Van Gogh

Cartas a Theo: As correspondências que mostram outro lado de Van Gogh

Estrela pop ou artista desequilibrado? Livro reúne cartas de Van Gogh e desconstrói figura do pintor holandês

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 24/03/2024, às 08h00 - Atualizado em 26/03/2024, às 07h13

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Retrato de Vincent van Gogh, 1886 - Divulgação/ Museu Van Gogh
Retrato de Vincent van Gogh, 1886 - Divulgação/ Museu Van Gogh

Retratado em filmes e livros, tema de exposições... Vincent van Gogh hoje é mais que um artista, mas também uma figura pop. O quadro 'A Noite Estrelada' estampa camisetas, seus girassóis se tornaram objetos de decoração. O que chega a ser inimaginável para um pintor que vendeu apenas um quadro em sua miserável vida. 

Talvez Deus tenha me feito pintor para aqueles que não nasceram ainda", disse certa vez sobre sua falta de sucesso comercial.

Seu reconhecimento póstumo também se tornou responsável pela criação de um mito — e por sua trajetória ter se tornado um tanto quanto superficial. Mas, afinal, quem era Van Gogh? Quais eram seus receios? Expectativas? Como ele enxergava o mundo? Como ele via a arte? 

Uma das boas maneiras de compreendê-lo é justamente analisando sua produção. E desta vez não estamos falando de seus quadros, mas sim de suas cartas. Durante sua vida, o holandês trocou pouco mais de 900 correspondências — muitas das quais com seu irmão e seu principal pilar: Theodorus van Gogh, o Theo

Theo van Gogh, comerciante de arte - Wikimedia Commons

Parte desse acervo é resgatado no livro 'Cartas a Theo', publicado pela Editora 34. "Em grande medida, o que sabemos sobre van Gogh está atrelado a seu mito, que faz parte da maneira como nossa cultura o enxerga", diz Felipe Martinez, tradutor das cartas em holandês e francês e um dos organizadores da obra, ao lado de Jorge Coli, em entrevista ao site Aventuras na História. 

É impossível responder exatamente quem foi van Gogh, mas com 'Cartas a Theo' propomos uma visão menos atrelada a celebridade, ao ícone da cultura pop".

As cartas

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A capa do livro 'Cartas a Theo' /Crédito: Divulgação

Embora algumas cartas que Vincent escreveu para Theo tenham sido publicadas pela primeira vez em 1914, a seleção das 150 missivas de 'Cartas a Theo' é inédita. Não foram traduzidas para o português ou outras línguas, como o inglês, anteriormente. 

O período compreende desde os tempos de Van Gogh como marchand até seus últimos — e breves — dias como pintor. Além de Theo, a coleção também mostra a troca de correspondências como outros nomes importantes em sua trajetória, como sua cunhada, Johanna van Gogh-Bonger, seu pai e o pintor Paul Gauguin

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"Creio que as cartas ajudam a entender como era a vida de um pintor do século 19, quais problemas ele enfrentava e como seu tom mudava dependendo do correspondente", diz Felipe.  

As cartas também revelam suas decisões e desesperanças; ou então as obras dos pintores que ele admirava; os livros que lia; mas, além de tudo, mostram suas reflexões sobre suas próprias telas. 

São cartas escritas ao longo de mais de uma década, portanto há um assunto principal. Nossa seleção privilegiou as cartas em que ele falava sobre pintura, sobre o mercado de arte de sua época e sobre as questões artísticas de seu tempo", explica.

A influência nas artes

Em um período de nove anos, Vincent produziu quase mil obras, entretanto, nem sempre teve certeza de sua carreira artística. Após sua desilusão como marchand, Van Gogh, ainda na juventude, queria tentar a carreira de pastor — seguindo os passos de seu pai. 

A decisão de se dedicar inteiramente à arte só aconteceu quando ele tinha 28 anos. Suas correspondências ajudam a entender a formação como artista. "Van Gogh tentou a carreira de comerciante de arte e de pastor antes de se tornar artista. Sobretudo na primeira tentativa, ele convivia diariamente com obras de arte e assuntos artísticos".

Theo foi presença fundamental nesse caminho, na medida em que não apenas o ajudou financeiramente, mas também foi seu principal confidente", contextualiza o tradutor. 

Um fato que chama a atenção nas cartas é que também servem como forma de entender a cabeça de Vincent Van Gogh, muitas vezes debatida em relação a sua saúde mental — embora suas cartas pintem um personagem diferente daquele que estamos acostumados a imaginar. 

"Ele trata seus problemas de saúde mental de maneira bastante sóbria. Isso mostra que embora ele tenha sofrido complicações nervosas, sua pintura não pode ser explicada por elas. A obra de van Gogh é um exercício de lucidez, conectada às principais questões artísticas de seu tempo", afirma Martinez

'A Noite Estrelada', de Van Gogh - MoMA The Museum of Modern Art/Wikimedia Commons

Por fim, Felipe Martinez, tradutor e organizador de 'Cartas à Theo', destaca que as missivas do holandês também são de suma importância como produção literária. "As cartas de van Gogh são um documento fundamental para refletir sobre a arte do século 19 e sobre a arte moderna, em geral". 

"Por serem muitas cartas com função de comunicação, nem sempre há uma preocupação com estilo, mas em muitas delas, o artista dá provas de que também escrevia muito bem", finaliza.