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Notícias / Ciência

Fóssil de antigo hominídeo dá pistas de como humanos começaram a andar

Fóssil de 6 milhões de anos do ouvido interno de um Lufengpithecus, um gênero extinto de hominídeo, pode apontar como os humanos se tornaram bípedes

Éric Moreira Publicado em 01/02/2024, às 12h26

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Ilustração representando comportamento locomotor e ambiente do Lufengpithecus - Divulgação/Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados da Academia Chinesa de Ciências/Xijun Ni
Ilustração representando comportamento locomotor e ambiente do Lufengpithecus - Divulgação/Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados da Academia Chinesa de Ciências/Xijun Ni

Recentemente, pesquisadores do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia da Academia Chinesa de Ciências (IVPP) e do Instituto de Relíquias Culturais e Arqueologia de Yunnan (YICRA) realizaram uma análise de um fóssil de 6 milhões de anos.

Se trata do ouvido interno de um Lufengpithecus — gênero extinto de hominídeo, mais próximo aos macacos que nós, Homo sapiens —, e puderam reconstruir, de maneira inédita, como se deu a evolução da capacidade humana de andar com duas pernas, o bipedalismo.

Descobertos originalmente na Província de Yunnan, na China, ainda no início da década de 1980, a princípio, os pesquisadores acreditavam que o fóssil não estava bem preservado, devido à compressão intensa e a distorção dos crânios na região dos ouvidos. Porém, com uma nova tecnologia de digitalização em 3D, detalhes até então ocultos dos crânios puderam ser percebidos.

A equipe criou reconstruções dos canais ósseos do ouvido interno dos fósseis, e, então, as comparou com digitalizações de outros fósseis e indivíduos vivos de macacos e humanos.

Vale mencionar que os canais semicirculares, localizados no crânio, entre o cérebro e o ouvido externo, "são fundamentais para fornecer nosso senso de equilíbrio e posição quando nos movemos", segundo Yinan Zhang, doutorando no IVPP e um dos envolvidos no estudo, em comunicado.

O tamanho e a forma dos canais semicirculares se correlacionam com a forma como os mamíferos, incluindo macacos e humanos, se movem em seu ambiente", complementa. "Usando tecnologias modernas de imagem, pudemos visualizar a estrutura interna de crânios fósseis e estudar os detalhes anatômicos dos canais semicirculares para revelar como os mamíferos extintos se moviam."

A partir das análises, os pesquisadores notaram que os primeiros macacos "compartilhavam um repertório locomotor ancestral ao bipedalismo humano", segundo Xijun Ni, pesquisador do IVPP e líder do projeto. "Parece que o ouvido interno fornece um registro único da história evolutiva da locomoção dos macacos que oferece uma alternativa valiosa ao estudo do esqueleto pós-craniano."

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Evolução 

Terry Harrison, antropólogo da Universidade de Nova York e um dos coautores do estudo, aponta que a evolução do bipedalismo humano pode ser dividida em três etapas.

Na primeira delas, os primeiros macacos e ancestrais dos humanos moviam-se sobre as árvores, de maneira bastante semelhante a que os gibões, localizados principalmente na Ásia, fazem ainda hoje.

Então, em uma segunda etapa, o último ancestral comum entre macacos e humanos já possuía um estilo locomotor semelhante ao do Lufengpithecus, sendo capaz de escalar, se movimentar, ficar suspenso com os membros anteriores e até mesmo ficar sob os dois pés em cima de árvores e no chão. Por fim, no terceiro estágio, todas essas habilidades teriam evoluído para a predominância do bipedalismo nos humanos.

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Por fim, além dessas três etapas, os pesquisadores também sugeriram que as mudanças climáticas tenham influenciado na diversificação motora entre macacos e humanos.

"As temperaturas globais mais frias, associadas à acumulação de calotas de gelo no Hemisfério Norte aproximadamente 3,2 milhões de anos atrás, correspondem a um aumento na taxa de mudança do labirinto ósseo, e isso pode sinalizar um rápido aumento no ritmo da evolução locomotora de macacos e humanos", finaliza Harrison.