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Notícias / Arqueologia

Ossos encontrados em caverna são os mais antigos vestígios de humanos na Europa Central

Descobertos em caverna na Alemanha, ossos com cerca de 45 mil anos sugerem interação entre Homo sapiens e neandertais muito antes do que se pensava na Europa Central

Éric Moreira Publicado em 01/02/2024, às 09h51

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Ilustração representando neandertais (Homo neanderthalensis) em caverna - Domínio Público via Wikimedia Commons
Ilustração representando neandertais (Homo neanderthalensis) em caverna - Domínio Público via Wikimedia Commons

Hoje, não é mistério na comunidade científica que, em algum momento da História, os humanos modernos (Homo sapiens) coexistiram com um "primo" evolutivo já extinto, os neandertais (Homo neanderthalensis). No entanto, um estudo recente publicado na Nature Ecology & Evolution revela que essa coexistência pode ter acontecido muito antes do que se pensava.

Escavações recentes na Ilsenhöhle (caverna de Ilse), localizada em Ranis, na Alemanha, revelaram uma série de fragmentos ósseos associados a artefatos. Vale mencionar que um estudo aponta que a caverna era utilizada de forma intermitente, servindo de abrigo não só para pequenos grupos de hominídeos – provavelmente H. sapiens ou neandertais — que comiam renas, rinocerontes-lanudos e cavalos, como também para abrigar hienas e ursos das cavernas em hibernação.

+ Os primeiros humanos hibernavam?

No entanto, muitos dos fragmentos ósseos ali encontrados eram muito pequenos para que fossem identificados pelos pesquisadores apenas por sua forma. Por isso, foi feita uma análise de proteínas e de DNA nestes restos mortais, o que revelou um total de 13 fragmentos ósseos de Homo sapiens datados de cerca de 44.000 a 47.500 anos atrás.

O senso comum era que esses conjuntos transicionais de artefatos foram feitos principalmente pelos Neandertais tardios", comenta Jean-Jacques Hublin, paleoantropólogo do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, da Alemanha, e coautor do estudo à Live Science. "O que descobrimos [...] é que ele não foi feito pelos Neandertais, mas pelo Homo sapiens que se mudou para a Europa muito antes do que pensávamos."
Ilsenhöhle, abaixo do castelo de Ranis, na Alemanha / Crédito: Fotos por Ansgar Koreng pelo Wikimedia Commons

Conforme repercutido pelo Live Science, uma análise de dentes e ossos de animais da caverna apontou que, na época em que humanos viviam por ali, aquela região da Europa tinha climas muito frios e paisagens de estepe ou tundra, sendo assim bastante semelhantes a como são hoje a Sibéria e o norte da Escandinávia. 

Até recentemente, pensava-se que a resiliência às condições de clima frio só aparecia vários milhares de anos depois, por isso este é um resultado fascinante e surpreendente", afirma em comunicadoSarah Pederzani, arqueóloga da Universidade de La Laguna, na Espanha, e líder do novo estudo. "Talvez as estepes frias com rebanhos maiores de presas fossem ambientes mais atraentes para esses grupos humanos do que se pensava anteriormente."

Chegada dos novos humanos

As descobertas recentes, concluem os pesquisadores, revelam que o Homo sapiens chegou ao noroeste da Europa milhares de anos antes do desaparecimento dos neandertais do continente. "Portanto, temos agora outra peça importante de um quebra-cabeça complicado", que é a interação entre esses dois grupos, diz William Banks, arqueólogo do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica, que não esteve envolvido no estudo, mas publicou um editorial sobre ele na Nature, ao WordsSideKick.com.

"Essas descobertas sugerem que, em vez de o H. sapiens substituir os neandertais na Europa em uma onda rápida de leste a oeste, como se pensava anteriormente, vemos o Homo sapiens colonizar primeiro a parte norte da Europa e viver lá por vários milênios na periferia do Mundo neandertal", complementa Hublin.

Eu diria que o Homo sapiens provavelmente viveu nesses ambientes bastante hostis porque tinha capacidade técnica para se adaptar lá. Não vemos uma onda de Homo sapiens movendo-se para a Europa e substituindo os Neandertais, mas pulsos sucessivos de pequenos grupos movendo-se para novos territórios e, depois de vários milênios, finalmente substituindo completamente os Neandertais", finaliza.