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Notícias / Fóssil de artrópode

Fóssil de artrópode de 465 milhões de anos revela surpresa em seu interior

Estudo sobre artrópode foi publicado na revista Nature, no último dia 27

por Giovanna Gomes

ggomes@caras.com.br

Publicado em 28/09/2023, às 11h59

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Artrópode Bohemolichas incola - Divulgação/Ahlberg et al
Artrópode Bohemolichas incola - Divulgação/Ahlberg et al

Um trilobita fossilizado, datando de 465 milhões de anos atrás, revelou uma incrível descoberta mais de um século após sua localização inicial. O fóssil pertence à espécie Bohemolichas incola, um artrópode pré-histórico, e o exame revelou que o trato digestivo dessa criatura mantém sua última refeição preservada.

Essa descoberta, registrada na revista Nature em 27 de setembro, preenche uma importante lacuna em nosso conhecimento sobre a ecologia dos trilobitas e seu papel nos ecossistemas durante o Paleozoico, um período que abrangeu de 542 milhões a 251 milhões de anos atrás.

Presença de fragmentos

O trilobita fossilizado foi descoberto por Karel Holub, um colecionador particular, em 1908. Desde então, permaneceu abrigado no antigo Museu de Rokycany, localizado na República Tcheca, atualmente parte do Museu da Boêmia Ocidental em Pilsen.

Décadas depois, paleontólogos notaram a presença de fragmentos de conchas visíveis no eixo mediano do tronco do trilobita, sugerindo a presença de conteúdo preservado em seu trato digestivo. No entanto, naquela época, era impossível examinar esses fragmentos sem danificar o raro fóssil.

Graças ao surgimento de métodos de imagem avançados de tomografia síncrotron, finalmente foi possível realizar a análise do artrópode, como destacou a revista Galileu.

Análise do fóssil

De acordo com a fonte, o Bohemolichas incola se tornou um dos primeiros fósseis tchecos a serem examinados no Síncrotron Europeu (ESRF) em Grenoble, França.

Valéria Vaškaninová, da Faculdade de Ciências da Universidade Charles, descreveu o processo: "A obtenção de imagens de cortes, semelhantes às tomografias computadorizadas hospitalares, foi apenas o primeiro passo. Em um segundo procedimento, utilizamos um software de reconstrução para segmentar manualmente as estruturas do fóssil."

"Em seguida, renderizamos seu modelo em 3D em um ambiente virtual, o que aumentou a profundidade da imagem e resultou em uma representação extremamente informativa", explicou.

O que foi encontrado

Os exames revelaram que o Bohemolichas incola era um necrófago oportunista que se alimentava de animais vivos ou mortos, inclusive aqueles com conchas duras.

Mesmo as conchas calcárias com paredes finas não estavam completamente dissolvidas no trato digestivo, o que sugere que o ambiente intestinal do Bohemolichas incola não era ácido.

Essa característica levanta a possibilidade de que o intestino desse artrópode fosse quase neutro ou ligeiramente alcalino, um traço que também pode ser observado em crustáceos e caranguejos-ferradura modernos, indicando que essa pode ser uma característica ancestral compartilhada pelos artrópodes.

Morte do artrópode

Após a morte, o Bohemolichas incola teve um destino irônico. Mesmo sendo um necrófago durante toda a vida, ele foi alvo de ataques por parte de outros pequenos necrófagos.

Surpreendentemente, esses parasitas pouparam o intestino do artrópode, possivelmente percebendo que seu trato digestivo ainda continha enzimas em funcionamento. No entanto, os necrófagos acabaram ficando aprisionados por uma substância sólida que se formou rapidamente ao redor do animal morto.

+ Confira aqui o estudo completo.