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Notícias / Arqueologia

Humanos que viveram na Patagônia há 1,5 mil anos tinham raposas de estimação

Novo estudo sugere que raposa encontrada enterrada junto a humanos na Patagônia argentina teria "forte vínculo" com humanos

Éric Moreira Publicado em 10/04/2024, às 11h58

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Ilustração de como seria uma raposa Dusicyon avus - Foto por Juandertal pelo Wikimedia Commons
Ilustração de como seria uma raposa Dusicyon avus - Foto por Juandertal pelo Wikimedia Commons

Em 1991, foram descobertos em meio à Patagônia da Argentina os restos mortais de pelo menos 24 pessoas e outros pertences pessoais que viveram na região há cerca de 1.500 anos. Um novo estudo que analisou essa descoberta sugere que estes humanos mantinham raposas como animais de estimação, antes mesmo da chegada dos cães europeus na região.

Anteriormente, pensava-se que os cães modernos da região seriam uma mistura de raposas e cães europeus. Porém, aparentemente este não é o caso, e as raposas nativas da Patagônia argentina desapareceram completamente; porém, quando coexistiam com humanos, podem ter sido extremamente ligadas a estes povos.

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O estudo, publicado nesta quarta-feira, 10, na revista Royal Society Open Science, faz o exame de uma sepultura encontrada no sítio Cañada Seca, a cerca de 210 quilômetros ao sul de Mendoza, na Argentina, em que uma raposa foi encontrada enterrada junto a uma pessoa. Este animal teria pertencido à espécie extinta Dusicyon avus.

Segundo Ophélie Lebrasseur, zooarqueóloga da Universidade de Oxford e coautora do novo estudo em e-mail à WordsSideKick.com, a raposa aparentemente foi enterrada deliberadamente ao lado da pessoa na sepultura. "Provavelmente tinha algum tipo de relacionamento profundo com a sociedade de caçadores-coletores e com aquele indivíduo em particular", afirma.

Ossos de raposa encontrados na Patagônia / Crédito: Divulgação/Francisco Prevosti

Convivência com raposas

A partir de uma análise dos isótopos de carbono e nitrogênio, os pesquisadores puderam descobrir a partir dos ossos da raposa que sua dieta era rica em plantas, e bastante semelhante à da pessoa da sepultura. Geralmente, raposas selvagens se alimentavam muito mais de carne, o que sugere que o animal enterrado comia basicamente o mesmo que aquele humano.

A explicação mais plausível é que esta raposa era uma companheira valiosa para os grupos de caçadores-coletores", escrevem os autores no estudo. "Seu forte vínculo com indivíduos humanos durante sua vida teria sido o principal fator para sua colocação como bem funerário após a morte de seus proprietários ou das pessoas com quem interagiu".

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Vale mencionar que os cães modernos entraram no continente sul-americano há cerca de 4 mil anos, junto de outros povos humanos, mas há 3 mil anos sua propagação parou na região norte da atual Patagônia. A evidência destes animais naquela área data somente do século 16, quando sociedades indígenas começaram a criar cães de ascendência europeia.

No entanto, a hipótese de que os cães que podem ser encontrados hoje sejam uma mistura entre cães e raposas é descartada, pois análises de DNA mostram que estes descendentes teriam sido inférteis. As raposas Dusicyon avus foram extintas devido às mudanças climáticas, ao passo que os humanos tomavam cada vez mais seus habitats, o que aconteceu em paralelo à chegada dos cães europeus na região.