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Notícias / Auschwitz

'Não pareciam humanos': As impressões do homem que abriu o portão de Auschwitz pela primeira vez

Em 1945, Anatoly Shapiro comandou o grupo de soldados russos que libertou os primeiros 500 prisioneiros de Auschwitz

por Giovanna Gomes

ggomes@caras.com.br

Publicado em 19/01/2023, às 13h32 - Atualizado em 26/01/2023, às 17h51

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À esquerda, o portão de Auschwitz; à direita, o oficial soviético Anatoly Shapiro - Getty Images / Wikimedia Commons / GB77
À esquerda, o portão de Auschwitz; à direita, o oficial soviético Anatoly Shapiro - Getty Images / Wikimedia Commons / GB77

Era 27 de janeiro, ano de 1945, quando as tropas soviéticas chegaram ao complexo de campos de extermínio de Auschwitz, na Polônia. O princípio do fim da Segunda Guerra Mundial, que perduraria por mais alguns meses.

As primeiras impressões deAnatoly Shapiro, o primeiro oficial do Exército soviético a entrar no local, nos dão uma ideia da dimensão do horror presenciado: "Havia um cheiro tão forte que era impossível aturar por mais de cinco minutos. Meus soldados não conseguiam suportá-lo e me imploraram para que fôssemos embora. Mas tínhamos uma missão a cumprir".

"Vimos algumas pessoas de pé em roupas listradas — eles não pareciam humanos. Eram pele e osso, somente esqueletos", disse o ucraniano em entrevista ao jornal New York Daily News, no ano de 2005.

'Não tínhamos a menor ideia'

Shapiro, então com 32 anos de idade, foi o responsável por abrir os portões do principal campo de concentração nazista. Na época, seu batalhão libertou os primeiros 500 prisioneiros, embora ninguém soubesse previamente sobre a existência do local.

Uniforme de um sobrevivente exposto no Museu Judaico de Londres / Crédito: Getty Images

"Não tínhamos a menor ideia da existência daquele campo. Nossos superiores não disseram coisa alguma sobre ele", disse o militar durante a entrevista, que foi concedida meses antes de sua morte. "Quando dissemos a eles que o Exército soviético os havia libertado, eles sequer reagiram. Não conseguiam falar ou mesmo mexer a cabeça".

"Não tinham calçados. Seus pés estavam envoltos em trapos. Era janeiro e a neve estava começando a derreter. Até hoje não sei como conseguiram sobreviver", relatou.

Mulheres e crianças

Segundo informações do portal BBC, em outra ocasião, o ex-comandante forneceu detalhes sobre os alojamentos encontrados pelos soviéticos. 

"Quando chegamos ao primeiro pavilhão, estava escrito que era para mulheres. Entramos e vimos uma cena horrível", disse ele à Rádio Nacional de Israel. "Mulheres desnudas e mortas jaziam perto da porta. Suas roupas tinham sido removidas pelas sobreviventes. Havia sangue e excrementos pelo chão".

Pessoas que foram libertadas pelos soviéticos no dia 27 de janeiro de 1945 / Crédito: Domínio Público / Memorial e Museu de Auschwitz

"Havia apenas duas crianças vivas. E elas começaram a gritar 'Não somos judias! Não somos judias'. Elas eram judias, mas estavam com medo de serem levadas para as câmaras de gás. Nosso médicos as tiraram dos alojamentos para serem limpas e alimentadas", contou.

Pessoas morreram posteriormente

Porém, infelizmente, mesmo pessoas que foram libertadas e que receberam cuidados acabaram morrendo posteriormente. 

"Abrimos as cozinhas e preparamos refeições leves. Algumas das pessoas morreram porque seus estômagos não podiam mais funcionar normalmente", disse Anatoly.

"Estávamos furiosos e nossa ira estava especialmente voltada para os alemães. Os soldados queriam matar todos. Tivemos que explicar que nem todos os alemães eram fascistas e nem todos responsáveis pelas atrocidades cometidas pelos nazistas"

Experimentos com seres humanos

Shapiro também contou à fonte que os alemães haviam destruído tudo relacionado aos experimentos com seres humanos que fizeram no campo de concentração, levando consido até mesmo pacientes.

Bloco 10, onde eram feitos os experimentos com seres humanos / Crédito: Wikimedia Commons / VbCrLf

"Em 18 de janeiro, os alemães reuniram todas as pessoas que conseguiram e as obrigaram a marchar nuas e famintas para um outro campo de concentração. Nossos serviços de inteligência estimaram que eram 10 mil pessoas. Nenhuma delas sobreviveu. Todas morreram na estrada".

Condecorações

Durante a guerra, o oficial recebeu uma série de condecorações. Anos mais tarde, em 2006, ganhou uma homenagem póstuma: foi nomeado pelo então presidente ucraniano, Viktor Yushenko, com a mais alta honraria do país. 

Antes de morrer, o ucraniano fez a seguinte declaração: "Se pudesse enviar uma mensagem para as próximas gerações, ela seria que não permitissem novamente o que aconteceu".