Considerado o pior monarca da história da Inglaterra, Henrique VIII se sentiu arrependido e pediu misericórdia de Deus em últimos anos de vida, sugere estudo
por Fabio Previdelli
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Publicado em 27/06/2023, às 14h02 - Atualizado em 30/06/2023, às 10h14
Henrique VIII é considerado o pior monarca da história da Inglaterra. O título não é para menos, afinal, o monarca não só foi responsável por dividir seu país religiosamente como também possui uma vida amorosa um tanto quanto conturbada — decapitando alguma de suas esposas, como Ana Bolena.
+ De onde vem a fama de Henrique VIII como pior rei da Europa?
Apesar de sua fama, sendo retratado como uma espécie de ogro, um novo estudo sugere um Henrique VIII diferente: muito mais vulnerável em 'ansioso' em seus últimos anos de vida. O rei era atormentado pelo temor de Deus — provavelmente devido aos seus inúmeros erros.
Esses registros fazem parte de uma cópia de um livro de orações usada pelo rei Tudor na fase final de sua vida. Nos escritos foram encontrados marcações distintas ao lado de passagens sobre piedade, por exemplo.
O achado pode ajudar a entender a mente do monarca, que estava provavelmente ocupada com pensamentos de 'sofrimento físico, pecaminosidade e sabedoria divina', bem como o perdão de Deus, pois sua saúde piorou rapidamente.
As marcações foram feitas pelo próprio Henrique VIII em um livro de orações encontrado na Biblioteca Wormsley perto de High Wycombe, chamado 'Salmos ou Orações' — publicado anonimamente por sua sexta e última esposa, Catherine Parr, em 1544.
O novo estudo, publicado na revista Renaissance Quarterly, foi conduzido por Micheline White, professora associada de literatura inglesa na Carleton University, no Canadá, que analisou as marcações que podem ser uma surpresa para muitos.
"Não é o que poderíamos esperar", disse em entrevista ao The Times. "Temos a tendência de pensar que Henrique é muito confiante e exerceu sua autoridade impunemente, mas nessas anotações em particular vemos traços de um monarca bastante ansioso."
A professora estudou duas cópias de 'Salmos ou Orações', uma já conhecida por pertencer a Henrique VIII, que está na Coleção Elton Hall em Cambridgeshire. O outro livro faz parte do acervo da Wormsley, e até hoje permaneceu desconhecido dos estudiosos — embora White esteja convencida de que a cópia já pertenceu ao rei.
Na obra, a professora encontrou as chamadas manículas — marcas manuscritas em forma de mão com o dedo indicador estendido em um gesto de apontar. Essas marcações são idênticas às de outros livros conhecidos que pertenceram ao Tudor.
"Eu demonstro que uma cópia na Biblioteca de Wormsley também tem marcações e argumento que há boas razões para acreditar que elas foram feitas por Henrique", diz a pesquisadora.
Na cópia do acervo de Wormsley existem oito manículas e também três trevos — um padrão de três pontos, usado de forma semelhante para marcar seções notáveis.
Uma manícula foi desenhada ao lado de uma passagem que diz: "Afasta de mim as tuas pragas, pois o teu castigo me fez débil e fraco". A marcação continua: "Pois quando tu castigas um homem por seus pecados, tu o fazes aos poucos consumir e definhar".
Outra marcação foi gravada ao lado das seguintes palavras: "Afasta de mim tua ira, para que eu saiba que tu és mais misericordioso comigo do que meus pecados merecem."
Enquanto isso, outro trecho, agora marcado por um trevo, aponta que o orador teme que seus pecados 'farão com que Deus o abandone'. Diz: "Ó Senhor Deus, não me desampares, embora eu não tenha feito bem aos teus olhos."
"Em maio de 1544, o embaixador imperial, Eustace Chapuys, disse ao Sacro Imperador Romano que, além de sua 'idade e peso', Henrique tinha 'as piores pernas do mundo', mas que 'ninguém ousaria dizer isso a ele'", aponta a professora.
"Henrique pode ter sido reticente sobre seus problemas médicos na frente de seus súditos e aliados militares, mas nas margens do livro de Parr ele se envolveu frontalmente com alguns fatos desagradáveis", prossegue. "Ele era o monarca da Inglaterra divinamente ordenado, mas seu corpo envelhecido e pecaminoso era 'débil e fraco', e embora ele acreditasse que suas ações eram justas, ele também acreditava que Deus enviou a doença como punição e poderia abandoná-lo".
Ao marcar esses versos no livro de Parr, Henrique confrontou a terrível verdade e revelou-se um monarca exemplar ao responder à crise implorando a Deus para 'desviar' sua raiva e estender a misericórdia", finaliza.
