Após 35 anos da volta ao mundo, o copiloto Dick Rutan, morreu no último dia 3, aos 85 anos, em um hospital em Coeur d'Alene, Idaho
Gabriel Marin de Oliveira Publicado em 06/05/2024, às 14h44
Burt Rutan ficou assustado quando viu que o avião que havia projetado estava tão carregado de combustível e que as asas se arrastavam pelo chão enquanto ele taxiava pela pista. Rapidamente, ele pegou o rádio para avisar seu irmão mais velho, o piloto, Dick Rutan. Porém, Dick nunca ouviu a mensagem.
Nove dias e três minutos depois, Dick e Jeana Yeager, sua copiloto, completaram um dos maiores marcos da história da aviação: a primeira volta ao mundo sem escalas ou abastecimento.
Dick Rutan, piloto condecorado da guerra do Vietnã, morreu na noite da última sexta-feira, 3, aos 85 anos, em um hospital em Coeur d’Alene, Idaho, com seus parentes ao lado.
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Segundo seu amigo Bill Whittle, em relato ao The Guardian, ele morreu com seu próprio consentimento, quando decidiu não passar uma segunda noite respirando por aparelhos de oxigênio, após sofrer uma grave infecção pulmonar.
Ele tocava um avião como alguém toca um piano de cauda”, disse Burt sobre seu irmão, que era frequentemente descrito como tendo um braço de veludo por conta de seu estilo suave de voar.
Burt Rutan ainda disse que sempre adorou a ideia de projetar aviões e ficou fascinado com a possibilidade de uma nave que pudesse dar a volta ao mundo. Dick era igualmente apaixonado por aviação. O projeto desta nave durou seis anos.
Durante os testes do Voyager, o avião leve de grafite, Burt havia muito com o que se preocupar. Isso porque houve falhas mecânicas, onde qualquer uma das quais teria sido desastrosa num oceano distante.
Quando totalmente carregado, o avião não aguentava a turbulência. Por último, havia também a questão de como os pilotos conseguiam suportar um voo tão longo dormindo tão pouco.
Mas Burt disse que seu irmão tinha um otimismo em relação a ele que fez todos acreditarem. “Dick nunca duvidou que meu projeto realmente funcionaria, mesmo com pouca gasolina no tanque”, disse.
Então, no dia 14 de dezembro de 1986, pouco depois das 8h, a Voyager partiu da base aérea de Edwards, na Califórnia. Burt disse que, com todo aquele combustível, as asas tinham apenas alguns centímetros de folga. Dick não conseguiu ver quando eles começaram a se arrastar pela pista, mas no momento em que seu irmão ligou pelo rádio, o copiloto Yager deu um relatório de velocidade, abafando a mensagem.
“Foi ai que o braço de veludo realmente apareceu”, disse Burt. “Ele lentamente trouxe o manche para trás e as asas dobraram-se, cerca de 30 pés nas pontas das asas e ele decolou suavemente”.
Quando a volta foi completa, eles voltaram para serem recebidos como heróis enquanto milhares de pessoas se reuniam para testemunhar o desembarque. Tanto os irmãos Rutan, como Yeager foram premiados com medalhas de Cidadãos Presidenciais pelo Presidente Ronald Reagan.
Tivemos a liberdade de perseguir um sonho”, disse Dick Rutan na cerimônia.
Richard Glenn Rutan nasceu em Loma Linda, Califórnia. Ele entrou na Força Aérea dos EUA ainda adolescente, voou em mais de 300 missões de combate durante a guerra do Vietnã. Ele fazia parte de um grupo de elite que permanecia acima das posições antiaéreas inimigas por horas a fio.
Ele sobreviveu a duas saídas forçadas do avião, uma vez quando seu F-100 Super Sabre foi atingido por fogo inimigo sobre o Vietnã; e uma segunda vez quando estava estacionado na Inglaterra e o mesmo tipo de avião teve uma falha mecânica. Aposentou-se da Força Aérea com a patente de tenente-coronel e passou a trabalhar como piloto de testes.
Burt Rutan disse que seu irmão estava sempre tendo aventuras, como aquela vez em que ficou preso no Polo Norte por alguns dias, quando o biplano russo em que ele estava afundou no gelo.
Outro recorde que Dick Rutan estabeleceu foi em 2005, quando voou cerca de 16 quilômetros em um avião movido a foguete lançado do solo em Mojave, Califórnia. Foi também a primeira vez que o correio dos EUA foi transportado por um avião desse tipo.
Greg Morris, presidente da Scaled Composites, empresa fundada por Burt Rutan, disse que conheceu Dick quando ele tinha cerca de sete anos. Ao longo dos anos, sempre o achou generoso e acolhedor.
“Maior que a vida, em todos os sentidos da palavra”, disse Morris, também ao The Guardian, “Qualquer uma dessas contribuições tornaria uma lenda na aviação, mas todos eles juntos, em uma pessoa, é simplesmente incrível”.
Whittle disse que Rutan foi muito corajoso em suas últimas horas no hospital: tranquilo, calmo e brincando com eles sobre o que poderia acontecer após a morte.
Ele é o maior piloto que já existiu”, disse Whittle.
Dick Rutan deixa sua esposa — com quem era casado há 25 anos, Kris Rutan —; as filhas Holly Hogan e Jill Hoffman; e os netos Jack, Sean, Noelle e Haley.
