A intensa mineração na cidade de Congonhas, em Minas Gerais, está afetando a saúde da população, o meio ambiente e até mesmo as estátuas históricas de Aleijadinho
Maria Paula Azevedo, supervisão de Ingredi Brunato Publicado em 23/08/2023, às 14h47
A qualidade do ar está piorando ao redor do mundo, afetando a saúde das pessoas e o meio ambiente, mas uma outra consequência foi avistada em Congonhas, Minas Gerais. Em razão da intensa mineração que ocorre na cidade, as estátuas históricas de Aleijadinho estão se deteriorando rapidamente.
As esculturas confeccionadas entre 1800 e 1805 são chamadas de “Os Doze Profetas”, e podem ser encontradas no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Ao se observar as estátuas, é possível ver que a poeira oriunda da mineração está corroendo as obras de arte.
Conforme repercutido pelo G1, durante o programa Cidades e Soluções, o professor Daniel Neri da IFMG esclareceu como a poeira afeta as obras de Aleijadinho e os moradores da região:
Santuário que tem obras de arte de valor incalculável, como os profetas de Aleijadinho que estão carcomidos pela ferrugem e a gente vê que essas obras hoje estão perdendo as suas características originais, degradando por causa da poeira que além de atacar fisicamente, quimicamente a estrutura da pedra sabão, provoca inúmeros males à saúde das pessoas aqui em Congonhas”, destacou Daniel Neri ao Cidades e Soluções.
Além da deterioração vista nas esculturas de Aleijadinho, a população regional também sente os impactos da mineração, especialmente as crianças, como destacado por Antônio Carlos Andrade:
Tem que haver um meio de eliminar essa poeira porque essas crianças que estão vindo hoje, já tem tantos problemas e ainda tem que encarar essa poeira cada vez mais", afirmou Antônio Carlos ao Cidades e Soluções.
Sandoval Souza, especialista em mineração, também destacou que o problema não é o vento e sim os constantes ataques à natureza:
A culpa não é do vento. Vento sempre existiu na Terra, né? O problema é que a gente está destruindo. A gente está tirando a vegetação. Muitas dessas áreas onde tem minas aqui hoje era mata atlântica ou cerrado, ou zona de transição, ou nosso campo de altitude. Isso aí tudo foi dizimado, então 40% do território de Congonhas, hoje ele está praticamente em área desnuda", esclareceu Souza ao programa.
Em nota, a empresa CSN Mineração, responsável pela exploração na cidade de Congonhas, afirmou que mantém um compromisso com a preservação do meio ambiente e com a saúde da população local. A CSN também disse que não é responsável pelo estado em que as estátuas de Aleijadinho se encontram:
A CSN Mineração reforça que o cuidado com o meio ambiente e o respeito às comunidades são valores inegociáveis para a Companhia. Já sobre a questão da conservação dos profetas, refutamos qualquer impacto das nossas operações sobre estas. Cabe destacar que são esculturas históricas expostas à ação do tempo, agentes biológicos, como fungos e líquens, que sem a devida conservação podem sofrer um desgaste natural. Cabe ao poder publico a prestação desses bens.”, disse a empresa em um comunicado.
