O texto do antigo cientista grego havia sido impresso debaixo de um manuscrito em latim, permanecendo perdido por séculos
Eduardo Lima, sob supervisão de Ingredi Brunato Publicado em 10/04/2023, às 13h09 - Atualizado em 13/04/2023, às 09h40
Um time de pesquisadores decifrou um antigo manuscrito que provavelmente foi escrito por Cláudio Ptolomeu, o cientista grego que teve contribuições pioneiras nas áreas da astronomia, matemática, geografia, cartografia e teoria musical. O texto foi escrito durante o 1º século d.C., e só foi decifrado mais de 200 anos após ser encontrado pela primeira vez.
Os escritos, que estavam em grego, tendo sido feitos sobre um pergaminho de couro, foram descobertos em 1819 pelo cardeal católico Angelo Mai, que era um estudioso de manuscritos antigos. Ele encontrou esse na biblioteca da Abadia de Bobbio, no norte da Itália.
Cientistas e estudiosos da Universidade de Sorbonne (em Paris) e da Universidade de Nova York conseguiram decifrar grande parte do conteúdo do texto, que estava escondido debaixo de outra obra, em latim, escrita no mesmo documento. O estudo que detalha a descoberta foi publicado no dia 9 de março, no periódico científico Archive for History of Exact Sciences.
O principal suporte para a escrita no ocidente durante muito tempo foi o pergaminho, que vinha do couro de animais. Por causa dessa origem, esses papéis primitivos eram caros, sendo reutilizados com o tempo.
Foi o que aconteceu com esse manuscrito de Ptolomeu, que acabou tendo um texto de teologia em latim escrito por cima. Para piorar, alguém tentou limpar o documento, deixando manchas marrons na página.
A tentativa de limpeza foi realizada pelo próprio Angelo Mai, tentando ler o texto original, o que deu certo em algumas páginas e bem errado em outras. O método moderno se provou mais garantido, usando imagens multiespectrais, que são diversas fotos de um mesmo objeto com diferentes comprimentos de ondas eletromagnéticas, que podem ajudar a enxergar uma escrita específica mais do que as outras.
Assim, os pesquisadores conseguiram ler mais da metade do texto do astrônomo nascido em Alexandria, no Egito. A maior parte do escrito consistia em um manual de Ptolomeu explicando como construir um "meteoroscópio", ferramenta para estudar as estrelas.
Como a primeira e a última página se perderam, não é possível ter certeza se o autor é realmente Ptolomeu. Porém, segundo o site de divulgação científica LiveScience, um estudo do vocabulário mostra similaridades enormes com o mestre grego, usando frases muito específicas à sua obra.
