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Notícias / Coreia do Norte

Torturas, gulags e fome: Filme expõe brutalidade com desertores da Coreia do Norte

Documentário 'Beyond Utopia: Escape from North Korea' mostra detalhes da vida de quem desesperadamente deixou o país comandado por Kim Jong-Un

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 31/01/2024, às 13h33

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Cena de 'Beyond Utopia: Escape from North Korea' - Dogwoof
Cena de 'Beyond Utopia: Escape from North Korea' - Dogwoof

Um país fechado e sem muita informação de seu mundo interno, a Coreia do Norte vive aquém da nossa realidade. Embora pouco se saiba sobre a nação comandada por Kim Jong-Un, o documentário 'Beyond Utopia: Escape from North Korea' mostra a face cruel que assombra aqueles que tentam deixar desesperadamente a península. 

Conforme repercutido pelo Daily Mail, o documentário de Madeleine Gavin mostra detalhes horríveis dos gulags de Jong-Un, além de revelar até onde as pessoas são capazes de ir em busca de deixar o regime — cheio de fome, mergulhado em uma crise econômica em desenvolvimento e com sanções internacionais paralisantes.

+ Em imagens: O museu dos horrores da Coreia do Norte

Os brutais relatos

Em 'Beyond Utopia: Escape from North Korea', um desertor relata que não conseguiu escapar em uma de suas tentativas e acabou sendo detido. Por conta disso, foi torturado por nove meses, além de passar fome a ponto de pesar apenas 35 quilos. 

Quando decidiu 'confessar' ser um espião estrangeiro — algo que não era, mas o fez só para escapar da tortura —, o sujeito foi levado para um campo, onde tinha que subir uma colina todos os dias para derrubar árvores. Acontece que os tocos cortados eram empurrados morro abaixo para acertarem os outros prisioneiros que subiam a colina, o que os deixavam com ferimentos terríveis ou até mesmo os matava. 

Seus membros foram quebrados e intestinos vazaram de suas feridas [...] quando os corpos se decompuseram, eles se fundiam", apontou aterrorizado. 

Entre outras histórias contadas no filme de Madeleine Gavin está a de Soyeon Lee, uma mãe desesperada para se reunir com seu filho de 17 anos que ela teve que abandonar quando desertou. 

'Beyond Utopia: Escape from North Korea' também acompanha uma família de cinco pessoas que fugiu pela China, Vietnã, Laos e Tailândia antes de finalmente encontrarem refúgio na Coreia do Sul. Imagens feitas por seus telefones documentam a jornada perigosa.

Cena de 'Beyond Utopia: Escape from North Korea' de gravações feitas por família de fugiu da Coreia do Norte/ Crédito: Dogwoof

Uma figura por trás de muitas destas histórias é a do pastor Kim Seongeun, que há mais de duas décadas ajuda quem deseja deixar o país. Nascido em Seul, na vizinha sul-coreana, ele já ajudou mais de mil pessoas a escaparem por sua organização de 'ferrovia subterrânea', a Caleb Mission Church. Por outro lado, também já se deparou com inúmeros cadáveres inchados flutuando no rio Tumen após uma tentativa de fuga fracassada.

Seongeun explica que a maioria dos desertores evita cruzar diretamente para a Coreia do Sul, visto que a fronteira está repleta de dois milhões de minas terrestres para impedir que alguém deixe o Norte. Assim, a alternativa é atravessar os rios Yalu ou Tumen, que substituem a fronteira com a vizinha China.

Sinto-me emocionalmente exausto só de me preocupar com isso. A parte mais cansativa da viagem é termos que atravessar ilegalmente a selva", relatou no documentário. 

Na fronteira, os desertores encontram intermediários que os guiam para a liberdade. Entretanto, alguns acabam sendo influenciados por recompensas mais elevadas, segundo o Pastor Kim

'Beyond Utopia' seguiu desertores tentando deixar a Coreia do Norte pouco antes da pandemia, sendo a documentação mais recente desde que o país fechou suas rotas de saída. 

No já citado caso de Soyeon Lee, que desertou dez anos antes, ela acabou deixando para trás seu filho pequeno. Lee fez parte do exército norte-coreano e deixou a família em busca de melhores condições de vida. Durante sua fuga, porém, acabou sendo pega pela polícia e enviada para um campo de prisioneiros — de onde escapou após dois anos. 

Seu maior desejo é que seu filho Han Jeong-Cheong, de 17 anos, também desertasse para a Coreia do Sul. Assim, ela organizou a fuga com o pastor Kim, mas o plano deu errado depois que intermediadores não confiáveis o entregaram às autoridades.  

O adolescente foi enviado para um campo de prisioneiros após ser torturado, interrogado e espancado severamente a ponto de não conseguir comer nada. "Na Coreia do Norte, eles chegarão ao ponto de matá-lo. Eventualmente, meu filho vai implorar que acabem com sua vida", disse ela. 

Em entrevista ao Independent Lens, Soyeon contou que seu filho permaneceu no campo de presos políticos onde, desde então, "não lhe é dada qualquer comida, é forçado a trabalhar e sujeito a todo o tipo de espancamentos e agressões".

Inicialmente, a mulher hesitou em participar do documentário, pois temia que seu filho poderia sofrer com as consequências. "Decidi que se a voz de uma mãe que tenta salvar o seu filho se tornasse conhecida pela comunidade internacional [...] e se mais pessoas viessem para o meu lado, soubessem das violações dos direitos humanos na Coreia do Norte e criticassem a Coreia do Norte a uma só voz, teria um impacto".

Por fim, Soyeon Lee acrescentou que se tivesse que fazer tudo de novo, levaria um veneno consigo, pois seria "melhor morrer" do que viver em um campo de concentração.