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Matérias / Estados Unidos

436 pessoas vendidas: Há 164 anos, acontecia o Grande Leilão de Escravos

A freira de escravos marca a história dos Estados Unidos com uma mancha pré-Guerra Civil

Wallacy Ferrari

por Wallacy Ferrari

wferrari@caras.com.br

Publicado em 05/03/2023, às 12h00

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Ilustração retrata Grande Leilão de Escravos - La Salle University Digital Commons
Ilustração retrata Grande Leilão de Escravos - La Salle University Digital Commons

No início de março do ano de 1859, especificamente entre o segundo e terceiro dia daquele mês, um evento no hipódromo de Ten Broeck, lugar comumente frequentado para exibições de corridas de cavalos, na Geórgia, EUA, recebia centenas de pessoas em uma grande estrutura cuidadosamente preparada para a ocasião.

Se engana, no entanto, quem acredita que se tratava de um festejo; a ocasião foi, na verdade, a data do 'Grande Leilão de Escravos', organizado pelo proprietário agrícola Pierce Mease Butler, sendo a maior venda individual de pessoas escravizadas na história dos Estados Unidos, marcando a data com uma mancha histórica.

Apesar de chocante, o massivo número de vendas atraiu até mesmo a imprensa do norte do país para cobrir o leilão, que resultou no arremate de 436 homens, mulheres e até mesmo crianças e bebês decorrentes dos intercursos de escravos comandados por Pierce.

Anúncio do Grande Leilão de Escravos em jornal / Crédito: Wikimedia Commons / Domínio Público

O homem, major que herdou a maioria de suas propriedades do avô, como registrou o escritor Kristopher Monroe ao portal The Atlantic, era um dos maiores donos de escravos do país, inclusive um dos signatários da Constituição local, assinando a autoria da chamada 'Cláusula do Escravo Fugitivo', integrada no Artigo 4 da carta magna no passado.

Tal medida assegurava, até a abolição da escravidão, na 13ª Emenda, que todo escravo que escapasse seria classificado como foragido e devolvido ao seu mestre, mesmo que no texto, a palavra "escravo" era maquiada com o termo "trabalhador".

Data trágica

Segundo a biógrafa Anne C. Bailey na obra 'The Weeping Time', o evento chocante foi autorizado por Pierce devido à necessidade de repor seu patrimônio após acumular uma dívida significativamente alta decorrente de seu vício em jogos de azar. Mesmo assim, ainda ficou com alguns, comercializando parte dos que comandava.

De acordo com a Smithsonian Magazine, a mancha se torna ainda maior quando os registros de histórias individuais são resgatados; diversas famílias de escravizados foram separadas nas vendas, sendo levados por seus compradores imediatamente a pontos diferentes do país, em uma época onde o contato externo era impossibilitado.

Consultado pela revista, o historiador Kwasi DeGraft-Hanson, da Emory University, levantou a história de um rapaz chamado Jeffrey, de 23 anos, que implorou que seu comprador levasse também sua esposa, sem sucesso.

A mulher, identificada como Dorcas, não pôde acompanhar o amado por ter sido arrematada em um 'pacote de familiares', sendo levada como integrante de uma família de quatro escravos.

Dada a incerteza da escravidão, com a iminência de perda iminente e futuros imprevisíveis, Jeffrey sentiu que sua melhor chance era ajudar a intermediar a venda de sua namorada e sugerir seu valor de mercado”, explicou Kwasi.